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Ensaios-->Notícia de jornal velho: Sarney, um implacável farsante -- 29/06/2009 - 11:36 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
http://www2.fpa.org.br/portal/modules/news/index.php?storytopic=1568

Sarney - Um implacável farsante

em 30/05/1995

Para Sarney, a conquista da Presidência da República deveu-se acima de tudo ao Acaso, servido pelas bactérias que dizimaram o presidente Tancredo Neves

por Walter Rodrigues *

A primeira atitude de José Sarney quando Pedro Collor denunciou o Esquema PC foi ligar para o ministro-chefe da Casa Civil, Jorge Bornhausen, e pediu-lhe que transmitisse - o quê? - sua solidariedade ao presidente Fernando Collor. Ligou e registrou o telefonema no seu próprio jornal, O Estado do Maranhão, de 28 de maio de 1992.

Magnânima atitude, considerando-se que, durante a campanha, Collor o chamara em rede nacional de corrupto e irresponsável' e prometera enfiá-lo 'na cadeia'. Ofender um presidente desse jeito nem Lacerda nas suas mais impiedosas investidas contra Vargas e João Goulart, mas Sarney, o tolerante, tinha perdoado. E rápido, três meses depois da eleição, já recebia amavelmente o sucessor, no seu sítio de São José de Pericumã, nos arredores de Brasília. O visitante quis pedir desculpas:

- Numa campanha cometem-se excessos...

- Nesta casa o senhor jamais se constrangerá - dispensou o anfitrião.

Collor, diante disso, depositou na mesa suas urgentes necessidades: aumento geral das tarifas públicas e feriado bancário. Com o tarifaço, a hiperinflação subiria às nuvens, e Sarney, no conceito popular, desceria a camadas ainda mais fundas do inferno. Já o feriado o tornaria cúmplice do seqüestro da poupança. Mas tudo bem. Sarney só queria ajudar. Daí por diante teria conversas 'deliciosas', na expressão do senador Jarbas Passarinho.

Um ano depois era Sarney quem apelava a Collor. Candidato a senador pelo PMDB do Amapá, a convenção partidária cometera a bisonice de formar a chapa com um só suplente, quando a lei, exige dois. Como não havia mais prazo para completar a chapa, Sarney já era. Decisão do TSE, que entretanto caberia ao Supremo examinar.

No Maranhão as, pesquisas sugeriam tranqüila vitória do collorido senador João Castelo,(PRN) sobre o deputado federal Sarney Filho, o Zequinha, na eleição para governador. Tendo buscado refúgio no Amapá para escapar à disputa pelo Senado com o ex-governador Epitácio Cafeteira, favoritíssimo, Sarney via-se agora ameaçado de ficar sem nada. 'Se não for candidato no Amapá sou um homem acabado', choramingou.

Mas o que o presidente Collor tinha a ver com isso? Tinha que o primo do presidente, desembargador Marco Aurélio Mello, era justamente o relator do processo de Sarney no Supremo. O veterano senador Alexandro Costa (PFL-MA), influente como poucos no Judiciário, andara conquistando corações e mentes para a causa de Sarney no tribunal. Mas sem o parecer favorável do relator ficava difícil.

Para encurtar a conversa, Sarney obteve o que queria. Vistos os autos etc., o Supremo autorizou o PMDB do Amapá a fazer uma nova convenção, fora do prazo (ou com prazo reaberto, dá no mesmo), somente para meter o segundo suplente na chapa. E a lei permitia isso? Bem, quem entende de lei é o Supremo. Sarney só entende de política.

Entende tanto que, no devido tempo, substituiu o inviável Zequinha pelo senador Edison Lobão (PFL) que acabou batendo Castelo no segundo turno, graças à transfusão de praticamente 100% dos votos da esquerda maranhense. Oficialmente, os partidos de esquerda tinham pregado o voto nulo, porém baixinho, só de agá. Queriam mesmo era vencer 'o candidato de Collor'.

