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Artigos-->VIOLÊNCIA : CAUSAS -- 28/02/2013 - 08:46 (edson pereira bueno leal) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
CAUSAS DA VIOLÊNCIA:



Edson Pereira Bueno Leal, fevereiro de 2013, atualizado em outubro de 2013.





As causas da escalada da violência são inúmeras. É um fenômeno extremamente complexo e multicausal. As vantagens econômicas obtidas, a violência patológica de indivíduos de mente doentia, a desorganização social dos centros urbanos, a pura e simples oportunidade e a exclusão social.

Da mesma forma que a violência é um fenômeno complexo, buscar sua diminuição não é possível com apenas uma medida, é um complexo de ações.

Só a pobreza não explica a criminalidade, como diz o sociólogo Gláucio Ary Dillon Soares, se fosse assim Teresina, a capital mais pobre do Brasil seria também a cidade mais violenta. A maioria dos pobres brasileiros é composta de gente honesta e trabalhadora, que nunca se envolveu com o crime. (Veja, 16.08.2000, p. 11). O Brasil tem cinco a dez vezes mais crimes que Gana, Bangladesh e Paraguai, países mais pobres.

Pesquisa feita pela antropóloga Alba Zaluar na Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, constatou que o índice de pessoas ligadas à criminalidade naquela comunidade é de apenas 1%. (Valor, 13.12.2002, p. 17).

O acelerado processo de urbanização que gerou uma desordenada ocupação caracterizada por extremas carências de infraestrutura e que em razão da migração rural-urbana levou muitos a perderem suas raízes e valores sociais básicos rurais sem ter oportunidade de formação de novos valores na cidade. Os vícios como a álcool e as drogas são potencializados pela aglomeração populacional. Drogas, principalmente as pesadas como crack, estão associadas a crimes violentos e homicídios. Estima-se que 60% dos assassinatos estejam relacionados ao consumo de drogas.

Trabalho feito pelo Lab. Hab. - Laboratório de Habitação e Assentamentos Urbanos da FAU-USP mostrou que as condições estruturais das regiões de periferia contribuem para o aumento da violência. Estas condições incluem habitações precárias, falta de iluminação, estrutura viária precária formando ilhas de difícil acesso combinado com a ausência do Estado que eleva a sensação de impunidade para quem comete crimes e de abandono para quem convive com essa realidade. (F S P 11.01.2004, p. C-1).

O banditismo acaba sendo subproduto desta urbanização desenfreada. “Ao perder suas raízes, as pessoas acabam perdendo seus valores básicos o que facilita a perda do que chamaria de freio social”, diz Lourdes Bandeira, pesquisadora da Universidade de Brasília. (Veja, 21.08.96, p. 80).

Outros fatores são a facilidade de se conseguir armas e no caso brasileiro com destaque, o sistema penitenciário. Nas cidades maiores cresce o número de gangues juvenis. Em Belém (PA) segundo dados da Secretaria de Segurança em 1997 existiam 182 gangues na cidade, contra 78 em 1995, a maioria formada por adolescentes de 15 a 17 anos. O baixo nível educacional também contribui neste sentido. A sociedade de consumo e a impossibilidade de satisfazer estas necessidades é outra fonte geradora do crime.

Pesquisa feita pela Secretaria da Justiça do Rio de Janeiro com 300 condenados que ingressam no sistema penitenciário estadual revelou que 29% atribuem o início da criminalidade ao desejo de consumir , 21% à satisfação das necessidades básicas e 16% ao fato de terem sido levados ao crime por outras pessoas. Dos 106 jovens entre 18 e 24 anos , cerca de 81% já tinham consumido drogas . ( F S P 15.02.2000 , p. 3-5) .

Para o professor de Psicologia Social , da Universidade de Whitworth , James E. Waller o homem sempre é capaz de maldades extraordinárias quando recebe permissão para tanto : “para muitas pessoas o mal do genocídio e do assassinato em massa é ‘permissível’ , porque é sancionado pelo grupo social , político ou religioso no poder . O que leva um homem a matar seu semelhante é simplesmente a complexidade da natureza humana . ( Valor , 22.11.2002, p. 17) .

