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Artigos-->VIOLÊNCIA NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO -- 06/03/2013 - 10:14 (edson pereira bueno leal) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


 



 



VIOLÊNCIA NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO



 



 Edson Pereira Bueno Leal, março de 2.013



 



 



O tráfico no Rio tem história. Nos anos 60 e 70 cada favela tinha o seu dono, envolvido em roubos e tráfico em pequena escala. Surge à primeira facção criminosa, a Falange Vermelha, origem do CV – Comando Vermelho. Em contraposição havia o Esquadrão da Morte, grupo de policiais que matava ladrões e traficantes. As armas usadas eram revólveres e espingardas.



Nos anos 80 o VC se consolidou e ocorreram as primeiras grandes “guerras: no morro Dona Marta (1987), entre quadrilhas e na Rocinha (1988) entre traficantes e policiais”. Nasce o Terceiro Comando, dissidência do CV. As armas usadas passam a ser pistolas, fuzis e submetralhadoras.



Nos anos 90, Terceiro Comando se consolida e começa o confronto pelo controle das “bocas”. Um traficante rompe com o CV e cria, no morro do Adeus, a facção ADA (Amigos dos Amigos). Nas cadeias o governo passa a separar os presos de acordo com sua facção. As armas usadas são pistolas , fuzis e granadas .



Na primeira década de 2000 o ADA se fortalece e passa a ser o principal oponente do CV. Aumenta o emprego dos “bondes”, grupos armados de traficantes que atacam favelas inimigas. Cresce a venda de drogas para os próprios moradores das favelas. O crack começa a ser vendido nos morros. As armas usadas são metralhadoras antiaéreas como. 30 e .50 ( F S P , 25.10.2009 , p. C-3).



Em determinadas regiões das grandes cidades , principalmente em áreas de favelas a autoridade do Estado desapareceu , sendo ocupada pelos criminosos que ditam a sua lei e a sua ordem.



O problema aparece nas favelas associadas a algumas condições de desorganização. Por exemplo, no Rio de Janeiro com mais de 1006 favelas, aproximadamente em torno de 30 são as que têm problemas mais acentuados.



Esta situação é parecida com o que ocorreu em Chicago, de 1920 a 1933 durante o período da Lei seca onde a organização de Al Capone controlava a cidade, tinha influências na polícia, na Justiça e na administração pública e colocou como prefeito, por três mandatos, o gângster “Big Bill” Thompson.



Segundo dados, no Rio de Janeiro são mais de 100.000 bandidos que formam o poder paralelo. Cerca de 10.000 crianças trabalham em 367 bocas de fumo, das mais de 900 que há no Rio. Nas favelas dominadas pelo tráfico já existem até leis não escritas que todos devem obedecer, pois seu descumprimento pode levar á morte.



Na favela ninguém houve ninguém vê. Delatores ou informantes da polícia se descobertos são punidos com a morte;



O comércio é obrigado a fechar as portas quando o tráfico determina, por exemplo, quando morre algum membro da quadrilha;



Não se pode cantar funks ou raps que falam de facções inimigas;



É proibido usar roupas com as cores da gangue rival



Os moradores são proibidos de chamar a polícia em qualquer hipótese;



A qualquer momento um morador pode ser obrigado a esconder armas em casa;



Nas brigas entre vizinhos, o líder do tráfico é o árbitro;



Empresas que trabalham no morro tem que empregar moradores da favela;



Em algumas favelas os moradores são obrigados a pintar todas as casas da mesma cor, para confundir a polícia. (Veja, 19.06.2002, p. 87). 



