Dias de vento que passam entre meus dedos, são brisas suaves que o tempo produz. Vidas inconstantes, existências que não se fixam, visões de pessoas com os olhos abertos. A realidade que se torna o alvo de um imenso observatório, todos são únicos, para cada único uma única chance, para cada chance um tempo único.
Luas que se despedem sorrindo, sensações boas para o dia que logo chegará. Um adeus envolto por um momento que não se movimenta, sorrisos e lágrimas se confundem em uma face distorcida pela confusão de sentimentos. Apenas gestos para o crepúsculo agradável, céu de um negro triste e indefinido, são eternos ciclos.
A mudança não é mais um futuro, o progresso se fixou em um passado agradável. São os mesmos pensamentos de dias atrás, as mesmas palavras usadas em décadas há muito esquecidas. Ciclos que adormeceram junto com o tempo que passava apressado, mudanças que não possuíam função, como uma mão sem dedos para abir uma porta, porta que mantinha presa a irrealidade, o abstrato.
Delírio humano, olhos semicerrados fingem não ver o que se passa. As necessiades são substituídas por fracos e simples impulsos. A visão caminha pelo céu, o chão serve apenas de apoio para o corpo. São apenas alguns segundos do tempo que conhecemos, para a imaginação se trata uma vida inteira. A direção é abandonada diante do delírio, a lucidez da alma se impõe, o corpo permanece anestesiado...
Pelas mãos escorre uma água cristalina, chances de uma vida inteira. Os dedos se fecham fortemente em torno da água, desespero diante do tempo. Mas a água continua fluindo entre as fendas dos dedos, inútil tentativa de viver eternamente. Os olhos se entristecem ao ver que a água se esvai, melancolia ao ver que o tempo não pode ser recuperado. As últimas gotas pingam dos dedos e vão de encontro ao chão, triste certeza de não ter vivido a vida enquanto ela esteve nas mãos.
Obs.: Esse texto não é um conto, o coloquei aqui por não saber com certeza à que categoria ele realmente pertence. Desculpe. |