Usina de Letras
Usina de Letras
256 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62152 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10448)

Cronicas (22529)

Discursos (3238)

Ensaios - (10339)

Erótico (13567)

Frases (50554)

Humor (20023)

Infantil (5418)

Infanto Juvenil (4750)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140788)

Redação (3301)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6177)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Ensaios-->Honduras-Cuba: Kerenskismo político e eclesiástico -- 03/09/2009 - 14:47 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
HONDURAS-CUBA: KERENSKISMO POLÍTICO E KERENSKISMO ECLESIÁSTICO

Armando Valladares

O kerenskismo político e o kerenskismo eclesiástico formam neste momento, independentemente das intenções de seus protagonistas, as duas hastes de uma mesma tenaz que comprime a causa da liberdade em Honduras e também na Venezuela, Bolívia e Equador

A América Central e o Caribe vivem uma das situações mais paradoxais de toda sua história: enquanto o 'kerenskismo político' procura de todos os modos dobrar a Honduras anticomunista e empurrá-la para o abismo chavista, o 'kerenskismo eclesiástico' estende suas mãos à Cuba comunista para conservá-la no atoleiro castrista.

A delegação eclesiástica norte-americana. O cardeal O`Malley (d) deu a sagrada comunhão, anos atrás, para o senador abortista Ted Kennedy e participou de seus recentes funerais

Uma importante comissão de eclesiásticos estadunidenses, encabeçada pelo 'moderado' cardeal Sean O`Malley (arcebispo de Boston), e integrada por D. Thomas Wenski (bispo de Orlando, Flórida), D. Oscar Cantu (bispo de San Antonio, Texas), Pe. Andrew Small (encarregado do episcopado norte-americano para as relações com a Igreja latino-americana e caribenha), e o Pe. Jonathan Gaspar, acaba de realizar prolongada visita à ilha-prisão de Cuba, de 17 a 21 de agosto último.

Desde sua chegada à ilha-cárcere, os altos prelados cobraram do presidente Obama a promessa que fizera de um 'novo começo' nas relações dos Estados Unidos com Cuba comunista; acrescentaram que Obama está sendo 'muito lento' em cumprir com a promessa de reconciliação com o regime e recomendaram que 'não se desperdice a oportunidade' de suspender o chamado 'embargo' econômico norte-americano. Não foi em vão que o Granma, órgão oficial do Partido Comunista de Cuba (PCC), apresentou essas notícias de modo quase eufórico [1]. Ao mesmo tempo, a Rádio Vaticana, citando como fonte o secretário da Conferência Episcopal Cubana, D. Juan de Dios Hernández, ressaltou o 'clima de amizade e cordialidade' que imperou no encontro dos altos prelados com Ricardo Alarcón, presidente do Parlamento comunista, insistindo na 'grande cordialidade`' e 'diálogo fraterno' [2] entre os Pastores e o representante dos lobos.

Pouco faltou para o cardeal O`Malley — ele revelou que há 20 anos viaja a Cuba — dizer que viu milagres nas relações entre a hierarquia da Igreja cubana e os ditadores castristas, ao afirmar que existe uma 'notável melhora'. Mas fez silêncio sobre a continuação da perseguição psicológica, política e policialesca contra os fiéis católicos abandonados por seus Pastores, e contra a população em geral.[3]

D. Thomas Wenski (d) defendeu os interesses dos lobos comunistas sem se preocupar com as ovelhas católicas

D. Thomas Wenski, membro do comitê de política internacional da Conferência de Bispos Católicos dos Estados Unidos, pediu explicitamente o levantamento do 'embargo' externo norte-americano, sem dizer uma só palavra sobre a causa do problema cubano, que é o implacável 'embargo' interno, que já passa de meio século, contra a população cubana [4]. O alto prelado invocou também a 'liberdade', não precisamente para os fiéis católicos e o povo escravizado, mas para o intercâmbio entre Cuba e os Estados Unidos, meio com que o regime contaria, para não sucumbir economicamente. Por fim, D. Wenski desejou também que 'ambas as partes', governo estadunidense e regime comunista, cheguem a um entendimento e conciliação, e concluiu que para isso seria preciso que 'escutem seus melhores anjos' [5].

Quem serão os 'anjos' dos tiranos comunistas de Cuba, que D. Wenski ingenuamente invoca como mediadores-iluminadores, se considerarmos que o Papa Pio XI, na sua célebre Encíclica Divini Redeptoris, qualificou o comunismo não somente como 'intrinsicamente perverso', mas também como 'açoite satânico'?

De qualquer maneira, estamos em presença de um dos mais lamentáveis episódios de colaboração comuno-católica com face eclesiokerenskiana, que, do lado norte-americano, remonta às viagens que fizeram a Cuba os 'conservadores' cardeais Law (de Boston) e O`Connor (de Nova York), com suas respectivas entrevistas com o ditador Fidel Castro e posteriores declarações elogiosas em relação a esse tirano. Tudo isso forma parte de uma sucessão de fatos que foram narrados cronologicamente e devidamente documentados em livro editado por cubanos exilados, e que agora alcança sua maior atualidade [6].