Os traficantes decidem quais os crimes permitidos no local e quem pode cometê-los. As penas são expulsão da favela, espancamento, mutilação ou morte;



Segundo Dráuzio Varella, “o crime é regido por um código não escrito que prevê todas as situações imagináveis. Não há brechas legais, nem margem para interpretações dúbias, nem espaço para jurisprudência contraditória. É o certo ou o errado, o isso pode e o aquilo não; entre o preto e o branco não existe zona cinzenta. É incrível que um código de transmissão oral possa reger os acontecimentos da vida social com tamanha abrangência. Estuprar, delatar o parceiro, namorar a mulher do companheiro e roubar os comparsas da partilha são crimes hediondos. Em dia de visita na cadeia, andar com o segundo botão da camisa desabotoado, passar pelos visitantes sem a baixar a cabeça ou aproxima-se de uma delas sob qualquer pretexto são contravenções menos graves, mas nem por isso perdoáveis... As leis do crime impõem apenas três penalidades: ostracismo, agressão física e pena de morte. As condenações jamais prescrevem.”.



Ser relegado ao ostracismo pelos comparsas de rua ou pelos companheiros de cela é humilhante, pois se soma ao desprezo da sociedade. A agressão é pesada, as surras são de pau e pedra. A  “pena de morte é decretada sem condescendência e tem forte poder persuasivo no meio da criminalidade. por que são aplicadas assim que a infração é cometida. O rito é sumário: os jurados se reúnem sem formalidades e decretam a sentença fatal, a ser executada imediatamente.” Varella, Dráuzio, F S P, 27.10.2007, p. E-13).  



Em dezembro de 1992 no Morro do Borel, o traficante Nélson da Silva, o “Bill” decidiu justiçar um grupo de jovens. Os motivos eram que costumavam praticar furtos nas imediações, atraindo a polícia e atrapalhando os seus negócios. O segundo é que alguns deles tinham cometido um erro grave: assaltaram uma das namoradas de Bill e a mulher de seu irmão Cláudio da Silva, o “Tatinha”, que era o chefão do Borel antes de ser preso e condenado a doze anos de cadeia.



Reunidos os acusados, Bill determinou, “Vão batendo neles que eu vou comprar cerveja para comemorar.”. Alexandre Oliveira Nogueira, de 17 anos, integrante da turma, contou 21 pessoas apanhando naquele local, a pauladas. Pouco depois, Bill voltou com as cervejas e achou que a surra foi fraca. Mandou bater mais e distribuiu 21 garrafas vazias entre seus liderados. Uma a uma, elas foram sendo quebradas nas cabeças dos presos.



“Vou matar só os maiores”, sentenciou finalmente o traficante, determinando que três de seus prisioneiros, acusados de vender talões de cheques roubados na favela, fossem amarrados. Para os outros, escolhe outra pena. “Vão sentar no colo do diabo”, anunciou, enquanto ordenava que colocassem as mãos sobre a mureta que rodeava a laje. Alguns colocaram só uma das mãos. Outros puseram as duas sobre a mureta, uma amparada sobre a palma da outra.



Bill escolheu três rapazes para castigar pessoalmente. Começaram os tiros. Um na mão de cada uma das vítimas. Nenhum dos moradores do morro apareceu para protestar...  Na lei de segurança que vigora no Borel, os tiros os berros de gente ferida dão a impressão de não incomodar ninguém.



Executadas a sentença de Bill, os justiçados foram liberados em turmas, com a advertência “Não vão caguetar a gente porque senão morrem”. Os três escolhidos para morrer ficaram para trás.  Segundo o capitão médico do Corpo de Bombeiros que atendeu a quatro rapazes alvejados, “Estavam ensanguentados, urravam de dor e não falaram nada sobre os ferimentos”. Outros cinco atendidos no hospital do Andaraí, todos tinham ambas as mãos perfuradas, escoriações pelo corpo e ferimentos na cabeça. “Saíram quietos e juntaram-se a alguns garotos atendidos no outro hospital”, lembra o médico Ricardo Toledo, chefe do plantão no Andaraí. Saldo final da obra do traficante Bill, dezessete feridos, só um deles não tinha uma das mãos atravessadas à bala. (Veja, 2.12.1992, p. 22-24).  