Nos EUA tem sido estudado um fenômeno pelo qual se verifica que certas pessoas têm alguma dificuldade de construir uma imagem positiva de si mesmos e precisam da admiração ou do respeito por meio do medo imposto aos outros. Por isso alguns se deixam seduzir por uma imagem da masculinidade que está associada ao uso da arma , à disposição de matar , ter dinheiro no bolso e se exibir para algumas mulheres . Esta é uma explicação antropológica .



POBREZA E CRIME



O comportamento de segregação da classe média e alta leva a uma associação de pobreza e crime que precisa ser melhor qualificada estatisticamente . Não são os pobres que cometem mais crimes ,mas as condições de pobreza é que potencializam a criminalidade.

As condições de pobreza em área urbana na medida em que causam elevado grau de insatisfação face à grande atração exercido pelo consumo , criam em consequência condições para a explosão da violência . Na área rural esta pressão pelo consumo é muito menor .

Levantamento feito pela antropóloga Alba Zaluar na Cidade de Deus no Rio de Janeiro , conjunto habitacional favelizado na zona oeste do Rio de Janeiro concluiu que apenas 2% da população está envolvido no tráfico .( F S P 12.07.2004, p. A-12) .

Por exemplo pesquisas feitas no Rio de Janeiro constataram que para um favelado é mais difícil se inserir no mercado de trabalho . Um não favelado com as mesmas características de raça, sexo . idade e nível de escolaridade , ganha até 90% a mais se morar na Lagoa . Se morar na Barra da Tijuca , o não favelado recebe 78% a mais e em Copacabana , 74% a mais . ( F S P 16.04.2004 , p. C-1) .

No Brasil pode-se afirmar que por razões históricas o fato de ser negro e pobre aumenta a possibilidade de alguém ser pré-julgado como criminoso . Em 3.2.2004 foi morto pela polícia paulista o dentista Flávio Ferreira Sant’Anna , depois de ser supostamente reconhecido pela vítima de um assalto e que estava desarmado e morreu pelo fato de ser negro . As elites tem medo , mas que mais sofre efetivamente com a violência é a população pobre da periferia .

Pesquisa feita por Gláucio Soares e Doriam Borges da Universidade Cândido Mendes do Rio de Janeiro concluiu que a possibilidade de uma pessoa negra ser assassinada no Brasil é 87% maior do que a de uma branca . Para chegar a esse resultado , os pesquisadores relacionaram as taxas de vitimização de brancos e negros por 100 mil habitantes no ano de 2.000 que é calculada a partir do número de vítimas por raça , dividido pelo total de população de cada cor . ( F S P 14.08.2004, p. V-1 ) .

Um claro exemplo da inexistência causal de correlação entre pobreza e crime é o caso da Índia . Em Bombaim luxo e miséria convivem lado a lado. A pobreza é extremamente agressiva pela forma contundente que é exposta . As favelas, em muitos lugares , ficam na calçada , e os mendigos abordam insistentemente qualquer carro que não seja um dos milhares de táxis vazios. No entanto, o índice de criminalidade na cidade é baixíssimo . ( Cafardo, Pedro. Valor 14.3.2003, p. A-16) .

Estudo feito pela Prefeitura de São Paulo com dados de 1991 a 2000 em 96 distritos da cidade mostra que quanto maior a taxa de crescimento anual do número de chefes de família pobres de um distrito , maior a chance de essa região ter que conviver com aumento das mortes violentas .

Dos dez distritos com maior média anual de crescimento de chefes de famílias pobres , em oito a taxa de aumento do número de homicídios e de mortes no trânsito também cresceu . Nos dez distritos onde houve maior decréscimo da taxa de pobreza , apenas três tiveram aumento ano a ano da violência - um deles de 0,6% . Nos outros, ela se manteve ou caiu . ( F S P 14.02.2002 , p. C-3 )



QUADRO – taxas crescimento mortes violentes e chefes família pobres

Mais pobres Chefes de

Domicílios Variação

Anual mortes Menos

pobres Chefes

Domicílios Variação

Anual mort.

