CONSUMO DE ÁLCOOL ENTRE AS MULHERES
Edson Pereira Bueno Leal, abril de 2013.
No processo de liberação ocorrido no século XX que aumentou a presença da mulher no mercado de trabalho e a equiparou ao homem em direitos e deveres , houve também o aumento significativo de mulheres fumantes e alcoólatras .
Há diferenças cruciais no modo como homens e mulheres se relacionam com a bebida . As mulheres buscam consolo emocional na bebida e mais comumente do que os homens bebem em casa quando se sentem solitárias .
No caso do álcool a situação em relação à mulher é mais complicada por que estudo feito por cientistas italianos e norte-americanos na Mount Sinai School of Medicine de Nova York concluiu que as mulheres são até 100% mais suscetíveis aos efeitos do álcool do que os homens . Segundo o estudo, o estômago feminino neutraliza menos moléculas de álcool do que o masculino , e como resultado , mais álcool puro entra na corrente sanguínea feminina atingindo o cérebro e o fígado , causando um estado de embriagues mais rápido e danos maiores ao organismo em caso de uso continuado . ( O Estado de São Paulo, 12.01.1990 , p. C-4) .
O álcool é metabolizado no fígado e no estômago pela enzima ADH ( álcool desidrogenase) e por uma determinação genética , o organismo das mulheres secreta menos ADH que o dos homens e por isso com a mesma dose de bebida a quantidade de álcool no sangue das mulheres é sempre maior do que na dos homens , as mulheres absorvem 30% mais álcool puro do que os homens . ( Veja, 9.9.2009, p. 86-93).
Segundo uma pesquisa feita com 80 pacientes do Programa da Mulher Dependente Química (Promud/IPq) , 56% das mulheres dependentes de álcool ou de drogas que estavam em tratamento tinham algum tipo de transtorno alimentar. Dessa percentagem , 41% tinham transtorno de comer compulsivo , 30% tinham bulimia e 8% eram anoréxicas . A pesquisa concluiu que as mulheres com transtornos alimentares tem oito vezes mais chance de ter um transtorno relacionado com álcool e outras drogas . A droga mais procurada por quem sofre de transtornos é o álcool , mas são comuns os casos de uso de anfetaminas , cocaína e crack , que também ajudam a aplacar a fome . As anoréxicas passam a recusar a comida, mas a aceitar o uso dessas substâncias . As compulsivas geralmente tentam substituir a comida por alguma delas , enquanto as bulímicas juntam à compulsão , formas de compensar a ingestão de calorias , como vomitar ou usar laxantes e diuréticos . ( F S P , Equilíbrio , 11.06.2009, p. 4) .
PESQUISA UNIFESP 2013.
O segundo levantamento nacional de Álcool , divulgado em 10 de abril de 2013 pela Unifesp conclui que as mulheres estão bebendo mais e com mais frequência.
Foram entrevistadas 4.607 pessoas com 14 anos ou mais em 149 municípios brasileiros e desse total 1.157 eram adolescentes.
De 2006 a 2012 , a proporção de mulheres que consomem álcool de forma excessiva aumentou 24%, passando de 14,9% para 18,5 % das brasileiras.
As mulheres estão bebendo mais socialmente e em grupo bebem tanto quanto os homens .
O consumo excessivo de álcool é o que os especialistas chamam de “binge” e significa a ingestão de quatro unidades ou mais de bebida para mulheres , e cinco unidades ou mais para homens em um curto período de tempo ( duas horas). Na pesquisa, uma unidade de álcool equivale a uma lata de cerveja, uma taça de vinho ou uma dose de vodca.
Entre 2006 e 2012, houve aumento de 31% nessa forma de consumo entre os brasileiros que bebem. Aumentou de 51% para 66% a parcela dos homens com consumo excessivo e de 36% para 49% entre as mulheres.
No mesmo período, entre as mulheres que bebem , o índice de consumo frequente ( bebida uma vez por semana ou mais), cresceu 34,5% , passando de 29%(2006), para 39%(2012) , e entre os homens cresceu 14%, passando de 56% para 64%. Os dados mostram que , no geral, houve um aumento de 20% na proporção de bebedores frequentes ( uma vez por semana ou mais) .
Segundo Ronaldo Laranjeira, professor titular de psiquiatria da Unifest, “ Na Europa e nos EUA, temos uma taxa baixa de abstêmios e uma alta taxa de bebedores moderados. Aqui, há muitos abstêmios e, comparando com o levantamento de 2006, quem já bebia, passou a beber mais e com mais frequência”.
O levantamento mostra que quase um em cinco bebedores frequentes , consome álcool de forma abusiva e tem um comportamento compatível com dependência. O aumento no consumo reflete o aumento de renda nos últimos anos.
Os efeitos da “Lei Seca”, também já podem ser percebidos: houve diminuição de 21% na proporção de pessoas que relatam ter dirigido após o consumo de álcool no último ano. ( F S P , 11.04.2013, p. C-5) .
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