 



 



2003



 



No Rio de Janeiro no final de fevereiro de 2003 verificou-se uma verdadeira escalada de violência. Em uma semana 37 ônibus foram incendiados, 18 depredados e jogadas 14 bombas entre coquetéis Molotov, granadas, gás lacrimogênio e artefatos de fabricação caseira.



O caos provavelmente foi comandado pelo traficante Fernandinho Beira Mar em represália a restrições a sua situação carcerária. Beira Mar que teve contatos com as Farc na selva colombiana provavelmente usou técnicas de guerrilha com a adoção de células terroristas onde cada um dos grupos recebe apenas uma missão específica e não tem conhecimento sobre o total da operação. Beira Mar, com 36 anos vende drogas em vários Estados e controla no Rio de Janeiro a venda em 99 favelas, tendo um patrimônio estimado de R$ 100 milhões. (Veja, 5.3.2003, p. 37-43).



 



2004



 



O jornal The Independent, um dos de maior prestígio no Reino Unido, publicou em novembro de 2004 extensa reportagem onde descreve o Rio Como “a cidade da cocaína e da carnificina”. O Rio de Janeiro na década de 60 tinha 335.000 pessoas, 10% da população morando em favelas. Em 2004 o número chega a 1,1 milhão de pessoas, cerca de 18,7% da população da cidade. Na década de 90 a população favelada cresceu 2,2% ao ano contra um crescimento de 0,74% da cidade. A taxa de desemprego nas favelas é 14% superior à média carioca e a fecundidade da população favelada é quase o dobro da verificada entre a população da cidade formal. (Veja, 20.10.2004, p. 53). 



 



2007



 



Missão apoiada pela ONU nos complexos do Alemão e da Penha, zona norte do Rio, classificou o local como “área de conflito armado em situação de emergência”, conforme padrões do INEE, rede de agências criada pela ONU e por ONGs para garantir o direito à educação a crianças em situação de emergência e crise. O nível só é comparado ao de catástrofes naturais ou de áreas de guerra. (F S P. 12.10.2007, p. C-3).



Em duas estações de trem, Manguinhos e Jacarezinho, parte dos moradores não paga passagem por pressão do tráfico. Em outras dez há presença ostensiva de criminosos nas plataformas e nas margens da linha ferra. Em mais três paradas, partes dos muros que ficam ao longo da via foram derrubados, criando uma rota de fuga em caso de invasão rival ou policial. Os trens do Rio cruzam as menos 27 favelas controladas por traficantes de diferentes facções. (F S P, 15.09.2007, p. C-9).  



Face à situação, o governo Sérgio Cabral optou pelo confronto e pelas ações de inteligência. “Um mês de megaoperação com mais de mil policiais no Complexo do Alemão resultou em 55 feridos, 17 mortos, dez suspeitos presos, 13 armas e 240 quilos de drogas apreendidas”. Já em uma operação calcada nos serviços de  inteligência , sem estardalhaço , sete acusados de tráfico  foram presos na Ilha do  Governador , zona norte , sendo cinco ex-paraquedistas do Exército . ( F S P , 2.6.2007, p. C-1) .



Na cidade do Rio de Janeiro, nas festas de final de 2007 cerca de quatro pessoas que estavam na praia foram feridas de balas que vieram de cima. Ou seja, foram atingidas por tiros de revólver ou pistola provavelmente disparados por pessoas que estavam na praia, durante a queima de fogos.



Uma bala de Fuzil calibre 7,62 sai da arma com uma velocidade de 3.000 km por hora e volta ao solo com uma velocidade de 1.500 km por hora podendo causar uma perfuração com alta probabilidade de morte. Embora pese apenas 10 gramas, ao retornar o impacto pode chegar a uma tonelada devido à velocidade.



Uma bala de revolver calibre 38 sai da arma com velocidade de 1.000 km por hora e volta ao solo com velocidade de 400 km por hora, também podendo causar a morte. Um disparo com ângulo de 70° gera uma área de perigo de 530 metros. (Veja, 9.1.2008, p.66-67).