Vila Andrade 14,3 -2,5 Brás -4,9 0,6

Parelheiros 11,6 11,9 Pari -4,9 2,6

Anhanguera 11,5 55,2 Bom Ret. -4,6 -2,7

Grajaú 10,9 7,3 Belém -4,2

cid. Tiradent. 10,3 17,8 Itaim Bibi -4,1 -8,9

Marsilac 8,3 -7,0 Cambuci -3,9 -2,1

Pedreira 8,3 13,1 Lapa -3,7 -8,6

Jard. Ângela 8,2 5,3 Tatuapé -3,4 -4,7

Jaraguá 8,1 6,6 Barra Fun -3,3 -4,1

Iguatemi 6,4 9,2 Mooca -3,2 7,0

Variação média anual das taxas de crescimento do número de mortes violentas e dos chefes de domicílios pobres ( renda até 1,47 s.m.) em %



Segundo o Atlas de Desenvolvimento Humano do Brasil , o Estado de São Paulo foi onde ocorreu o maior crescimento de indigentes entre 1991 e 2000 . Enquanto o número total caiu no Brasil ele cresceu em São Paulo conforme quadro a seguir.



INDIGÊNCIA E POBREZA NO BRASIL 1991 – 2000

Crianças indig. Total indigentes Crianças pobres Total pobres

1991 2000 1991 2000 1991 2000 1991 2000

Brasil 28,96 25,18 20,24 16,32 51,30 45,99 40,08 32,75

Est. SP 5,80 9,50 3,90 5,94 18,62 22,68 12,86 14,37

Mun SP 4,18 9,07 2,98 5,60 12,32 19,92 8,00 12,06

Fonte : Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, in FSP 3.10.2003 , Especial , p. A-3.



Os dados do Atlas indicam que as políticas públicas não surtiram efeito na redução da pobreza e miséria em São Paulo . Certamente a migração foi a grande responsável pela ampliação dos números negativos . Famílias pobres continuaram a se dirigir para o Estado e tendo em vista a relativa estagnação da economia , principalmente do setor público estas famílias chegam a manter inalterada sua situação econômica , gerando uma piora nos números gerais . Com isto as condições potenciais para o ocorrência da violência urbana crescem ao invés de diminuir. A região metropolitana de São Paulo concentra 52% dos indigentes e 47% dos pobres do Estado de São Paulo.

“Segundo estudo do FBI , atualizado desde 1988, as pessoas abaixo da linha de pobreza nos EUA (11% da população) são responsáveis por apenas 4% dos crimes violentos no país(homicídios, assaltos e estupros). Constatou-se ainda que ¾ das vítimas dos negros americanos pobres, são também negros americanos pobres. E quem mata brancos , nos EUA , são brancos na proporção de três por um”.(Veja 23.11.94, p. 88)

Pesquisa feita pela Secretaria da Justiça do Rio de Janeiro mostrou que 81% dos condenados de 18 a 24 anos que ingressam no sistema penitenciário estadual tiveram o sustento de suas casas garantido pelo pai, mãe ou ambos . Cerca de 72% moram em casa própria ( pertencente à família ) e 45% afirmam ter sido criados em condições “adequadas ou muito boas” . Porém apenas 8% completaram o 2 grau . ( F S P 15.02.2000 , p. 3-5)

Outra pesquisa feita pela médica epidemiologista Simone Gonçalves de Assis , premiada pela Unicef com 61 jovens condenados por delitos graves no Rio de Janeiro e Recife e seus irmãos não criminosos chega às seguintes conclusões :

80% dos lares pesquisados são formados por pais separados ou mães solteiras . As mães obrigadas a trabalhar fora deixam os filhos totalmente abandonados , criados sem afeto , orientação e disciplina. Vivendo em comunidades violentas são atraídos para o crime . Porém a pesquisa detectou que os irmãos mais novos tendem a se envolver mais com a criminalidade porque os mais velhos , por terem que trabalhar mais cedo para ajudar no sustento da casa adquirem maior responsabilidade , afastando-se do mundo do crime. O contato com a figura paterna ainda que por prazo curto também é importante para reduzir o caminho para a criminalidade.

