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Cronicas-->Dona Catarina -- 26/09/2002 - 15:15 (Hamilton de Lima e Souza) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ontem vi uma mulher parecida com Dona Catarina, Catarina Alves, depois, Santos Lima. Parecida, porém com um sorriso saudável, desprovida de tristeza.
Dona Catarina, nossa vó materna, triste desde quando menina. Perdeu pais, depois casou nova, mais tarde perdeu um filho, o João Carlos. Aí o trabalho se misturou com depressão, nunca mais conseguiu sorrir. Apenas esboçava um leve traço de alívio em raras ocasiões. Sempre visitava Dona Catarina no Natal e no Ano Novo, datas depressivas, onde apenas algumas lágrimas brotavam de seus olhos, sempre pensando nos pais, nos irmãos distantes, nas filhas que casaram e foram para outros estados.
Dona Catarina não entendia nada de livros de filosofia, mal sabia ler e tinha medo de se expressar diante dos netos, tolhida pela vida que negou tantos direitos, inclusive uma existência mais digna, principalmente pela perseguição política sofrida pelo marido, o velho Natalício dos Santos Lima.
Foram vítimas do destino no acidente que vitimou João Carlos, vítimas da intolerància política que assolou o Brasil em 1964, com respingos duradouros.
Morreu antes de chegar aos 60 anos, vítima de complicações diversas. Nem viu o país beber das águas democráticas. Foi por volta de 1983, quando se articulavam as campanhas buscando as eleições diretas.
A mulher parecida estava num restaurante. Dona Catarina não gostava nem de restaurante nem de viagens. Conheceu pouco de sua terra, mesmo do Rio Grande. Foi uma dessas pessoas que nunca conseguiu entender o que era cidadania, pois gente de baixa renda não é cidadã, é sobrevivente.
Se houvesse saúde preventiva em seu tempo talvez tivesse ultrapassado as dificuldades de seu tempo. Poderia ter feito uma terapia, estas coisas de primeiro mundo.
Ela e suas vizinhas sabiam ajudar os maridos e fazer filhos, muitos filhos. Foram dez, marcas de uma época em que os métodos contraceptivos ainda eram uma esperança. E quando chegaram ainda foram atacados pela igreja, que não percebia que havia uma grande massa em expansão, em direção a fome.
Dona Catarina cozinhava bem, fazia pães e doces, enchia a alegre barriga dos netos e vizinhos. Sua grande alegria se resumia a isso. Tantas Catarinas como esta fizeram parte daqueles dias passados no Rio Grande, tantas mulheres esperaram pelo sol sem vê-lo realmente... O tempo passou, como passam as águas e os pensamentos, mas fico a pensar se um dia aquela mulher sorriu realmente e porque a vida parece um livro invertido para algumas pessoas.
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