 



2008



 



Estudo divulgado em agosto de 2008 pelo ISP – Instituto de Segurança Pública do Estado revela que mais de um quarto (26%), da população da região metropolitana foi vítima recentemente de ao menos um entre 12 crimes relacionados. O levantamento mostra ainda que mais de metade (56%) da população não confia na Polícia Militar e que o maior medo, citado por 57% é ser vítima de uma bala perdida em seu próprio bairro. Segundo o sociólogo Michel Misse, da UFRJ “trata-se de uma taxa de vitimização muito elevada para um período de 12 meses. Em alguns países europeus, ela é de 30 a 32% para cinco anos”. (F s P, 20.08.2008, p. C-6).



As milícias surgiram em favelas da Zona Oeste carioca, por iniciativa de moradores, entre eles policiais. Elas se organizaram para não deixar os bandidos tomarem conta do lugar.



Estes grupos paramilitares formados por policiais civis e militares, ex-policiais, bombeiros, seguranças privados, militares e ex-militares das Forças Armadas com o tempo passaram a cobrar taxa de segurança de moradores e comerciantes e exploram negócios rentáveis em comunidades pobres, como venda de botijões de gás, transporte alternativo com vans e motos, rede clandestina de TV a cabo “gatonet” e taxas na compra e venda de imóveis e na cobrança de aluguel.



Uniformizados patrulham as comunidades armados com fuzis e pistolas equipados com radiotransmissores. Em várias favelas instalaram grades e portões com cadeados para impedir a entrada de traficantes. Em algumas há toque de recolher noturno.



Segundo dados do Núcleo de Pesquisas da Violência da UERJ as milícias já dominavam em 2008 mais favelas que as facções criminosas. Das 1.006 favelas, as milícias passaram de 11,9% em 2005 para 41,5% em 2008. O Comando Vermelho no mesmo período diminuiu de 50,1 para 40,8%%, os Amigos dos Amigos de 11,2 para 7,7%%, o Terceiro Comando de 9,7 para 7,4% e áreas neutras de 1,0 para 8,0%%. O avanço das milícias significa o fracasso da segurança pública e ao mesmo tempo os traficantes estão perdendo terreno. (F S P, 11.11.2009, p. C-4).



Em 2008 cresceu exponencialmente o número de chacinas. Apenas em janeiro foram registrados 25 casos com 99 mortes. Em todo o ano de 2007 ocorreram 21 chacinas, com 76 mortos. (F S P, 18.11.2008, p. A-26). Muitas chacinas estão ligadas à ação de milícias.



Para o sociólogo Claudio Beato, coordenador do Centro de Estudos da Criminalidade e Segurança Pública da UFMG, no caso do Rio de Janeiro as milícias “são ainda mais perigosas porque seus líderes operam dentro da polícia e se mantém ali quanto podem , galgando postos na hierarquia e evitando que os próprios crimes sejam investigados. Ou seja, elas têm poder no mundo formal... As milícias são o que há de mais parecido no Brasil com as máfias italianas. E tudo indica que conquistarão ainda mais território e poder”. (Veja, 14.12.2011, p. 20).



Em julho de 2008 foi preso em Campo Grande o deputado estadual Natalino Guimarães (DEM), ex-policial civil. Seu irmão, o vereador Jerônimo Guimarães Filho (PMDB) estava preso desde dezembro de 2007. Ambos são tidos como chefes do grupo armado que se autodenomina “Liga da Justiça”. Natalino foi enquadrado por porte ilegal de armas, formação de quadrilha armada, tentativa de homicídio e facilitação pessoal, pois um de seus comparsas era foragido da Justiça. (Veja, 30.07.2008, p.68-70).



Para se ter uma ideia do poder de fogo do grupo, na casa do deputado foram apreendidos um fuzil, duas escopetas, uma metralhadora e quatro pistolas.