Collor, àquela altura, já não era o mesmo, dados o arrocho salarial, o recrudescimento da inflação e os primeiros sinais de bandalheira na República das Alagoas. Ainda assim ninguém arrancava uma palavra do novo senador amapaense contra ele. Justificava-se alegando que um ex-presidente não deve comentar os atos do sucessor, como provaria o exemplo do general João Figueiredo em face do próprio Sarney. Conversa fiada, é claro, porque Figueiredo não se havia candidatado a nada após a Presidência, tinha até pedido que o esquecessem, ao passo que Sarney era senador, e se um senador não opina sobre o governo federal, vai opinar sobre o quê? O argumento servia, entretanto, para evitar atritos com o Planalto - e para manter em mãos sarneysistas a maioria dos cargos federais do Maranhão. Sem falar de posições estratégicas em outros estados, como a notória e influente Delegacia da Receita Federal de São Paulo, tão eficaz no combate à sonegação quanto a defesa antiaérea do Iraque na Guerra do Golfo.

Entre o telefonema a Bornhausen e a destituição do presidente, Sarney conduziu-se com tanta habilidade - deslizando um pouquinho por dia, milimetricamente, da 'solidariedade' para a oposição, tendo sempre o cuidado de manter-se na retaguarda distante dos deputados Roseana Sarney e Sarney Filho - que quando Collor deu por si não havia mais tempo para represálias, tipo tomar os cargos. O impeachment batia à porta e a 'musa do impeachment era Roseana. (Quem assim a batizou foi o deputado federal Roberto Cardoso Alves, do PMDB de São Paulo, celebrizado pela versão herética, do 'É dando que se recebe', de S.Francisco, mas os sarneysistas, para melhorar o pedigree do título, costumam atribuir a autoria ao deputado José Genoino, do PT).

E aqui chegamos ao gran finale. Collor, desesperado, volta desajeitadamente ao discurso de campanha, para acusar Sarney e a filha de corrupção. Ninguém mais lhe dá ouvidos. É aí que Sarney cobra o novo e o atrasado, fulminando implacavelmente o moribundo. Nada como um ano atrás do outro.

O caso Collor ilustra perfeitamente o estilo de Sarney, talvez a fera mais astuta e perigosa de selva política brasileira. Tanto voa quanto galopa, mergulha e rasteja, dependendo da conjuntura. É um mestre consumado na arte de se fingir de morto para na hora certa assombrar as almas do cemitério.

Numa entrevista sobre as relações do Jornal do Brasil com o poder, o superintendente do jornal, Nascimento Brito, contou como Figueiredo, Collor, Moreira Franco, Brizola e outros reagiam às críticas. E o Sarney?

- Esse reage pelas costas - resumiu.

Nem sempre, mas o próprio Sarney admite ojeriza ao combate direto e franco. 'Quem dá murro na mesa ou quebra a mão ou quebra a mesa', costuma repetir. Ou: 'A gente não passa recibo: toma nota'. Ou: 'Não conheço cemitério de covarde, nem valente de cabelo branco'. Poderia ser dele a frase: 'Mais vale escapar fedendo do que morrer cheiroso', tanto mais que fedorento pode adiante dar o troco. Ou vingar-se obtendo uma retratação, como ocorreu em 1985, quando o ex-deputado Vieira da Silva (PDS-MA), dono de um canal de televisão em São Luís, excedeu-se num pronunciamento ao vivo, classificando os filhos de Sarney de 'traficantes de cocaína'. Primeira reação de Sarney: acionou o Dentel e, sem fazer alarde, tirou a emissora do ar por quinze dias. Segunda: quatro anos depois, em 1989, mandou incluir Vieira entre os agraciados com a 'honra ao mérito' dos 30 anos do jornal O Estado do Maranhão - Roseana entregou a medalha. Terceira: em 1992, conseguiu que Vieira da Silva declarasse, de novo ao vivo, que se encontrava 'doente dos nervos' quando insultou os filhos de Sarney. Então, tudo bem.