A violência doméstica é outro fator importante . Estudo feito pelo departamento de psiquiatria da Universidade de Houston demonstra que a violência ocorrida até os cinco primeiros anos de vida pode levar ao desenvolvimento de sintomas agressivos , depressão e incapacidade de ligação afetiva . Na pesquisa 90% dos delinquentes entrevistados não sentiram a menor pena de suas vítimas, inclusive das que mataram. ( Revista Veja, 15.12.99 p. 118-121) .

Todavia os estudos sociológicos mostraram que as práticas criminosas estão associadas a dinâmicas sociais muito diferentes . Os roubos praticados por meninos pobres nas ruas , bem como o varejo das drogas na periferia estão associados a um quadro social de carência . Por outro lado o tráfico de armas , o tráfico de drogas , a lavagem de dinheiro nada tem a ver com a pobreza e a desigualdade , mas prosperam pela impunidade .

Por outro lado pesquisa realizada pelo instituto Data Brasil, ligado à Universidade Cândido Mendes revela que os moradores de favela do Rio de Janeiro afirmam sofrer menos violência que os moradores de outras áreas da cidade. Segundo o levantamento, 67,1% dos moradores afirmaram nunca ter sofrido nenhum tipo de violência , contra 55% do outro grupo . Na pesquisa , 23,2% dos habitantes de áreas não favelizadas revelaram ter sofrido violência pelo menos uma vez, enquanto 18,9% dos moradores de favelas disseram já ter passado por esta situação. Por outro lado a pesquisa revelou que 43,7% dos moradores de favelas gostariam de se mudar para outra cidade o que parece indicar que por morar em ambiente naturalmente tenso , os moradores tendem a ver a violência de forma mais branda , daí os resultados da pesquisa . ( F S P 10.03.2001, p. C-1) .

Levantamento feito pela pesquisadora Felícia Madeira da Fundação Seade , mostrou que a maior concentração de homicídios na capital é encontrada justamente nas áreas de baixo poder aquisitivo mas zonas leste e sul , onde a porcentagem de jovens é superior a 20% e em pequenas favelas . Uma explicação sociológica para o fato é que por se tratarem de áreas de invasão recente , a população está mais desorganizada e com menos condições de se opor ao tráfico de drogas . ( F S P 10.07.2002 , p. A-14 ) .

Outra explicação para este problema é a quase inexistência do Estado nestas áreas , facilitando a proliferação da violência .

Segundo o antropólogo Gilberto Velho, há uma cultura de violência entre jovens de famílias pobres .Esta cultura está alicerçada em uma filosofia de que a vida pode ser breve , mas deve ser vivida intensamente . Jovens presos, provenientes de famílias pobres em entrevistas declaram que não tem interesse em ter uma vida semelhante á do pai , por exemplo um pintor de paredes que nunca ganhou dinheiro e morreu tuberculoso aos 43 anos , ou á do avô que era pedreiro, explorado no trabalho e , não conseguia pagar suas contas .Neste sentido, para este grupo de jovens infratores a violência passou a ser um valor e há pessoas que gostam de exercê-la. É um fenômeno coletivo que atinge a uma parte dos jovens . Há pessoas que transitam pelos dois mundos , ou seja, trabalham e fazem uma atividade ilegal simultaneamente . Esta violência esta associada a uma outra tendência verificada no mundo contemporâneo, entre os jovens no sentido de perda de valores como civilidade e respeito aos mais velhos que não é exclusividade dos mais pobres e em relação aos quais a deterioração das escolas tem grande responsabilidade. ( F S P 20.10.2003 , p. A-14) .