Levantamento da PM indica que 98 assassinatos na região de Campo Grande desde 2000 estão relacionados ao grupo. Desde dezembro de 2007 cerca de 30 membros foram presos. O número de casos registrados na delegacia da cidade caiu de 97 de janeiro a abril de 2007 para 71 no mesmo período de 2008, indicando a desarticulação do grupo como causa da queda, de 26,8% maior do que a registrada em todo o Estado, de 8,7%%. Houve queda também no número de desaparecidos (17,4%). ( F s P , 24.07.2008 , p. C-4) .



 



 



 



2009



 



O número de vítimas de homicídio aumentou em 2009 no Estado do Rio de Janeiro, de 5.717, para 5.794, taxa de 34,6 casos por 100 mil habitantes, bem acima faixa epidêmica de homicídios, no critério do OMS que é de 10 casos por 100 mil habitantes. A alta foi maior na capital, de 4,1%%, com 2.155 mortes (F s P, 9.2.2010, p. C-3).



Em 2009 são 1020 favelas, 470 das quais estão nas mãos de bandidos. A dificuldade de acesso pelas vielas, à topografia montanhosa e a alta densidade populacional, as transformaram em trincheiras. Outras 170 favelas são dominadas por milícias que exploram clandestinamente serviços como venda de gás, transporte e até TV a cabo. Depois de desalojarem traficantes, matam e torturam inocentes nas áreas dominadas. (Veja, 28.10.2009, p. 107).



Em outubro de 2009 um helicóptero da polícia foi derrubado durante invasão do Comando Vermelho, que tentou tomar a favela de Vila Izabel dos rivais do ADA (Amigos dos Amigos). O piloto conseguiu pousar com o aparelho em chamas, mas dos seis ocupantes, três acabaram morrendo. Nos dias seguintes o confronto provocou 39 mortes e dez ônibus incendiados .Os bandidos dispõem de armamento pesado , capaz de perfurar blindagens.



 As facções do tráfico nas favelas do Rio de Janeiro perderam nos últimos anos parte da clientela de classe média, e seus lucros dependem cada vez mais das próprias comunidades, o que provoca maior disputa territorial entre elas Com isso os traficantes procuram diversificar suas fontes de renda com a taxação ou “concessão” de serviços como transporte alternativo (vans), distribuição de botijões de gás e moto táxi.



O fato de parte de a classe média ter deixado de “subir o morro” para obter drogas tem três explicações: o aumento da violência, com incursões policiais mais frequentes e traficantes mais truculentos; o aumento do uso de drogas sintéticas, como o ecstasy; e o tráfico operado pela própria classe média, com opção de pedir por telefone a entrega da droga. (F S P, 25.10.2009, p. C-1).



O Secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, afirmou em cinco de novembro de 2009 em audiência na Câmara dos Deputados que o Rio de Janeiro não é violento. “Tem núcleos de violência. Temos índices de criminalidade em determinadas áreas, europeus. As microrregiões onde acontecem eventualmente os confrontos, muitas vezes entre traficantes, não retratam a imagem da cidade como um todo. Isso acontece pontualmente e em alguns lugares da cidade. É no mínimo injusto ou temerário dizer que o Rio de Janeiro é violento”. (F S P, 6.11.2009, p. C-2). 



No Rio de Janeiro, para escapar das balas perdidas um prédio da Petrobrás que fica a poucos metros de comunidades onde tiroteios entre traficantes e a polícia são frequentes, como o morro de São Carlos, foi blindado em toda a sua fachada, com área de 1500 m2, a maior obra de blindagem já feita no país a um custo não revelado. Os vidros espelhados resistem a tiros de fuzil AR-15 ou Ak-47. (f s p, 30.05.2010, p. C-4).



Em 2009 são cerca de 200 áreas pobres, incluindo favelas, dominadas por milícias , segundo a Draco (Delegacia Organizada de Repressão ao Crime Organizado), e 328 favelas ocupadas pelo tráfico.



