Usina de Letras
Usina de Letras
164 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62219 )

Cartas ( 21334)

Contos (13263)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10362)

Erótico (13569)

Frases (50614)

Humor (20031)

Infantil (5431)

Infanto Juvenil (4767)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140800)

Redação (3305)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6189)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->18. BEIJOS ARDENTES -- 27/09/2002 - 06:12 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Fui beijada de muitas maneiras durante a vida. Minha mãe e meu pai me davam seu profundo amor e proteção e me beijavam com o ardor do orgulho e da felicidade.

Tive irmãos mais velhos e mais novos. Estes também, cada vez mais com o passar do tempo, sempre que nos encontrávamos após meses de separação, me sapecavam calorosos beijos de confraternização e de desejo de saúde e prosperidade.

Meu marido me assaltava com ternura, tendo sido o único a quem ofereci meus lábios, para dele receber beijos de paixão e de luxúria.

Também tive filhos, que me queriam com respeito e veneração, porque sempre me dediquei a eles com muita alegria e verdadeiro apego maternal. Deles recebi, até bem idosa, beijos nas mãos e nas faces, tendo sido os últimos que sobre a minha pele enrugada depositaram os ósculos do final da vida.

Houve, porém, outros tipos de beijos, muitos meramente protocolares, outros nem tanto, porque não exprimiam os reais sentimentos de quem os dava. Eram beijos que não deixavam marcas morais na hora, mas que me queimavam, quando descobria as verdadeiras intenções dos impostores.

Não sou capaz de refrear a vontade de compará-los ao beijo que deram em Jesus na noite da captura. E está dito tudo.

Mas as impressões sensórias se deixam registrar no perispírito indelevelmente, de sorte que as aproximações furtivas da inveja, do ódio, do ciúme, da falsidade e demais sentimentos ruins acabam por ser analisadas com rigor, após o desenlace.

Às vezes, sentimo-nos traídos, porque o nosso beijo tentava corresponder com meiguice e confiança aos que nos aplicavam de má-fé. Outras vezes, o sentimento era de frustração, porque medíamos o nosso adversário encapuzado pela medida de nossa honestidade e pureza. Finalmente, muitos nos provocaram apenas indiferença e repúdio, estes porque eram descobertos desde cedo ou nos despertavam prévia repulsa.

Tais impressões me causaram muita angústia, assim que me vi consciente na erraticidade. Esperara em vida ser recebida desde logo em regiões de bem-aventurança, tão severa fui com todos os princípios morais e religiosos. Também aceitei pacificamente o papel de dona de casa, não remoendo raivas nem contrariedades. Ajudou-me, neste ponto, o fato de ter seguido as diretrizes (não todas) de Kardec. Mas a obsessão pelos beijos me oprimiu o coração por um tempo indefinido que me parecia eternizar-se.

O primeiro repelão da consciência sofri quando adivinhei que nem todos os meus beijos tiveram o dom transparente da sinceridade. Além de beijar socialmente nos encontros ocasionais e nas festas e reuniões, também retribuí amplexos de quem sabidamente tinha aversão por mim e pelos meus. Esse conhecimento não auferi completamente durante a vida, no entanto, sabia que havia pessoas, mulheres, naturalmente, que me cobiçavam os vestidos, as jóias, a casa, os filhos e o marido. Mas eu retribuía os agrados, sem caracterizar a prevenção.

Soubesse naquela hora o que sei hoje, teria evitado chegar-me com tanta desfaçatez, já que a teoria das vibrações captadas metafisicamente me despertou para o fato de que ninguém fica sem conhecer as verdadeiras sensações morais dos que estão ao redor. Mas essas sensações causaram-me mal-estar e a necessidade de superar os defeitos que percebi impregnados na personalidade.

Aqui na colónia, só se confraternizam amoravelmente os que se sabem queridos. Simples afeição por admiração ou respeito queda no àmbito dos cumprimentos formais, sem afetação, contudo. Beijar ardentemente, nem pensar, porque existe um campo de resguardo do perispírito que impede a contaminação sentimental, tendo em vista o grau de imperfeição que ainda portamos.

Vão pensar que temos medo de receber micróbios e vírus extrafísicos. Nada mais absurdo. O que se passa, na realidade, é que todos os que aqui convivem harmoniosamente têm introjetado no íntimo do ser o conhecimento de que todos estamos evoluindo, mercê da ajuda que conseguirmos dos demais e que pudermos oferecer. Trata-se de obrigação cujo envolvimento emocional é o mais completo possível. Sendo assim, se formos sensibilizar-nos a cada visão dos amigos, nada mais faríamos no àmbito da colónia.

Apenas um raciocínio simples por absurdo. Vocês já refletiram a respeito dos trilhões e trilhões de criaturas que amam e são amadas por Jesus? Querem crer que seja possível a entidades de tanta pureza ficarem a trocar afetos labiais pela eternidade? Será que não têm nada melhor para fazer?

Claro está que estou exagerando, mas a verdade é que, neste ponto em que nos encontramos, ainda esperamos ver retribuídos com sinceridade muitos beijos ardentes.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui