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Cordel-->MEU POETA PATATIVA -- 08/07/2001 - 14:33 (ANTONIO ELSON RODRIGUES SIQUEIRA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
MEU POETA PATATIVA

Meu poeta Patativa
Tão distante em Assaré
Ouça a voz deste seu filho
Honrado e grande e querido
Cabra macho nordestino
Cantador de sua terra

Com oito anos de idade
Pra São Paulo fui trazido
Nem vou dizer da saudade
Minha e dos familiares
Por você já bem cantada
Na sua Triste Partida

Tudo era novidade
Menos a fome e a miséria
Essas eram de verdade
Nas noites manhãs e tardes
Mesmo até nas madrugadas
Tinha ainda o aluguel

Como era grande a luta
Pra pôr comida no prato
Vida parecia luto
Porque o governo corrupto
Só sabia do seu luxo
Com pobres não tinha trato

Essa parte da história
Continua sendo a mesma
No poder está a corja
Plantadora da discórdia
Da bagunça da desordem
Nos canteiros brasileiros

Mas não quero falar disso
Não vou sujar o cordel
Porque mais do que omissos
Os brasileiros têm sido
Ao votar nesses bandidos
Pra governar nossa terra

Ai quantas dores lascadas
Naqueles tempos difíceis
Era grande a empreitada
Acordar cedo estudar
Com nove anos de idade
Já trabalhava eu menino

E assim seguiu-se a vida
Do grande clã do Nordeste
A esperar melhores dias
De oito rebentos nascidos
Trabalhava quem podia
Eita que cabras da peste

Sofrimento ainda existe
Porque a vida não dá trégua
Mas no sangue nordestino
Do homem ou do menino
A saudade da terrinha
É que corre corta e fere

Nesta cidade inclemente
É tão fácil se perder
As tentações são freqüentes
O medo apavora as mentes
Nesta cidade inclemente
É muito fácil morrer

Morrerei sim meu poeta
Como todos morrerão
Mas só quando Deus quiser
Quando chegar a hora certa
E que venha a vida eterna
Sem dor nem sofreguidão

Antes preciso contar
Neste cordel sem engenho
Um emocionante causo
Em que sou o personagem
Um poeta miserável
Como não há entre as gentes

Para que finalidade
Eu sem saber escrevia
Talvez por mera vaidade
A meu ego alimentava
Com esplendores sonhava
A mim mesmo me traía

Eis a marca da miséria
Cravada a ferro no peito
Que não ter deve o poeta
Mesmo oriundo da plebe
Mesmo que seja o mais reles
Dos cidadãos brasileiros

Era uma judiação
Receber a poesia
Nascida do coração
Retratando ora a paixão
Ora o amor sem condição
E torná-la tão mesquinha

Foi tão difícil escapar
Das garras do vil orgulho
Do luzeiro das vaidades
Das tolas vãs veleidades
Que pouca era minha idade
Hoje sou homem maduro

Mesmo no melhor juízo
Sobrevinha a indagação
De querer saber por fim
Se era mesmo este o caminho
Mais correto a ser seguido
Pelo meu bom coração

Sem demora sem aviso
Sem nenhuma cerimônia
Essa dúvida crescia
Hora a hora dia a dia
Eis que em uma tarde fria
Cabô dúvida medonha

Mas ainda vou falar
Da ação que precedeu
O instante singular
Em que me fiz revelar
Ante a luz crepuscular
Como nunca aconteceu

Em data já esquecida
Li na imprensa paulistana
Que agraciado seria
Meu poeta Patativa
Com outra biografia
Escrita por Assis Ângelo

Com grande felicidade
Recebi essa notícia
E tão logo foi lançada
A obra tão esperada
Eu não me fiz de rogado
Fui correndo às livrarias

Ei-lo O Poeta do Povo
Mostrado em fotografias
Já ouvindo muito pouco
Sem visão pra ver as flores
Pois venceu com muito esforço
Quase um século de vida

Antonio meu Patativa
Agora sim vou contar
Que em uma tarde fria
Não sei se morta ou se viva
Minh’alma muito sofria
Como não sei explicar

Parecia que o peito
Não se ia agüentar
Batia de qualquer jeito
Lento ou veloz ou a esmo
Ora apagado ora aceso
Quase querendo gritar

Antonio que é Gonçalves
Que da Silva também é
Sua voz me fez chorar
Seu canto me fez chorar
Sua vida me fez chorar
Patativa do Assaré

O poema da infância
Que você bem recitou
Despertou-me na lembrança
O meu tempo de criança
Em que a bondosa esperança
Desfilava seus favores

Quando dela eu me perdia
A você eu encontrei
Reencontrei a poesia
Dei à vida um sentido
E de cada dor sofrida
Fiz a minha fortaleza

Não me envergonho ao falar
Que não pude me conter
E me permiti chorar
Pois foi como ser tocado
Pela própria divindade
Por meu Senhor nosso Deus

Meu poeta Patativa
Sua voz é a do sertão
De tanta gente sofrida
Abandonada esquecida
Brasileirosnordestinos
Sangue nobre da nação

Meu poeta Patativa
Saio da sua presença
Como um filho agradecido
Fazendo último pedido
Se não for encarecido
Que o Sinhô me dê a bença
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