 



 



 



 



2010



 



Dois pastores de Igreja Mundial do Poder de Deus foram flagrados pela Polícia Rodoviária Federal em Mato Grosso do Sul, rumo ao Rio de Janeiro, levado no carro, sete fuzis M15 escondidos nos vãos das portas e sob o banco traseiro. São armas empregadas pelas Forças Armadas , capazes de atingir um alvo a 3 quilômetros e perfurar coletes à prova de balas e tinha como destino uma favela de São Gonçalo , município da região metropolitana do Rio de Janeiro que funciona como entreposto de armas e drogas para a capital . A prisão confirma a suspeita da polícia de que certas igrejas evangélicas com filiais em favelas cariocas mantém relacionamento promíscuos com os traficantes de drogas, servindo como mera fachada para negócios escusos. (Veja, 17.03.2010, p. 96). 



Investigação policial feita na favela Gardênia Azul, na Zona Oeste carioca, que resultou no processo número 0027367-84 2011 8 19 0203 em relação às eleições de 2010 indica que ali foi constituído um típico curral eleitoral. Foram apreendidos boletins oficiais de sete urnas da região, indicando quantos votos recebeu cada candidato a deputado estadual ou federal, governador e presidente. Com essa contabilidade, segundo a investigação, os marginais puderam saber se suas ordens realmente haviam sido obedecidas.  A polícia encontrou ainda uma lista atualizada como nome de boa parte da população adulta da favela, seguido do respectivo endereço e número do título de eleitor.  Segundo o delegado Antônio Ricardo, a quadrilha foi além:” Há indícios concretos de que esses bandidos obrigavam muita gente da favela a transferir o título para o Rio, justamente para votar no candidato escolhido por eles”.



Segundo estudo da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, em 2005 as milícias controlavam 10% das favelas cariocas e em 201 controlam 41%. Em setembro de 2012, a Secretaria da Segurança enviou ao Tribunal Eleitoral Regional (TER), 25 nomes de candidatos suspeitos de integrar milícias. (Revista Veja 26.09.2012, p. 74-75).



 



UNIDADES DE POLÍCIA PACIFICADORAS



 



Em dezembro de 2008 o Morro Dona Marta foi ocupado de forma permanente pela polícia. O governo pretende ocupar também as favelas Babilônia, Chapéu Mangueira (Leme, zona sul), e Batan (Realengo zona oeste).



Os 120 policiais foram especialmente designados para esta tarefa e recém-saídos da academia receberam treinamento especial em policiamento comunitário. Seu trabalho será vigiar as ruelas e garantir que os traficantes não voltem à ativa.



O efeito em Dona Marta foi que os traficantes tiveram que se mudar a 4 km de distância, nas favelas do Fallet e do Fogueteiro (Catumbi, zona norte), para onde levaram fuzis, granadas, cocaína e maconha.



Em Cidade de Deus, grande favela na zona oeste, também a PM ocupou a comunidade, mas o tráfico, mesmo fragilizado, continua atuante, mas a comunidade não está mais dominada pelos traficantes. (F S P, 19.12.2008, p. C-4).



A Secretaria da Segurança Pública planeja instalar 43 UPPs para atender a 156 favelas. Para isso terá de ampliar em 12 mil o contingente de policiais. Não há cálculo oficial de custo, mas só o aumento do número de policiais deve aumentar em mais de R$ 144 milhões por ano a folha salarial, cerca de 12% a mais no atual orçamento. (F s P, 25.10.2009, p. C-3).



Estudo feito pelo economista Sérgio Ferreira Guimarães estima que o tráfico empregue na cidade do Rio de Janeiro 16 mil pessoas, vende mais de cem toneladas de droga por ano e arrecada R$ 633 milhões por ano. (F S P, 28.11.2010, p.C2 -6).



