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cronicas-->CARA SUJA NO PICADEIRO -- 27/09/2002 - 14:12 (Airo Zamoner) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Não sei se acontece com vocês. Comigo acontece! O tempo tem encurtado um pouco a cada dia que passa.
Os cientistas afirmam o contrário, mas acho que tem algo acontecendo e que está fora do alcance de nossa ciência. O tempo está ficando cada vez menor! Dizem que é apenas uma sensação, porque a vida de hoje é mais agitada, mais corrida, mais estressada. É verdade! Mas não acho isso suficiente para explicar essa desconfiança que vem se avolumando a cada novo dia.
Esse fenómeno escapa aos nossos padrões de medição. O ano continua com seus intocáveis doze meses. Os meses não tiveram redução de dias. Estão intactos. As vinte e quatro horas do tempo nosso de cada dia, ainda são as mesmas. Os minutos? Bem eles parecem ser ainda sessenta para completar uma hora, assim como os segundos ainda estão agrupados no compló eterno, em sessenta impolutos membros.
O que eu ando desconfiado é que os malditos segundos já não são mais o que eram no passado. Por algum mistério que ainda vamos explicar um dia, eles encolheram. É por isso que anda aumentando a longevidade. Estamos vivendo mais? Que nada! Mera ilusão ocasionada pelo encurtamento do tamanho do miserável segundo.
Quer mais uma prova? Veja só! Parece que foi ontem que elegemos nossas esperanças, colocando nelas os enfeites simbólicos das faixas e diplomações. Jogamos lá, todos os nossos parcos e miseráveis reais. Isso parece que aconteceu agorinha mesmo, no entanto uma turma de excitados já está aparecendo a todo momento diante de nós. E é engraçado como eles surgem por todos os buracos possíveis para dizer que agora sim vão cuidar do nosso futuro. E afirmam categóricos que precisam voltar para dar continuidade aos planos incríveis que irão, desta vez sim, realizar todas as nossas esperanças!
Nesta hora ficamos aqui a pensar com nossos zíperes: nós os colocamos lá dentro dos motores do poder para moverem nossos desejos e nossas necessidades, mas essas máquinas estão velhas e muito sujas. Basta ver como eles voltam de lá emporcalhados. Emporcalhados, mas intrigantemente sorridentes, dizendo que querem mais.
É assim que sorrateiros, entram em nossas vidas por todos os buracos imagináveis, pois adoram buracos. Entram deseducados pelo buraco retangular dos tubos de nossa mídia. Invadem o buraco de nossos ouvidos. Arrombam o buraco das nossas frustrações. O mais engraçado é que eles já chegam trombando uns nos outros e oferecendo um espetáculo circence dos mais ridículos.
Já não tenho mais paciência para rir. O tempo, como já disse, está encurtando. Está curto para realizar nossas esperanças. Esperanças que somos obrigados a reavaliar todos os anos. Encolhem, porque a vida vai passando e percebemos já não existir mais tantos segundos, ou minutos, ou dias de sobra para realizá-los. E por quê? Porque esses alegres atores estão sempre inventando mais uma forma de retardá-los mais um pouco para nós e apressá-los mais um pouco para eles.
É! É verdade! Como estão faceiros e lépidos! Estão chegando com as mesmas caras sujas de uma sujeira que eles não conseguem ver nem com os melhores e importados espelhos de alta tecnologia chinesa. Mas nós estamos vendo!
Antigamente descobrimos que o rei estava nu. Hoje vemos que ele e sua corte além de nus, estão muito sujos. Sujeira que não os incomoda, como não os incomoda se o tempo espichou ou encurtou, pois os sonhos deles se realizam a cada segundo. O que importa se o segundo ficou mais curto?
O que eu gostaria mesmo, nesta hora em que esta turma vem invadindo o picadeiro, era que todos nós nos uníssemos e nos equipássemos com sabão, detergente e escova de aço, para lavar essas caras sujas. Quem sabe assim, poderíamos recuperar nossos sonhos perdidos no encurtamento criminoso que eles andam fazendo às escondidas, dos nossos malditos segundos.

Airo Zamoner é escritor
airo@cepede.com.br

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