O sequestro é um crime que atrai jovens de baixa renda. Dos 198 sequestradores presos em São Paulo em 2002, de janeiro a 23 de maio cerca de 75% era jovem, 94% de baixa renda e 44% sem antecedentes criminais e cerca de 90% desempregados. A maioria dos presos é de iniciantes no crime , pois neste tipo de crime a maioria dos presos são os responsáveis pela guarda do cativeiro , aqueles que pouco poder tem dentro das quadrilhas . Os mentores do crime , os verdadeiros criminosos dificilmente são alcançados pela polícia. Estes jovens , iniciantes no crime , subestimam os riscos da atividade pelas promessas de ganho fácil.



PERFIL DOS SEQUESTRADORES PRESOS EM SP JAN MAIO 2002

idade sexo antecedentes Classe social

Até 17 anos 5% Homens 88% Com – 56% D – 94%

18-30 anos 75% Mulheres 12% Sem – 44% C- 6%

+ 30 anos 20% A e B – 0% .

Fonte : Secretaria Segurança Pública SP , in FSP 2.6.2002, p. C-1 .



ABORTO E CRIMINALIDADE



O economista americano Stephem Levitt, autor do livro Freakonomics , best-seller , estudando as razões da queda da criminalidade nos EUA nos anos 90 chegou a uma conclusão surpreendente, associando-a à queda da natalidade .Com isso , preveniu-se o nascimento de uma legião de crianças pobres e indesejadas , geralmente filhas de mães solteiras - crianças que, pela fragilidade de sua situação familiar e social, teriam maior probabilidade de enveredar pelo crime na vida adulta . Em outras palavras , o crime diminuiu por que muitos criminosos não nasceram . ( Veja, 16.11.2005, p. 76) .

Também fazendo correlações entre estatísticas e criminalidade Levitt verificou que " há uma relação muito fraca entre desemprego e crime . Nos EUA , para cada 1% de aumento no índice de desemprego há um aumento de 1% nos crimes de furos de propriedade e assaltos . Por outro lado, há evidências de que a distribuição desigual da renda está fortemente relacionada ao crime . Elas mostram que , se a distribuição de renda fosse mais equilibrada , haveria menos crime num país como o Brasil . Mas se o país está preocupado em combater o crime, a melhor maneira é punir os criminosos , mostrando a eles que o crime não compensa . ( Veja, 16.11.2005, p. 83).



DESEMPREGO E CRIME



Segundo conclusão de pesquisa feita pelo Uniemp ( Fórum Permanente Universidade – Empresa ) , ligado à UNICAMP , numa escala de 0 a 100 , é possível afirmar que o desemprego explica 85% da variação dos ataques em carros , 80% da oscilação dos casos em ônibus e 74% dos altos e baixos dos assaltos a pedestres . ( F S P 4.4.2004 , p. C-1 ) .

A pesquisa identificou ainda um efeito “inercial “ do crime . Ou seja, muitos dos que são empurrados ou optam pela criminalidade , acabam nela permanecendo mesmo quando as condições adversas já cessaram ou diminuíram razoavelmente .

A permanência na marginalidade nestes casos está ligada aos ganhos auferidos com as ações criminosas e ao grau de envolvimento com o crime .

O impacto do desemprego sobre a criminalidade tem relação com a estrutura de proteção social existente . Por exemplo ficar desempregado na Europa , pela grande rede de proteção social existente é muito menos traumático do que no Brasil e isto impacta as consequências sobre a criminalidade .



CRIME E HEREDITARIEDADE



Pesquisas recentes tem enfatizado a influência de fatores na fase de formação da personalidade e a dificuldade de reversão de determinados quadros na fase posterior. Por exemplo, se um dos olhos de um recém nascido for tapado durante um mês , ele perderá a visão desse olho , embora enxergue normalmente pelo outro . A falta de estímulos luminosos no momento adequado impede que os neurônios estabeleçam as conexões adequadas para que a visão se desenvolva .

Da mesma forma, negligência e maus tratos recebidos na fase inicial da vida, induzem uma cascata de eventos moleculares que alteram de forma irreversível a estrutura cerebral, gerando uma moldagem anômala que pode conduzir à agressividade, hiperatividade, distúrbios de atenção, delinquência e abuso de drogas.

