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Contos-->Carta para ninguém -- 27/12/2002 - 20:53 (Rejane Luiza Auler de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Eram quatro da manhã quando eu tentava começar a escrever aquela carta. Sentado em uma calçada suja e fria, observando pés apressados tentando vencer o tempo, admirando mulheres de corpos esguios contrastando com a escuridão da noite. Pessoas ligadas vulgarmente ao tempo em que viviam, tão perto estavam, tão longe estaríam, talvez para elas só importasse o chão onde pisavam. Mesmo chão onde pequenos ratos circulavam em uma pressa alucinada, chão repleto de uma lama escura e pegajosa, onde bêbados rolavam indiferentes aos danos que estavam causando a si próprios. Lâmpadas fluorescentes piscavam incessantemente, torturavam meus olhos, escureciam meus pensamentos, me levavam de volta ao zero. Eu não conseguia produzir uma palavra sequer para por naquele papel amarelado e amassado, papel que eu levara até lá, em meu bolso, sem motivo algum.
Uma multidão caminhava apressada para o lugar algum. Era impossível diferir qualquer rosto, todos não passavam de sombras, nenhum deixava tranpassar qualquer semblante, não haviam detalhes, simplismente não haviam diferenças. Eram rostos iguais seguindo para um objetivo parecido, que em nada me importavam, mas que em muito me chamavam a atenção, motivos não existiam. Perto de mim haviam pequenas crianças catando cacarecos pelo chão imundo, com um brilho no olhar uma delas saiu limpando uma nota quase irreconhcecível de um dinheiro mais sujo que o próprio chão onde se encotrava, dinheiro que com certeza nunca chegaria à aqueles pequenos e esfolados dedinhos de alguma outra forma. Enquanto isso, senhores enfiados em grossos casacos de pele camuflavam suas carteiras ao mesmo tempo que lançavam olhares repugnantes para aqueles pequenos filhos do mundo, que nada tinham e que muito almejavam. O som dos sapatos ao tocar o chão enchia meus ouvidos, e embaralhava qualquer coisa que viesse a tomar forma na minha mente, eu não conseguia deixar o início, não conseguia partir para um fim.
Um velho vestindo farrapos balançava seu corpo descontroladamente enquanto vomitava coisas sem nexo para qualquer coisa que crusasse o caminho tortuoso que estava à seguir. De sua boca sem dentes e gelada ele expulsou inúmeras vezes a palavra "Fim", gritava isso enquanto ia descendo a rua de uma forma errônea e desprovida de qualquer direção. As mãos dele não paravam de balançar, tremiam involuntariamente devido ao frio que estavam expostas. O velho continuava seu sinuoso percurso, longe de minha visão ele já estava, mas não o suficiente para a queda que sofrera não fosse vista por mim, ele desabou como se fosse um pedaço de madeira podre que já deveria ter caído à muito tempo. Lá ficou o homem, estendido no chão servindo de tapete para pés que com seus restos não se importavam, ele estava quase fundido com o chão, mesmo assim os pés continuavam a aparecer e sobre o tapete caminhar.
Finalmente eu havia desistido de tentar escrever aquela carta. Vi que era inútil, além do mais, ninguém ia lê-la, era uma simples tentativa de observar o mundo verdadeiro pela útlima vez, e dele extrair frases que poderiam ser colocadas naquele papel, naquela que seria uma carta, uma carta para ninguém. A arma que eu trazia em meu bolso representava apenas um motivo, que seria usado se eu nada conseguisse entender, se eu nada conseguisse escrever na carta. O tempo que perdi observando as ações sem sentido do mundo foi muito grande, e mesmo assim nada consegui pôr no pedaço de papel. Mas o tempo que gastei para usar o motivo em minha cabeça foi muito curto, mas ao contrário de antes, havia algo no papel, manchas vermelhas da minha vida.

17 de abril de 2002
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