Desde que descemos das árvores e fomos comer a maçã proibida, domesticando a terra, a água e os animais, quebramos e seguimos tradições. Passamos por pedras polidas e outras lascadas. Fomos reis e escravos de nossas vontades e experimentos além mar. E agora, José, o que há de se fazer com essa bagagem, Maria?
Talvez o fato de termos criado este monstro, docemente chamado "Ciranda Financeira", que ignoramos toda a nossa história. Aceitamos chamar de evolução as máquinas substituindo a vida, e nas ruas já tememos uns aos outros há tempos. Não importa a procedência da riqueza, basta que ela ostente. Assim aceitamos sobreviver sob domínio de maníacos que criam doenças marketiando soluções antivírus e outras bobagens. Pagamos caro e nos vendemos barato.
Construímos prédios, pontes, aviões e um céu de coisas. Só não achamos os caminhos da felicidade, a não ser nos ufânicos minutos de consumir. E eles querem nos vender mais. Acham pouco a miséria que espalham. Aí entramos no provador, mesmo que tenha ficando um pouquinho apertada, levamos. "É a vida." Um cheque aqui, um juros ali, e empurramos com a barriga que há pouco se encolheu no provador. Realmente nos moldamos aos padrões impostos.
Dizia um pai, bastante preocupado com seu filho, que precisava ganhar dinheiro. Obviamente custa muito sustentar a prole. E ele pensava na herança. Queria deixar bens. Trabalhava, trabalhava, trabalhava. Quanto mais informatizada ficava a empresa, mais ele trabalhava. E trabalhava, trabalhava. Trabalhou tanto que um dia a empresa não precisou mais dele nem de ninguém. Mas é a vida. O conformismo não acaba enquanto dura a ostentação.
Talvez no dia em que faltar luz por bastante tempo, impedindo a TV de funcionar, pensemos melhor sobre a herança que deixaremos para as próximas gerações. Um mundo de máquinas e sem empregos, onde a universidade prepara técnicos e não pensadores, o ar puro é coisa do passado e custa dólares, a segurança é um carro blindado e o caminho é um só. Trabalhamos para a informática e nossos sonhos continuarão sonhos. Pesadelos, quando faltar luz. "É a vida." ?