Mesmo admiradores do ex-presidente admitem sua extraordinária capacidade de servir a dois senhores ao mesmo tempo e de pôr-se em condições de confundir a ambos. Quando sobreveio o golpe de 64, por exemplo, ele velejava na ala da esquerda da URN, mais conhecida como 'Bossa Nova'. Todos os bossanovistas foram cassados. Menos ele, que não só escapou à guilhotina como tornou-se o invencível candidato do novo regime ao governo do Maranhão.

Quatro anos depois, na tarde de 13 de dezembro de 1968, o AI-5 o surpreendeu digerindo um maldito banquete oferecido poucas horas antes ao ex-presidente cassado Juscelino Kubitschek, a quem tratara de 'meu presidente'. Quase perde o mandato, mas quem antecipou a festa gastou à-toa: duas ou três cambalhotas depois, lá está ele numa reunião oficial, saudando o general Costa e Silva em nome dos governadores 'revolucionários', enquanto o 'meu presidente' aguardava o exílio na cadeia. Assim foi indo, foi indo, virou presidente da Arena, depois presidente do PDS, depois presidente da República. Hoje é o presidente do Senado, eleito com o decisivo apoio do ex-exilado Fernando Henrique Cardoso.

A conquista da Presidência da República deveu-se acima de tudo ao Acaso, servido pelas bactérias que dizimaram o presidente Tancredo Neves no Hospital de Base de Brasília. Mas lembre-se de que Sarney só sucedeu Tancredo porque era o vice - e foi o diabo passar de presidente do partido da ditadura a candidato a vice pelo velho PMDB da oposição à ditadura. Sobretudo, quando ele acabava de comandar a rejeição à emenda constitucional Dante de Oliveira, que propunha o restabelecimento das eleições diretas para presidente. E ninguém no Congresso ignorava que seu plano inicial, frustrado, era ser vice de outro inimigo, das diretas, o ex-governador Paulo- Maluf.

Na época da Campanha das Diretas, Sarney andava nervoso. O deputado Sarney Filho - vela que ele acendia a Deus - votava com a emenda Dante, porém o povo nas ruas tornava o futuro incerto. 'Estão querendo levar à execração pública os adversários das diretas', protestou nos jornais. 'Por isso voltei, a andar armado, como nos velhos tempos da política do Maranhão.' A despeito de seu horror à bravata, tanto gostou dessa história que resolveu repeti-la numa entrevista posterior à vitória sobre Maluf no Colégio Eleitoral. Só que aí mudou o enredo, situando seu 'momento Ringo' na fase do rompimento com o PDS controlado por Maluf. Ou seja: já não era um revólver contra as diretas, mas sim contra os malufistas. De modo que já nem se pode ter certeza de que esse trabuco existiu algum dia.

Morto Tancredo, Sarney começou governando como quem se desculpa, viajou em seguida pela mágica eleitoral do Plano Cruzado ('desenvolvimento japonês com inflação suíça') e terminou comprando no black um quinto ano de mandato. Sua principal moeda, cambiada pelo ministro Antônio Carlos Magalhães, eram as concessões de canais de rádio e TV, dos quais a grande maioria, no Maranhão, entregou a empresas organizadas pela própria família Sarney, sócios e testas-de-ferro - 'quem parte e reparte não leva a maior parte', ou 'é tolo ou não entende da arte', como se dizia antigamente. Nos bastidores da administração federal, enquanto isso, circulava o genro e assessor especial Jorge Murad Filho, que nem parece com o bigodudo, barrigudo e charutudo PC Farias. Quando Murad e Roseana preparavam o divórcio consumado em 1988, Sarney prorrogou o 'mandato' do genro, plantando nas colunas um aviso à praça: 'Jorginho não é casado somente com Roseana. É casado comigo também'.

