"A vida nos faz tão pequenos/Nos preparamos pra muito/E vivemos por menos..."
(Seu Amor Ainda é Tudo - Moacir Franco)
Trocamos de muletas
De próteses, de ampulhetas
Como trocamos de dentes de leite ou de desodorantes
Trocamos o magno Sermão da Montanha
Por votos ignóbeis e velas a bizantinos santos de pau oco
Trazidos dos cafundós das trevas medievais
E até tentamos destemperadamente transformar nossos filhos inteligentes e sensíveis em bruxos
Trocamos a válvula de escape da solidão pelo piano-bar
O tácito ódio adquirido pela nicotina com soda cáustica
O desejo pelo crime desorganizado de nossas neuras sublimadas
E as nossas fugas limites encontram poleiros de miserabilidade em cocaínas transgênicas
Trocamos nossa alma límpida por uma temporária casa de veraneio
Nosso recesso do lar por um caríssimo carro importado
E a nossa pós-graduação por angústia e estresse com gula de exóticos pratos orientais
Trocamos de amores clandestinos
Como trocamos de combustível
Vivemos uma pirotécnica promiscuidade social
Como se enfeitássemos as disfarçadas condições do Hades
E seus piratas abismais com chips
Trocamos de roupas de moda
Mas a alma está insustentável e nua
Perdidos trocamos de profissão e provedor íntimo
E acabamos todos ótimos especialistas em Nada!
Trocamos de canal todo instante
No zigue zaping da tevê
Porque não temos emoção espiritual cabível
Para nos sustentarmos em nossos hábitos formais
E estamos perdidos de nós mesmos
Trocamos nosso bucólico quintal caseiro
Pelos filtros mágicos em zil dimensões da Internet
Nosso bosque de olivais e laranjeiras pela tevê a cabo
Trocamos nossos graciosos livros da infància
Por um bisonho video-game qualquer
E jogamos nossa vida no lixo fétido do consumo sistematizado
Trocamos nosso merecido descanso de final de semana
Por uma noite de insónia periculosa
E os nossos sonhos e espíritos por diabetes
Trocamos uma estadia com nossos genitores por viagens
Nossos amigos por engarrafamentos tóxicos nas estradas perigosas
E nossa paz interior por idiotas livros esotéricos do tempo das cobras babilónicas
Trocamos irmãos por bugigangas de entretenimentos
Damos cheques como se expuséssemos as vísceras
De nossos tiques nervosos disfarçados
E já não sabemos trocar de expectativas como andaimes
Porque fomos enganados por várias delas
Trocamos de senhas mirabolantes que inventamos criativos e com pose de infalibilidade
Nos bancos, nos sites, na adega e na locadora
Porque temos muito medo de sermos descobertos
De nos revelarmos metamorfoses ambulantes
Na pele e osso do nosso caráter melindrado e duvidoso
Trocamos de cursos de todos os tipos exóticos
Trocamos de empregos e serventias de percurso
Tudo isso como se trocássemos ocasionais pneus
Quando o combalido coração está pisado
Maquiando uma interna angústia-vívere
Trocamos nossa desfaçatez ou alergia aos humildes
Por operações plásticas e viagens para Miami em cem prestações mensais de sacrifício
E a nossa religião de berço por circos de togas com grife
E oportunistas falsos cristãos como se cangurus televisivos
Trocamos nossa alma sem peças de reposição
Por afetos espúrios com amantes até do mesmo nojo
E no sentimos livres como vermes de mamutes
Trocamos o sagrado pijama do lar
Pelas càmaras de seguranças dos shoppings lotados como se mata-burros
E assim vamos nos dando como mamíferos-cobaias
Na jaula do incrível disfarce óbvio e ululante
Trocamos o voto ao nosso companheiro de usinas e moinhos
De buscas por justiça social, com ética plural comunitária
Por um ordinário posudo com sobrenome bonito de antro
Ou um emprego jóia só para ganharmos sem trabalhar
Trocamos a colcha de retalhos da casa de nossa mãe santa
Pelo edredon da curiosidade ou do álcool em noitadas sem saúde
Mais o contrabandeado antibiótico falso