O modelo adotado no Rio de Janeiro repete o que foi feito na cidade colombiana de Medellín a partir de 2002 na Comuna 13, conjunto de favelas. Porém, após a queda entre 2002 e 2007, de 184 para 33,8 por 100 mil habitantes, a cidade viu a taxa de homicídios voltar a subir, chegando a 94,5 em 2010. ( F S P , 2.1.2011, p. C-3) .



Em novembro de 2010 o Complexo do Alemão foi ocupado em operação memorável da polícia carioca, que contou com o apoio de blindados e tropas de elite das Forças Armadas. Com a chegada dos policiais os bandidos fugiram de forma ostensiva e as prisões foram reduzidas. Das cerca de 1.500 pessoas, a maioria jovens, que comprovadamente trabalhavam para o tráfico, pouco mais de uma centena foi presa. (Veja, 8.12.2010, p. 140-144).



Até 2011, após três anos de instalação da primeira UPP tinham sido presos apenas dois dos 25 chefões das áreas ocupadas pelo Estado. Por isso, em setembro traficantes atacaram soldados no Morro do Alemão demonstrando que continuam ativos. (Veja, 14.09.2011, p. 65).



Mostrando a dimensão do problema o Secretário da Segurança do Rio de Janeiro, Mário Beltrame afirma “É preciso entender também que 40 UPPs beneficiarão 135 comunidades. No Rio, há 900 complexos de favelas. Só o Alemão tem 18 comunidades.” (Exame, 20.10.2010, p. 57).



 



COMPLECO DE MANGUINHOS 2012



 



Em 14 de outubro de 2012, 2.000 homens das polícias civil, militar, federal e fuzileiros navais ocuparam as favelas do Complexo de Manguinhos, um dos pontos mais violentos do Rio. Não houve resistência. Ao mesmo tempo, agentes fizeram uma incursão pela favela do Jacarezinho, onde foram recebidos a tiros, mas não houve feridos. Nos próximos meses, até ser completada a ocupação, a região será monitorada com ações pontuais. Em Jacarezinho funcionava uma das maiores cracolândias do Rio de Janeiro, região tão perigosa que ficou conhecida como “Faixa de Gaza” pelos enfrentamentos entre facções e a polícia. O governo pretende instalar UPPs nas favelas de Manguinhos, Varginha e Mandela até dezembro e em Jacarezinho em janeiro de 2013. ( F S P , 15.10.2012, p. C-3) .



 De 2008 a 2011 foram instaladas 30 UPPs. (Revista Veja, 30.01.2013, p. 57).



 



 



COMPLEXO DE LINS 2013



 



O Complexo de Lins, um conjunto de onze favelas encravado na banda mais pobre da Zona Norte carioca, está sob o domínio da bandidagem há quatro décadas.  Mas cumpria papel secundário na organização da principal facção criminosa do Rio de Janeiro, o Comando Vermelho.



Porém, com a implantação de diversas Unidades de Polícia Pacificadoras, o lugar se converteu em um grande bunker do tráfico, passando a servir de abrigo a marginais de vários morros do Rio.



Imagens captadas à distância pelo Serviço Reservado do Batalhão de Choque da Polícia Militar mostram criminosos perambulando pelas vielas do novo QG do crime, à luz do dia, promovendo um desfile de pistolas, granadas e fuzis, além de portarem papelotes de cocaína.



A geografia da área é um grande obstáculo, com seu emaranhado de becos e vielas e uma infinidade de acessos que se descortinam por matagais que só os bandidos conhecem com a palma da mão.



A região deverá ser ocupada por UPPs até o final de 2013. (Revista Veja 30.01.2013, p. 56-57).



 



MANGUEIRA



 



A instalação de uma UPP, no Morro da Mangueira não inibiu a ação de traficantes de drogas na comunidade.



Embora a polícia esteja presente há 18 meses e o Polegar, Alexander Mendes da Silva, chefe do tráfico na área tenha sido preso no Paraguai, à situação continua perigosa em fevereiro de 2013.