A partir dos anos 80 , pesquisas do grupo de Martin Teicher , neurocientista em Harvard , demonstraram que uma das regiões cerebrais mais afetadas pelos maus tratos era o sistema límbico , situado na parte central do cérebro , para onde confluem os neurônios encarregados de regular a memória e as emoções . Estudos recentes mostraram que adultos com história de violência sofrida na infância apresentam duas estruturas cruciais do sistema límbico , o hipocampo e a amígdala anatomicamente menores do que os adultos controles . Outros trabalhos documentaram uma inversão na relação de dominância dos hemisférios cerebrais em indivíduos maltratados na infância . (Varella, Dráuzio, in F S P 23.03.2002, p. E-14).

Para o Dr. Jonathan Picus , chefe de neurologia do Hospital de Veteranos de Washington , doenças mentais , danos neurológicos e abusos infantis estão presentes somados em 2/3 dos casos dos assassinos cruéis . Nos outros casos , pelo menos uma ou duas destas causas estão presentes . Para ele a genética não tem influência . Filhos de pais violentos que crescem ao lado de pais não violentos não mostram nenhuma tendência para a violência. Os filmes e jogos eletrônicos só incentivam atos de violência se a pessoa já for vulnerável . ( Superinteressante , agosto de 2002, p. 78-79) .

Para Michael Stone psiquiatra da Universidade Columbia de Nova York , quando o mal está na pessoa e não só em seus atos , não há tratamento . São pacientes que tem desvios de personalidade e traços de psicopatia , mas discernem plenamente suas ações . Ou seja “ um sujeito que fez a mesma coisa várias vezes tem uma chance de tratamento igual a zero , e deve ser separado da sociedade , seja numa cadeia , ou num hospital , porque é perigoso “ . Ele criou uma escala da maldade para classificar crueldades que não tem explicação nem na medicina , nem na psicologia .



Escala do mal . Do maior para o menor

1 Psicopatas assassinos motivados pela prática de tortura

2 Psicopatas notórios pela prática de torturas extremas , mas não assassinos

3 Assassinatos motivados pela tortura, com personalidade psicótica

4 Psicopatas que recorrem ao terrorismo , poder de subjugação , intimidação ou estupro , não ao assassinato em si

5 Assassinos que torturam cuja motivação é o assassinato em si

6 Assassinos seriais sexualmente pervertidos

7 Psicopatas que cometem múltiplos atos agressivos e cruéis

8 Psicopatas de sangue frio com várias vítimas

9 Psicopatas cruéis , calculistas e egocêntricos

10 Personalidades inadequadas e cheias de raiva

11 Assassinos sedentos de poder que matam quando encurralados

12 Assassinos psicopatas que matam quem se interponha em seu caminho

13 Assassinos que matam quem se interponha em seu caminho ou testemunhas , mas não psicopatas notórios

14 Amantes ciumentos com características psicopatas

15 Pessoas não psicopatas com raiva reprimida que matam quando esta raiva é estimulada

16 Pessoas extremamente narcisistas , que não são psicopatas notórios , mas de âmago psicótico , que matam entes queridos por motivos de ciúme

17 Assassinos impetuosos e geniosos , mas sem características psicopatas

18 Pessoas desesperadas e traumatizadas que matam parentes pelos quais foram maltratadas ou para sustentar vício em drogas , mas não psicopatas

19 Pessoas que matam em defesa própria , mas que provocam a vítima ao extremo

20 Pessoas que fazem companhia a assassinos durante o crime por vontade própria e que demonstram aberrações de personalidade, provavelmente geradas por impulsos, com traços antissociais.

21 Amantes ciumentos que, embora egocêntricos ou imaturos , não são psicopatas

22 Pessoas que matam em defesa própria , sem sinais de personalidade psicopática .

Stone , Michael . in Anomalias da Personalidade : Dentro e Além do Escopo do Tratamento ; in FSP 13.2.2005 , p. A-18) .