No finalzinho do governo, depois de escapar fedendo de uma CPI da Corrupção, Sarney apaixonou-se pela arquitetura. Primeiro, adquiriu em Portugal a Quinta dos Lagos, um paraíso oitocentista de 23.400m2 na região de Cintra, constituído por 'uma casa apalaçada, um pavilhão de caça e terrenos de jardins e hortas'. Quem assim a descreve é o semanário português Ola, em reportagem intitulada - como o romance policial de Eça e Ramalho Ortigão - 'O mistério da estrada de Cintra'. Segundo a repórter Maria do Rosário Lopes, 'o imóvel está registrado em nome de Almonde Securities S.A., sediada no Panamá', cujos fundos seriam, entretanto, geridos na Suíça. Carlos Aguiar, procurador da Almonde, 'negou-sé a prestar esclarecimentos', mas 'a versão de que a Quinta dos Lagos foi comprada pelo presidente brasileiro José Sarney corre na vizinhança'. Até a caseira do palacete, Maria José, sabe que o negócio envolveu 'uns brasileiros, gente importante'. Quem? 'Parece que era o Sarney'.

Como o ex-presidente nunca assumiu publicamente seus domínios ultramarinos, o senador e ex-governador Epitácio Cafeteira (PPR-MA) levou na zombaria: 'Mais feio do que roubar é não poder carregar'. A réplica viria alguns meses depois, na campanha eleitoral do ano passado, quando Sarney inundou o Maranhão com centenas de milhares de cópias de uma reportagem da revista IstoÉ, na qual Cafeteira é acusado de 'carregar' uma frota de carros de luxo e de haver transportado por malote um milhão de dólares de São Luís para o Rio de Janeiro. Detalhe: IstoÉ circulou com uma capa no Maranhão e outra no resto do país. Estranho.

Cafeteira, quando governador, ajudou no segundo grande negócio imobiliário do final do governo Sarney, a captura do Convento das Mercês, monumento artístico-arquitetônico da São Luís do século XVII. Após gastar 9 milhões de dólares na restauração dos 6.500m2 do velho convento da Ordem dos Mercedários, Cafeteira propôs à Assembléia incorporá-lo à Fundação da Memória Republicana, entidade recém-instituída em São Luís com o propósito de favorecer a amizade latino-americana e o intercâmbio luso-brasileiro, e, sobretudo, a estudar 'a instituição da Presidência da República, através dos arquivos do presidente José Sarney'. Só depois de deixar o governo e romper com Sarney é que Cafeteira teria descoberto que o projeto - já então aprovado pela Assembléia e sancionado pelo novo governador sarneysista João Alberto de Sousa - praticamente doava o convento a seu adversário.

Mas bastava ter lido o estatuto. O presidente vitalício da Fundação é o instituidor José Sarney, que também integra e preside o Conselho Curador de treze membros, dos quais outros nove são designados por ele, que ainda detém o voto de minerva - na hipótese muitíssimo improvável de um empate - e, como nunca se sabe, o poder de veto sobre qualquer decisão da maioria...

Só faltava querer ainda que o governo do Maranhão assumisse as despesas do convento, deixando os lucros com a família Sarney. Por isso não se briga: um ex-militar de Sarney na Presidência, o jornalista Fernando César Mesquita, nomeado secretário estadual do Turismo e Meio Ambiente no governo Lobão, celebrou contrato que obriga o estado a pagar as despesas de água, luz, telefone, segurança, asseio e conservação, mais funcionários, em troca do direito de usar as instalações do prédio como centro de convenções, desde que avise com antecedência. Enquanto isso, a Fundação recebe verbas do Orçamento da União, promove espetáculos de música clássica e popular e abriga seus próprios simpósios e congressos - tudo pago. Dois subprocuradores da República insurgiram-se contra a tentativa da Fundação de registrar-se como entidade filantrópica, sem fins lucrativos, já no governo Itamar. Sarney mexeu seus pauzinhos e o registro acabou saindo.

Mas, seria injusto imaginar que Sarney laçou o convento por dinheiro, substituindo a Ordem dos Mercedários pela Ordem dos Mercenários, como diz a piada maranhense. Provavelmente, pensou na glória póstuma, tanto que já mandou construir seu túmulo num pátio interno do convento, com laje de granito guardada por palmeiras imperiais. E batizou de Memorial José Sarney a ala do prédio destinada à guarda de seus livros, discos, quadros, vídeos, fotos e variadas bugigangas, além de toneladas de documentos com que costuma ameaçar os desafetos em circunstâncias especiais.