O kerenskismo eclesiástico simula ignorar a causa do problema cubano, que é o implacável 'embargo interno' do regime comunista contra toda a população cubana, e dessa maneira desvia a atenção e as críticas para um dos efeitos da instauração do regime comunista na ilha-prisão, o chamado 'embargo externo'. É a triste cena de Pastores que fortalecem os lobos e deixam as ovelhas famintas e indefesas.

Assim também age o kerenskismo político, quando finge ignorar a raiz do problema hondurenho: as reiteradas ações inconstitucionais do destituído presidente Zelaya para tornar Honduras chavista, por meio de eleições populistas à margem da Constituição, de leis e de um sistema eleitoral que lhe permitiriam perpetuar-se no poder e impor o chamado 'socialismo do século XXI', que não é senão um substitutivo do moribundo regime castro-comunista.

O recente informe sobre Honduras feito pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da OEA, que acaba de visitar esse país, é o mais recente exemplo da longa sucessão de parcialidades, marcadas pela indignante política de 'dois pesos e duas medidas', que funde num desprestígio moral ainda maior tanto a OEA quanto os governos dos países que se prestam a essas manobras. Se os membros da CIDH reconhecem o destituído Zelaya como legítimo presidente, esta é mais uma razão para que analisem com honestidade e imparcialidade não somente as alegadas violações de direitos por parte do governo interino, mas sobretudo para que assinalem a causa do problema, radicada nas atitudes inconstitucionais de Zelaya, o verdadeiro e maior responsável pela encruzilhada em que se encontra Honduras, como de maneira análoga os ditadores Castro são os principais responsáveis pela tragédia de Cuba.

Escrevo este artigo horas antes da chegada a Honduras de uma comissão de chanceleres, no momento em que a Corte Suprema de Justiça já emitiu importante pronunciamento, no qual afirma, entre outros pontos, que 'a aplicação do Acordo de San José somente pode ser feita se vinculada com a legislação nacional', e adverte que os processos judiciais já iniciados — por delitos contra a forma de governo, traição à pátria, abuso de autoridade e usurpação de funções — devem ser realizados, caso contrário seria um 'verdadeiro contra-senso que a busca e a realização de acordos no estado de direito se façam violando ou deixando de lado a Constituição e as leis'[7].

O kerenskismo político e o kerenskismo eclesiástico formam neste momento, independentemente das intenções de seus protagonistas, as duas hastes de uma mesma tenaz que comprime a causa da liberdade em Honduras e também na Venezuela, Bolívia e Equador. Inclusive, o chamado 'eixo do mal' somente tem conseguido avançar na América Latina pela complacência e apoio, ora implícito, ora explícito, do 'eixo kerenskista' ou 'eixo da moderação', dos Obamas, Insulzas, Arias e Lulas.

Alexander Fyodorovich Kerensky (1881-1970), um socialista 'moderado', ocupou o cargo de último Presidente da Rússia antes da revolução bolchevista de outubro de 1917, tendo facilitado a tomada do poder por parte do comunismo com sua política de concessões e, segundo alguns historiadores, até de traições. Seu espectro parece ter voltado a rondar as Américas, por onde vaga periodicamente desde que se 'encarnou' no presidente chileno Eduardo Frei Montalva, que pavimentou o caminho para o comunismo allendista e por isto passou para a História com o merecido cognome de 'Kerensky chileno' estampado indelevelmente em sua fronte. Tive a oportunidade de revelar um aspecto desse delicado problema no recente artigo 'Kerenskismo obamista, Honduras e o abismo chavista' [8].

Mas o espectro de Kerensky ronda outros governos e chancelarias importantes das Américas, o que, conforme as circunstâncias, poderia ser tema para futuros artigos-denúncia, quantos sejam necessários, doa a quem doer, embora invariavelmente escritos de maneira respeitosa e documentada. Que a Providência ajude e fortaleça os defensores da liberdade em Honduras, em Cuba e no resto das Américas — mas neste momento crucial especialmente os hondurenhos — dando-lhes o cêntuplo do espírito concedido a David na sua luta desigual contra Golias.

_________

Armando Valladares, escritor e ex-preso político cubano, foi embaixador dos Estados Unidos ante a Comissão de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, durante as administrações Reagan e Bush.

Artigo publicado no diário Las Americas, em Miami, com o título Cuba-Honduras: kerenskismo eclesiástico y kerenskismo político, e no diário El Heraldo, em Honduras, com o título Kerenskismo político y kerenskismo eclesiástico


Tradução: André F. Falleiro Garcia.

Acesse o site SACRALIDADE.




Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui