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cronicas-->17. A BOLA DE FUTEBOL -- 26/09/2002 - 06:06 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Meu filho de três anos chutou a bola que o pai lhe deu e quebrou um vaso precioso pela doce recordação de minha mãe. Não que ele tivesse tanta força ou que a bola fosse excessivamente pesada. Teve o azar de levantar a bola, encontrando a valiosa peça na beirada do móvel. Caiu e espatifou-se.

Eu sempre fui mãe amorável, porém, naquela hora, subiu-me o sangue à cabeça e, para não dar umas palmadas na criança, peguei uma tesoura e cortei o plástico inteirinho.

Arlindo escondeu-se, sentindo-se ameaçado. Quando meu marido chegou, o fedelho logo foi contar o sucedido, dando relevo à bola e não ao objeto que destruiu.

Com toda a paciência do mundo, o pai saiu (era hora do almoço), levando o filhinho no colo. Meia hora depois, voltou com uma outra bola, maior e mais colorida, e outro vaso, mais alto e mais caro.

Não me senti arrependida nem envergonhada. Estava ainda furiosa e quase que briguei com o Renato. Em todo o caso, lhe disse:

- Você vai estragar esse menino, fazendo-lhe todas as vontades. Ele estava merecendo umas palmadas.

Como resposta, recebi carinhoso abraço e um beijo na face, antes de dar um empurrão nele para repor as coisas nos lugares de antes.

- Por que você está fazendo isso comigo? - perguntei, crente de que teria motivo de confronto, qualquer que fosse a resposta.

Ao invés de responder diretamente, Renato simplesmente acercou-se da mesa, serviu-se de sopa e pós-se a comer em rápidas colheradas, afirmando entre elas:

- Hoje o escritório vai receber a visita do dono da empresa e precisamos estar todos lá para saudá-lo. Você não quer vir comigo?

Ele sabia que eu não poderia ir. Não notei na hora, mas Renato desviara a conversa para outra razão de desavença. Caí como um patinho:

- Você sabe muito bem que tenho de levar o Arlindo (quase soltei um Arfeio) à creche. Depois, preciso acertar os ponteiros com as empregadas, que me estão aporrinhando a paciência.

Mais diria, se ele não se levantasse, pusesse o paletó e saísse, não sem antes se despedir como de costume, beijando-me a mão e o rosto, prometendo voltar na hora de costume. Quando se despediu do filho, recomendou-lhe:

- Não se esqueça do que o papai disse: chutar a bola, só lá fora e quando a mamãe deixar. Se você quebrar mais alguma coisa, ela tem todo o direito de cortar a sua bola. Está certo?

Não sei se a criança entendeu tudo direito, mas aquelas palavras me calaram fundo na consciência.

Durante toda a tarde, meditei a respeito do desregramento da manhã. Deixei de cobrar das empregadas, suspeitosa de que poderia exagerar nas recriminações, porque estava sentindo-me bastante instável emocionalmente.

Zelosa dos bens morais, cultivando a frequência a um centro espírita, à noite, tendo deixado o Arlindo com a babá, meu marido me levou para a reunião mediúnica semanal.

Lá chegando, estive bastante arredia, temerosa de que algum espírito pudesse vir recriminar-me a fúria com que agredi a criança. Mas não contei nada a ninguém.

Quando ia pela metade a sessão, baixou uma entidade que se identificou como um parente meu distante. Na voz de uma médium bem falante, dedicou alguns minutos para me enviar uma mensagem:

- Clarência, querida, fique na paz do Senhor, na companhia de seu marido e de seu filho. Você está preocupada hoje por haver partido um brinquedo do filhinho, o que a trouxe com medo de receber um forte puxão de orelha. Na verdade, o que você fez não foi bonito, mas, antes de curvar-se perante sua insuficiência de virtudes, é preciso que entenda a razão primordial de ter agido de forma até violenta. Você está num período de tensão pré-menstrual, simplesmente. Sabendo que fica nervosa à toa, era preciso que tomasse mais cuidado com as reações emocionais à flor da pele. Tome estas palavras como um conselho de quem a ama e pretende protegê-la contra todos os males. Você estava até pensando que se tratava da influência de algum espírito zombeteiro ou infeliz. Poderia até haver acontecido de você ter dado a alguém do tipo a oportunidade de prejudicá-la. No entanto, lá estávamos nós, os seus amigos, tentando amenizar os efeitos do ato daninho que tanto a provocou. Para que saiba, eu só estou aqui conversando com você porque sua mãe me pediu, já que ela se sente meio culpada por você não prestar atenção a certos fenómenos orgànicos. Você se lembra de que sofreu uma boa surra em certa ocasião, quando deixou cair a caixa de porcelana chinesa, verdadeira relíquia familiar? Pois esta é outra razão para explicar a sua conduta. Como vê, para cada pequena atitude desequilibrada, há um conjunto de fatores que devem ser levados em conta para seu entendimento. Por sorte, conseguimos iluminar o Renato, de forma a mantê-lo sereno e cónscio de sua condição psíquica daquele momento. Foi o que pudemos fazer em seu favor, contudo, não se esqueça de que, em próxima situação semelhante, você terá de responder sozinha pelos seus atos, já que está tendo oportunidade de refletir bastante sobre tudo que passou. Como derradeira recomendação, se o Arlindo quebrar mais alguma coisa, sorria, pensando que ele também irá passar por momentos de constrangimento. Como conseguir sorrir? É fácil: lembre-se de elevar seus pensamentos a Deus, orando com fé em que receberá as instruções espirituais mais adequadas para compreensão e superação dos problemas. Fiquem na paz do Senhor! Graças a Deus!

Até hoje agradeço as sábias palavras de meu querido protetor, agora reencarnado e em plena labuta espírita.

Quando meu filho, bem mais tarde, bateu o carro e quase perdeu a vida, tudo me voltou à memória, o que espero que aconteça aos caros leitores através do relato da minha experiência, para que não precisem sofrer no coração nenhuma bolada infantil...

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