Muita gente acha engraçado um 'memorial' de vivo - único exemplar no mundo, ao que parece - assim como parece piada que ele tenha se gabado da versão de seu romance Norte das Águas ('Norte das Éguas ', na malícia eqüina dos inimigos), para o turco, o russo e o chinês, entre outros idiomas remotos. Claro que as traduções datam do tempo em que ele era presidente. Claro que o custo da edição francesa, da mesma época, inclui uma comenda Cruzeiro do Sul para o livreiro-editor. Claro o que mais você quiser. Ele é amigo de Jorge Amado, senta ao lado de Garcia Marquez nos simpósios internacionais, toma chá na Academia Brasileira de Letras e escreve semanalmente na Folha de S.Paulo. Você morre de rir quando ele situa as sete pragas do Egito nos tempos de José (e não de Moisés) ou sentencia que 'a paciência é a virtude de saber esperar', assim, como se houvesse inventado a roda, ou ainda quando comete 'raciocínio de seu pensar' e 'expectativas que se esperavam'. E talvez você ache que nem tem graça quando vê esses despautérios preservados na coletânea Sexta-Feira, Folha (Editora Siciliano, São Paulo, 1994, p. 159, 180, 277 e 340). E daí? Vá sugerir ao Frias que acabe com a coluna dele.

0 ex-presidente somente não consegue dobrar São Luís, a Ilha Rebelde dos oposicionistas maranhenses. Na capital ele perde todas. Já no interior, se não vai por bem, vai por mal. No ano passado deu de novo a impressão de que a oposição conquistaria o governo. Até o deputado federal Ricardo Murad, cunhado de Roseana, tinha rompido com ele.

Sarney demoliu os obstáculos um a um. Tomou de assalto o PMDB oposicionista, aliciou o PCdoB, amputou alguns membros do PDT, destroçou o PSD de Murad - esse nem pôde ser candidato. No interior, chamou para si o grupo do ex-prefeito Davi Alves Silva, apontado como chefão do crime organizado em Imperatriz, segunda maior cidade do estado, que reassumira o controle político do município em virtude do assassinato do prefeito oposicionista Renato Moreira (PMDB). 0 inquérito policial apontou como mandante do crime, entre outros do bando de Davi, o vice-prefeito Salvador Rodrigues, que ainda assim assumiu a Prefeitura e nela permaneceu, amparado por estranhíssimas liminares, roubando e apoiando Roseana até depois das eleições, quando foi substituído por um interventor.

A eleição propriamente dita foi presidida pelo desembargador Pires da Fonseca, velho amigo de Sarney, que vestira em público uma camiseta de propaganda do governador Edison Lobão, durante a inauguração da estrada.

'Um momento de emoção', justificou, esclarecendo que a estrada servia à comunidade em que nasceu. No segundo turno, depois de botar quatorze pontos de vantagem sobre Roseana, Cafeteira acabou se afogando numa tempestade de panfletos, notícias de rádio, jornal e televisão, cestas básicas, boatos, pacotes de leite, dinheiro vivo e coação. O mais ousado dos crimes eleitorais, que ajudaram Roseana a vencer por míseros 17 mil votos de diferença, foi a denúncia de seqüestro, homicídio e ocultação de cadáver, formulada contra Cafeteira no Superior Tribunal de Justiça, uma semana antes do pleito. Investigando o episódio, a Polícia Federal descobriu que o morto está vivo e o denunciante é um impostor, sendo falsos os documentos de identidade que levou a um cartório de Fortaleza, em companhia do advogado Miguel Cavalcanti Neto. E quem é esse? Um ex-empregado do jornal de Sarney no Maranhão.

Sarney quer voltar à Presidência da República, se possível com o apoio de Fernando Henrique. Para esse projeto tem no mínimo o consentimento da Rede Globo, de um pedaço da burguesia paulista, de ACM, do lobby da Zona Franca de Manaus, de significativa parcela do Congresso, das grandes empreiteiras etc. Não duvide que ele consiga.


* Walter Rodrigues é jornalista em São Luís do Maranhão.



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