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Discursos-->Me chamou de "velha", Filho? -- 15/02/2002 - 17:13 (•¸.♥♥ Céu Arder .•`♥♥¸.•¸.) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Filhos?

Ah! Sim... E como crescem eles!

Um belo dia, surpreendem a gente pedindo:

- Mãe, agora que fiz 18 e consegui passar no exame de motorista, vou pedir ao pai para aumentar minha mesada.

Distraidamente respondi:

- Ora, você passa no exame de motorista, que é o que tanto desejava; a ponto de me deixar mal com seu pai, quando me implorava para que eu o deixasse pegar o carro, às escondidas, e ainda tem de ter aumento de mesada?
Não compreendo.

- Fica fria, mãe, já te explico: com carta de motorista na mão, eu vou poder dirigir legalmente, certo?

-Sim. Certo! E daí?

- Daí, que vou ter de andar com o carro de um e com o carro de outra, o do meu pai e seu, visto que ainda não tenho o meu. Certo?

- Certo... Cer...to... E da...í, filho???

- Daí, que, para sustentar os dois carros, é evidente que a mesada que ganho, diga-se de passagem, uma miséria, não vai dar nem para uma semana, muito menos para um mês!

- Começo a entender, filho... Acho.

- Claro que entende, mamãe! Pensa que me orgulho de você, por nada? A galera nem sonha em ter uma mãe assim.
E ainda tenho outro pedido a te fazer, minha Santa.

(nessas horas, o carinho sobeja)...

- Não é melhor esperar que eu me sente, meu filho?

- Pra quê, mãezona, se você vai precisar levantar logo, para atender à minha reinvidicação?

- Ah... É para ser atendida, de imediato, assim, sem nenhuma deferência?

- Nenhuma def... o quê, mãe?
Lá vem você com essa mania de falar difícil para me enrolar todo e acabar não cumprindo o seu dever de "mãe-cidadã"!

Simulando espanto, eu olhava para aquele rebento, que, ainda ontem, ensaiara pegar-me ao colo - "Que lindo homem ele se tornou" - pensava eu, enquanto lhe bebia a vivacidade do olhar caramelado.

- Mãe-cidadã? O que significa?

- Aquela que sabe dar tudo o que o filho pede, inclusive a segunda reinvidicação que você nem me permitiu fazer, por causa da tal de "deferência"... Eu ia pedir... Entende?

- Não, meu filho. Por enquanto, ainda não consegui entender nada do que você está, realmente, querendo. Mas estou tentando,
acredite.

- Tá vendo? Por isso falam tanto em "conflitos de gerações"...

- Eu falei, falei, falei... Gastei o meu latim e você tem o topete de me dizer que não entendeu nada, minha velha?

Olhei firme, para aquele olhar suplicante, já se perdendo nos argumentos de tanto "querer"...

"Velha"... Pela primeira vez, em dezoito anos, dei-me conta de que não sou mais "tão" jovem. Minha mente divagou pelo bercinho, chupetas, fraldas e carrinhos.

Deus meu! Como o tempo voa...
Meu filho julgou que havia me ofendido ao chamar-me de "minha velha" e tentou justificar:

- Quer dizer: "velha mãe"... não... "mãe mais velha e minha"... Ahhh... Você tem mais de o dobro de minha idade, por isso é velha, diante de mim... Foi isso o que eu quis dizer. Mas você não parece nada velha.

- Eu não disse nada, filho. Nem me zanguei... Você é que se agitou, nem sei por quê.

- Olha você de novo, mãe!

- Eu o quê, meu filho?

- Você, com essa conversa mole, só para eu sentir remorso de reinvidicar o meu cartão de crédito adicional, além de uma mesada extra, de seu ordenado, pois o meu pai já disse "NÃO e NÃO" a tudo o que estou pedindo a você, agora. Sacou?

- Ah... Seu pai já disse que "não"?!

- Já!
Brigado, mãe... Pelo menos, você me ouviu. Pior foi o velho, que nem os olhos moveu, enquanto eu tentava fazê-lo entender a minha necessidade, urgente, de ter, pelo menos, um quarto-e-sala no Leblon... ou na Barra...
Sabe como é: a gente faz 18... Chega a hora de ter um pouquinho de privacidade... Idade dura, essa! Tô mesmo desmoralizado...

Saiu e dirigiu-se ao seu quarto.

Fiquei a olhar para ele, já de costas, um tanto penalizada...
Um homem feito! Cheio de vontades e decisões. Hora de enxergar de frente a vida. Seguir um rumo.

Nesses pensamentos, uma pontadinha no peito fez-me pegar um saquinho de chá de erva-cidreira...
A imagem do olhar de meu filho com "sede de vida" deixou-me tão acabrunhada, melancólica. Não porque eu pensasse que ele estava errado, absolutamente... Mas porque eu, mesmo não me sendo nada difícil atender a seus "argumentos", sentia que não poderia fazê-lo. A facilidade é inimiga da evolução. E eu sempre tentei ensinar a meu filhote a importância de PRIMEIRO SER, PARA DEPOIS TER.

Creio que minhas lições não funcionaram e meu garoto estaria, naquele momento, com o rosto afundado no travesseiro, amargando o dissabor de sua "malograda independência".

Como dói, ter de dizer "não" ao nosso maior bem.
Liguei, imediatamente, para o serviço de cartão de crédito e pedi que fizessem um adicional, em nome de Leonardo Caldas Arder.

"Pois não, senhora. Um minutinho só, sim?... Pronto! Em 30 dias, seu filho estará recebendo o cartão pelo correio."

Exultante, como uma criança, fui dar-lhe a notícia:

- Ei, filhote, já pedi seu cartão. Chegará em 30 dias.

Ele, com os olhos fixos no video-game (era uma luta do Street fighter), disse:

- Que cartão, mãeeee? Não vê que, se me distraio, perco os oito mil pontos que já consegui nesta luta? Você, heim! Tem cada hora para me interromper, com as suas conversas...

É, brother... Certo estava o Arthur da Távola:

"SER JOVEM É TER UMA VIDA CHEIA DE HORIZONTES QUE TERMINAM LOGO ALI..."

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