AtaCama=Resgate da Vida
Arlindo Freire
Nada acontece por acaso.
Tudo no mundo tem uma razão de ser.
O efeito e a causa constituem o universo.
Na direção teórica e prática dessas três linhas universais reside o conhecimento feito com sabedoria, simplicidade e racionalidade do ser humano que pretende construir o mundo em que vivemos sob a perspectiva da normalidade – igualdade.
No primeiro trimestre deste ano – 2010 houve 30 abalos sísmicos no deserto do Atacama, norte do Chile, de 3,1 a 5,9 graus de magnitude, sem que tenham servido de aviso para a ocorrência de maiores problemas naquela área de constantes movimentos no interior do solo.
Os terremotos causaram o fechamento de um dos túneis da Mina San José, onde estavam trabalhando 33 mineiros fortes, experientes e corajosos que ficaram sem abertura normal para saída – presos naquela caverna de pouca ventilação, sob perigo de vida – às portas da morte, durante 59 dias.
Parece até que aqueles homens não tinham confiança, nem conhecimento sobre a palavra Atacama – criada pelos seus antecedentes indígenas: atá = andar, caminhar, locomover-se e cama = seio, mama, tudo que tem forma com os seios da mulher, as quais reunidas ou juntas fazem Atacama, na língua Tupi.
As serras e montes situados naquela região têm a forma do seio feminino, motivo pelo qual os povos indígenas de, talvez 140.000 anos, Antes do Presente, deixaram com esse vocábulo a denominação mais adequada para aquela área desértica, abandonada, seca, quente e fria – misteriosa ou desafiadora.
Depois de todo esse tempo, nem mesmo com a sabedoria da Internet, ainda não houve a tradução das mensagens deixadas nas pedras do Atacama – Petroglifos pesquisados, documentados e analisados pelos especialistas neste assunto, feitos com as tintas naturais, quando a química não tinha a estrutura atual.
Os desenhos indígenas de figuras primitivas continuam fixados nas pedras do Atacama, depois de elaborados no passado dos “séculos sem fim”, resistindo aos ventos, Sol, chuvas e areias, além das depredações efetuadas pelos homens que se dizem civilizadas, fazendo a destruição da cultura e arte antiqüíssimas.
No perfil biológico dos mineiros soterrados residem os traços físicos deixados pelos índios na formação dos seres humanos sucessores, com o índice aproximado de 50% marcando a segurança sobre esta afirmação de natureza genética na identificação do grupo social em questão.
Nesta linha de pensamento – encontramos a sua confirmação nas fotos de 16, do total de trabalhadores recolhidos na caverna daquela mineração, inclusive o topógrafo Luis Urzúa Iribarren – 54 anos que se prontificou, de livre e espontânea vontade em coordenar as providências de salvamento, pelo que foi o último a sair da cratera onde estiveram por dois meses.
Com essa decisão, Urzúa manifestou, livremente o profundo sentido de solidariedade e respeito aos seus companheiros, naquela hora mais difícil da vida, certamente baseado em sua experiência pessoal, mediante a perda de seu pai e do padrasto – ambos perseguidos e mortos, anteriormente pelo governo de Pinochet porque faziam oposição ao ditador e tirano dos chilenos.
- Claro que agora não serei eu, mas a TerraMãe.”
Esta foi a resposta da mãe de Urzúa, senhora Nelly Iribarren, diante da pergunta em torno de sua reação sobre o retorno do filho que havia saído, através da cápsula, do interior deste planeta, como se estivesse renascendo do útero dessa mulher – possuidora das características indígenas adquiridas dos seus ascendentes com o mesmo sangue e fisionomia.
Na imprensa mundial, dona Nelly deixou as informações de que o seu filho amado, desde jovem – sempre foi determinado, responsável, autêntico, sério, tranqüilo e decidido, sem permitir que os seus irmãos deixassem de fazer o necessário, correto, digno e coerente com a família, comunidade e sociedade.
- Mas então, como esse topógrafo obteve o equilíbrio do grupo?
Com esses princípios comportamentais – foi que Urzúa conseguiu manter a disciplina dos presos naquela caverna de mineração, sem haver maiores problemas de relacionamento entre os trabalhadores, tampouco o desespero, revolta e falta de entendimentos, com paciência e compreensão, motivos pelos quais – todos resistiram à falta de condições e recursos para a sobrevivência.
Portanto, Depois do Resgate, a humanidade, sobretudo os latino-americanos e os povos desenvolvidos – deverão ter ou adquirir uma nova concepção do mundo e da vida no plano da integração e solidariedade para que as diversidades sociais, econômicas e políticas deixem de ser a constante da injustiça e disparidades que causam a escassez de harmonia e paz.
Com outras palavras, a senadora Isabel Allende, do Chile, mesmo distante de Urzúa, também agiu de acordo com o espírito do topógrafo seu compatriota, quando falou que havia necessidade para que a NASA, saísse dos Estados Unidos até o Chile para fazer o apoio tecnológico de salvação daqueles mineradores cercados pelas rochas da mina de cobre e ouro.
O pedido de socorro foi atendido pela organização espacial, sem haver resistência, de maneira silenciosa e sem espalhafatos ou na escuridão das noites, como se a NASA estivesse no espaço sobre os indígenas desaparecidos do Atacama, sem a instalação dos holofotes, mas com os sensores e aparelhos de comunicação entre a superfície e o interior daquele deserto.
As mulheres de sangue indígena, especialmente as companheiras dos mineradores, assim como as mães, irmãs e demais familiares fizeram, conforme os costumes de suas origens do Atacama=caminhar nos seios femininos, para fazer a coleta do leite materno destinado ao alimento dos homens da mina San José que não podiam receber outro tipo de comida.
O leite enviado para a dieta dos soterrados, por indicação médica, certamente não foi o feminino, mas, naquele momento de desespero teria sido o melhor podendo, assim mesmo, o de vaca ser igual, consoante o que teria sido feito no Atacama primitivo de tempo bastante longínquo.
Sob essa dimensão podemos fazer tal analogia fundamentada nos fatores naturais em que o ser humano depende dos recursos físicos para a sua vida entre o céu e a terra, onde estão os fatores indispensáveis para a sobrevivência da humanidade, apesar das contradições e negativas que se repetem na sabedoria, ignorância e dinâmica do Universo.
Se o topógrafo Urzúa não tivesse aquela concepção do mundo, visando acima de tudo, fazer com que os demais mineradores ficassem sob o autocontrole das emoções de isolamento e abandono – todos eles estariam mortos, antes da hora, pela falta de paciência, confiança e apoio que não poderiam ser adotados, antes do momento possível e adequado.
No fundo da mina San José – Atacama foi constituída, durante 60 dias consecutivos, de agosto a outubro – 2010, a mensagem de união, solidariedade, paz, justiça e amor para a humanidade, mediante o saber e apoio da maioria dos povos que vivem na face da Terra, com a esperança de alcançar esse objetivo.
- Como fazer ou andar por esse caminho?
No Atacama e demais lugares semelhantes estão os recursos humanos para que o século 21 – venha ser um ponto de partida de mudança do mundo, sem esquecer, naturalmente, o Homem Caçador, além dos Civilizados e todos os demais Povos.
O presidente do Chile, Sebastián Piñera, sempre presente durante a recuperação, deixou a sua mensagem de coerência com a função de governante chileno, juntamente com a sua esposa, ao lado das famílias dos mineiros cercados na mina, assim como pelo atendimento de meios para a execução dos trabalhos.
Os presidentes Luis Inácio da Silva – Brasil e Evo Morales – Bolívia também tiveram as demonstrações de atenção, apoio e reconhecimento aos gestos de união sobre as operações de resgate, de modo respeitoso, sincero e participativo nas suas declarações sobre este assunto, seguidos por outros mandatários de países diversos.
Em conseqüência da lição de vida feita pelos sobreviventes dos abalos sísmicos na mina San José, o bom seria que a OEA, OIT, UNESCO e ONU, além de outras instituições internacionais – examinassem tudo que aconteceu ali, fazendo em seguida, uma análise das questões mundiais em busca das soluções mais urgentes e adequadas, com vistas à paz e união de todos os países.
Por questão de justiça - jamais será possível minimizar o trabalho dos 1500 jornalistas internacionais que estiveram acompanhando e repassando para o mundo inteiro, os principais acontecimentos de antes, durante e depois, relacionados com o resgate no Atacama e manifestando pelas notícias todo o respeito necessário e indispensável à pessoa humana, bem como o reconhecimento do público,no sentido de que a FIJ - Federação Internacional dos Jornalistas venha fazer, publicamente, o reconhecimento de valor sobre as atividades de seus componentes naquela missão conhecida e admirada pela maioria da humanidade.
Na cidade Copiapó=roça de sementes plantadas com as mãos, da língua Tupi, capital do Atacama – os governos latino-americanos poderiam oferecer os incentivos aos trabalhadores no sentido de que ali, onde os indígenas da antiguidade criaram essa palavra, fossem concentradas as reuniões de âmbito internacional para o estudo e análise dos problemas mundiais, sob a independência de qualquer grupo.
Com essa providência o resgate dos mineiros em Atacama – ficaria marcado definitivamente, na história mundial – servindo de motivo para que a humanidade nunca mais se esqueça desse acontecimento e possa fazer dele o meio para a correção dos seus males, além da realização dos sonhos e esperanças, visando à sobrevivência
com justiça, dignidade e sabedoria.
Estas idéias e propostas – podem ser absurdas ou de “vara curta” para quem vive em Natal-RN-Brasil, na esquina do Atlântico, desconhecendo o Atacama e Copiapó, recebendo o vento do Sahara, daí por que, assim mesmo, podem ser consideradas, conhecidas e levadas à prática, simplesmente porque são nascidas em Natal... para que tenham uma chance no mundo.
Somente Natal, não, jamais – elas vieram, foram imaginadas, concebidas e elaboradas pelos indígenas e civilizados do Atacama+Natal, através dos ventos alísios que vêm do continente africano do norte, para as regiões áridas e semi-áridas iluminadas a partir da escuridão naquela caverna.Fim-17.10.2010.
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