COMO PENSAM OS CRIMINOSOS



Stanton Samenow, 72 anos , passou 43 anos à frente de criminosos para entender como eles pensam. Para ele, o comportamento criminoso é uma escolha:” Não é uma escolha apenas, é uma série delas. Para quem opta pelo crime como caminho de vida, essas escolhas começam a ser feitas bem cedo, quase sempre. Por exemplo: as pessoas mentem, adultos e crianças. Mas os futuros criminosos não mentem apenas para escapar de situações embaraçosas ou exagerar seus feitos. Mentem porque obtém uma sensação de poder com isso. Mentir acaba se tornando uma escolha, e parte de seu comportamento...O futuro criminoso sente prazer em machucar os outros, não só fisicamente . Coisas que qualquer um pode fazer , ainda mais quando se é novo e não se sabe distinguir o certo do errado, os criminosos continuam a fazer durante toda a vida. Eles simplesmente não incorporam o que se tenta ensinar-lhes”.

Para ele, a diferença entre um psicopata e um criminoso é de graduação. “Os que são chamados “psicopatas” seriam o ocupantes de último degrau dessa escala. Mas não acho que o rótulo seja importante, são todos criminosos. O que é relevante é a presença de um padrão de pensamento que leva a um comportamento criminoso”.

O criminoso em sua visão não é produto do meio:” Ao longo dessas quatro décadas de entrevistas com criminosos, cheguei à conclusão que o ambiente tem uma influência relativamente pequena sobre o crime. Em muitos lugares, com a presença de gangues e alto índice de criminalidade, há mais tentações e pressões em dúvida... Mas não podemos dizer que a maioria dos pobres se torna criminosa, isso não é verdade. O que podemos dizer é que todo criminoso – não importa se rico ou pobre, negro ou branco, educado ou analfabeto, tem uma forma semelhante de pensar.

Stanton define dois tipos de crime. O premeditado. Os criminosos sabem diferenciar o certo do errado e que podem ser presos ou mortos. Mas conseguem isolar esses medos, com a certeza de que vão se safar e levam o crime adiante. Outro tipo de crime é o cometido no “calor do momento”, parece um impulso, mas há uma racionalidade por trás dele. Ele cita o caso de um ex-marido que foi assinar os papéis com a ex-mulher e acabou matando-a. Em entrevista ele revelou que já havia pensado em matá-la, mesmo quando era casado. Ele não premeditou a situação, mas já a havia imaginado mentalmente. “Não existe isso de um crime “vir” do nada.

Uma das características da mente criminosa é a incapacidade de se colocar no lugar do outro, mas o cometimento do crime é resultado de um conjunto delas. “ Em primeiro lugar , o criminoso se enxerga como alguém com um poder total sobre os outros. Por isso, é hipersensível a qualquer coisa que arranhe essa imagem. Se alguém falar conosco num certo tom arrogante, por exemplo, provavelmente não vamos dar muita importância. Mas, para o criminoso, isso significa que a pessoa o afrontou. E ele vai provar que isso não se faz. E assim toda a situação. É por isso que os criminosos estão sempre nervosos : esperam que os outros se ajustem a eles, que se submetam. No decorrer do dia, muitas coisas não saem como queríamos, e temos que lidar com isso. Essa, no entanto, não é a mentalidade de um criminoso. O que o outro fala ou sente não é importante, porque importante é ele. E, se ele inflige um mal ao outro, a culpa não é dele, mas de quem não agiu como ele acha que deveria.” , ou seja a culpa é sempre do morto:” Ele se mexeu, achei que ia sacar uma arma”.

Criminoso não pode ser reabilitado , porque não havia nada antes. Pode-se tentar habilitá-lo, construindo do zero, para tentar ver se ele deixa de se ver como o centro de tudo e aprender que há limites para suas vontades e consequ ências para seus atos. Por outro lado :” Uma vez criminoso, sempre criminoso. Não é que a pessoa vá sempre cometer delitos. O que ocorre é que ela tem dentro de si a inclinação para repetir o padrão de pensamento que resulta no cometimento de crimes. Por isso, tem de estar sempre vigilante, sempre com uma atitude de autocrítica. É o que tentamos ensinar”. ( Revista Veja, 6.11.2013, p.19-22).