Que nos disfarçará o medo terrível do que certamente cedo ou tarde fatalmente se nos virá
Trocamos o manjar de ameixa ou o boi ralado da carne moída com batatas feito picadinho caprichado
Pelo hambúrguer de minhocas enlatadas
E pelo refrigerante diet sabor pinho-sol ou creolina light
Trocamos o belo e santo jornal domingueiro
Por uma ressaca de uma noite epiléptica
Quando nos descascamos na sauna-boate de duvidosos modismos eletrónicos
Como se uma música de símios com rabos de pangarés
Juntamos nossa santa cela de amargura e esperança suja
Com soníferos e bibelós contrabandeados do Paraguai
Pois temos o status de uma quadrilha informal que sugere imunidade
Trocamos nosso precioso arroz com feijão rotineiro
Por marmitex de freezer, microonda e atuns plásticos importados de zonas livres globalizadas
Onde o trabalho escravo é infantil
Trocamos de cruz
Todos são culpados menos nós mesmos
Nosso fracasso é uma soma de inverdades e fantasias com engodos açodados pela concorrência desleal
Além do medo de sabermos realmente a verdade daquilo que apenas pensamos que somos
Trocamos de cama e colchão mas a nossa consciência é que está pesada
Não é o colchão, o "El Ninõ" ou o vigia-noturno novo
Estamos descabidos de conteúdos e armados de amarguras
E queremos azedar a polenta da vida pura e simples que tínhamos e perdemos por ninharias
Trocamos de analista e de amigo ombro confidente
Mas estamos completamente perdidos
Nunca trocamos uma palavra com Deus
Para auferirmos uma força-tarefa em nossa eterna busca
Da estrada que vai dar no sol...
Trocamos de aparelhos nos dentes
Porque queremos ficar bonitos, vaidosos, prontos pras pelejas amorais de ocasião
Mas é dentro de nós que falta o essencial e estamos ficando feios e com cara de bichos urbanos
Que crendice, livro de auto ajuda, ou resignação não resolve
Porque somos os mesmos por eternidades dividas em dimensões Até o terreal pote de ouro ao final do arco-íris
A consciência-luz
Trocamos figurinhas carimbadas com o diabo
Que nos vem disfarçado de posses, altares, efeitos sonoros e desarranjos hormonais
E até arrotamos estéticas conclusões de verdades pífias
Quando a violência é sublimada e a infelicidade de alguma forma já aceitamos no limite
O que fizeram de nós, amigos e irmãos?
Civilizados e inúteis?
Estudados e ainda somos ovelhas tosquiadas
No curral das aparências?
Pior: O que vamos fazer disso tudo que fizeram de nós?
Filhos órfãos de alguma maneira
Pais abandonados de vários jeitos
Amigos esquecidos em estradas de tijolos amarelos
Que ainda, chorando, desesperados e sem recursos
Esperam por nós, numa encruzilhada de aló, de um afeto, um beijo, um abraço, um aperto de mão.
E não voltamos, não demos retorno, não fomos ajudar
E nem sequer abrimos o cofre de nossas imperfeições com lotes de cartões de avarezas
E ainda nos dizemos Seres Humanos
Modernos, com a casca grossa de nossa arrogãncia-lustre
O coração criando feridas, colocando gorduras em artérias de sentimentos esquecidos
Nos preparando a dor para a inevitável ponte de safena
Mais outros estereótipos, arquétipos e neuroses
Tudo com internacional sabor Hollywood
Porque não conjugamos direito a Lição do verbo VIVER
Já que somos meras carcaças a base de trocas
E a nossa oprimida alma ainda está amaciando estadia no Jardim do Èter de nossas limitações.
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(Rascunho um - Inédito)
Poeta Prof. Silas Corrêa Leite - de Itararé-SP - Membro da UBE-União Brasileira de Escritores - Pós-graduado em Educação, Relações Raciais, Inteligência Emocional e Jornalismo (ECA-USP)
Texto da Série "O Amor é O Melhor Remédio"
Sites pessoais:
www.poetasilas.hpg.com.br
www.silaspoeta2222.kit.net
E-mail:
poesilas@terra.com.br - Livro Virtual (e-book)
Ele Está no meio de nós no site
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