A polícia tem informações de que, apesar de preso em uma penitenciária de segurança máxima, em Porto Velho (RO), ele ainda comanda o tráfico no morro, o que desmentiria a ideia de que a transferência de presos para as penitenciárias federais os tornariam incomunicáveis.



Em fevereiro de 2013, três pessoas ligadas à favela foram assassinadas e a polícia investiga se esses crimes tem ligação com a disputa pela venda de drogas na comunidade. O comércio, por causa dos assassinatos, fechou as portas por dois dias, em sinal de luto, situação que era comum no Rio de Janeiro antes da pacificação das favelas e a primeira vez, em uma comunidade com UPP, que os traficantes conseguiram fazer isso. (F S P, 23.02.2013, p. C2- 3).



 



COMPLEXO DA MARÉ 2013.



 



No dia três de março de 2013, o governo estadual iniciou a ocupação do Complexo da Maré, a partir do Caju, para instalar na região a 31ª e a 32ª Unidades de Polícia Pacificadora do Rio de Janeiro.



O Complexo da Maré é uma imensidão de casebres de tijolos e casebres que margeia a linha Vermelha, um dos principais acessos á cidade. Junto com o vizinho Caju, era a área mais populosa da cidade ainda sob o domínio da bandidagem, com 150 mil moradores, vigiados por marginais circulando pelos becos com rádios de comunicação e fuzis.



È o último enclave do crime situado no cinturão em torno dos locais que serão palco dos megaeventos esportivos sediados no Rio até 2016, portanto a remoção dos marginais da região é prioritária.



São 13 favelas do Caju (na região portuária) e a Barreira do Vasco (na zona norte). A ocupação contou com 1.500 policiais e 200 fuzileiros navais e o apoio de 17 blindados da Marinha, como em outras operações anteriores. O objetivo é dominar todo o complexo até junho, às vésperas da Copa das Confederações. Em 25 minutos e sem o disparo de nenhum tiro a área foi ocupada. Foi a mais tranquila entre todas as anteriores em quatro anos de programa de UPPs.



Foram usadas britadeiras e retroescavadeiras para destruir barreiras de concreto construídas pelo trafico para dificultar a entrada na área. Foram presas pelo menos sete pessoas, mas nenhum chefe do tráfico. Foram apreendidos, entre outras armas, 14 fuzis, duas submetralhadoras e 24 granadas, além de 86 kg de cocaína e 263 kg de maconha.  A área era dominada pelas facções criminosas Comando Vermelho e Amigos dos Amigos (ADA).



O Batalhão de Choque utilizou um equipamento chamado “mochilink”, da empresa Live U, para transmitir em tempo real a ação da PM. De origem israelense, o equipamento transmite o passo a passo da tropa dentro da favela com um intervalo de três segundos para quem recebe o vídeo.



Segundo a secretaria de Segurança Pública, a operação começou no dia 14 de fevereiro e o dia três de março foi apenas o dia “D”. Desde então já foram presas 284 pessoas e 36 menores apreendidos em 20 comunidades que seriam utilizadas como rotas de fuga pelos criminosos ou receptadores de armas e drogas. (F S P, 4.3.2013, p. C-3).



Investigações revelaram que o tráfico controlou a região com apoio de policiais corruptos. 



O primeiro esquema descoberto era liderado por um bando da Delegacia de Combate ás Drogas, que, recebia um “mensalão”. Eram pagos R$ 12.000,00 por dia, pelo traficante Marcelo Santos das Dores, o Menor P, integrante do alto escalão do crime, a um cabo do Bope, que rateava o dinheiro entre seus colegas de plantão. Em troca, eles nada faziam contra o tráfico e a ação dos criminosos. O descaramento era tanto que, em 2009, Menor P chegou a “alugar”, um blindado da PM para avançar sobre os domínios de uma facção rival. Ele distribuía presentes a todos e até promovia peladas com jogadores de grandes times do Rio. Nenhuma celebridade passava pela favela sem lhe render uma visita. (Revista Veja, 6.3.2013, p. 74).



 



 



 



  


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