FREQUÊNCIA DOS CRIMES



Técnicos do Instituto Fernand Braudel de São Paulo , analisando 300 inquéritos policiais e boletins de ocorrência de homicídios na capital paulista chegaram à surpreendente conclusão de que 80% dos homicídios são premeditados , 15% são causados por brigas e discussões e apenas 5% ocorrem durante assaltos . . Entre os assassinos 99% são homens ; 40% atuam nos finais de semana ; 70% trabalham em equipe ; 50% já tiveram passagem pela polícia e 1 em cada 3 já havia matado antes . ( Veja , 29.03.2000 , p. 34) .



CRIMES HEDIONDOS



A lei dos crimes hediondos surgiu no Brasil como uma reação á escalada da violência e foi sancionada em 25.07.1990 no governo Collor , apelidada de Lei “Glória Perez “ .

A lei define os crimes inafiançáveis , o condenado não recebe anistia, graça ou indulto. A pena deve ser cumprida integralmente em regime fechado.

Os crimes definidos como hediondos são: Homicídio praticado em grupo de extermínio (chacina); Homicídio doloso qualificado; Latrocínio; Sequestro; Genocídio tentado ou consumado; Estupro; Epidemia com resultado; falsificação de remédios. São equiparados aos hediondos a tortura, tráfico de drogas e terrorismo .

Porém a lei não atingiu seu maior objetivo intimidatório . que era reduzir os índices de violência que ao contrário continuaram aumentando. Isto aconteceu pelo fato de que os criminosos não leem o Código Penal para saber quais os crimes mais leves que devem praticar.



SERIAL KILLER



O psiquiatra americano Michael Stone, da Universidade Colúmbia , de Nova York estudou 99 deles e concluiu , entre outras coisas , que 90% dos analisados eram psicopatas , ou seja, portadores de doença mental desprovidos de emoções de natureza moral como remorso , culpa ou compaixão . Os 10% restantes apresentavam outro tipo de doença mental ou podiam mesmo ser considerados sãos , do ponto de vista psiquiátrico . Cerca de 34% tinham vida dupla , sendo capazes de sustentar boas relações com algumas pessoas e vivendo em dois mundos totalmente separados .

Dos 99, 49 foram vítimas de violência física por parte de um familiar na infância ; 56 sofreram humilhações quando criança ; 25 foram criados sem o pai natural; 12 já haviam apresentado sintomas de doença mental ; 19 haviam sofrido traumatismo craniano ou lesões cerebrais decorrentes de acidentes , como quedas , ou doenças como meningite ; 43 faziam uso abusivo de álcool e vinte deles também consumiam cocaína , maconha , LSD ou substâncias analgésicas ; 29 tinha características de hipersexualidade e 21 deles apresentavam algum tipo de disfunção sexual , como necrofilia , sadismo ou pedofilia ; 29 torturaram animais durante a infância . ( Veja, 24.12.2008 , p. 66-69) .

Segundo estudo do FBI, várias das ideias difundidas pelo cinema são falsas. Os serial killers não são solitários desajustados e frequentemente tem mulher, filhos, emprego e interagem socialmente . A motivação não é apenas sexual, mas raiva, emoção , atenção , dinheiro ou por doenças mentais . Alguns conseguem parar de matar , por exemplo quando os crimes tem conotação sexual e seus autores encontram uma atividade substituta . Na maioria dos casos , embora tenham desordens de personalidade , na maioria dos casos não são reconhecidos pela lei como mentalmente insanos . Os serial killer não querem ser pegos , mas pensam que nunca o serão e quanto mais crimes cometem , mais seguros ficam de sua impunidade e isso acaba fazendo com que se descuidem e deixem mais pistas . ( Veja, 24.12.2008 , p. 66-69) .

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