A VIDA DE UMA CIDADEZINHA DO INTERIOR NORDESTINO EM MEADOS DE 1960
A cidade era pequena, todos se conheciam e se cumprimentavam. Havia duas escolas.
Até os pássaros, os moradores sabiam que hora apareceriam para cantar pulando de árvore em árvore dando vivas à natureza e àquela população.
Um riacho se formava quando chovia, servia como ponto para lazer. Encantava e dava vida às brincadeiras das crianças, assim como à pesca.
Existia uma feirinha aos sábados que mudava a rotina daquela população.
Uma pequena fábrica de tecidos empregava a maior parte daquelas pessoas. O restante vivia da agricultura de subsistência. O apito da fábrica alertava a cidade que
seria feita a troca de turno de seus funcionários, coincidindo com os horários das três principais refeições do dia.
Passava um trem Maria-fumaça duas vezes por semana, trazendo alguns passageiros e mercadorias de cidades vizinhas. Seu apito causava alarde aos que o ouviam.
Papai Noel era a grande esperança e certeza para a criançada, noite de Natal. Todos o esperavam ansiosamente e ai dos pais que esquecessem de lhe repassar os presentes que seriam entregue aos seus filhos...
Assim como a figura do lobisomem, na cultura daquela cidade, era suficiente para obrigar as crianças danadas a não saírem para a rua, à noite. Quando chovia, os relâmpagos, raios e trovões faziam parte da crendice que Deus estava irado com a maldade do dia a dia da humanidade e bradava sua ira como alerta!
As brincadeiras da época eram inocentes, de roda, de avião riscado no chão, de queimado, de se esconder, e outras dessa natureza.
Somente alguns poucos ricos possuíam carro, afinal tudo era perto e havia poucas ruas para se trafegar. Andava-se muito a pé, de bicicleta e sobre animais.
Quando se falava em asfalto, em praias ou edifícios; isso eram histórias sobre grandes cidades ou capitais. E até era motivo de inveja saber que alguém já teve a oportunidade de conhecer uma grande cidade com parques enormes, comércio grande, cinemas, colégios, hospitais, etc. Afinal São Paulo e Rio de Janeiro ainda não eram ali, como hoje. E Portugal, Rússia, Alemanha. Japão, Estados Unidos, se ouvia falar através das guerras e do outros intentos, mas faziam parte de outro mundo.
As famílias eram conhecidas pela origem através dos mais velhos
Quando um idoso ou uma grávida se aproximava, era hábito a criança ou o jovem levantar-se para lhe oferecer o assento e eram tratados por Senhor e Senhora
Pedia-se a bênção aos tios, avós e demais parentes, que eram de prontidão abençoado
Por intersecção de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Havia algumas personagens marcantes e bastante conhecidas. Umas de maior importância social, como o único padre da cidade, o juiz, o delegado ou o prefeito
Assim como alguns poucos pedintes ou deficientes mentais que
Perambulavam pelas calçadas, em geral conhecido por apelidos.
O contingente da polícia era de 6 homens. Todos conhecidos; figuras temidas e respeitadas. Quando alguém era conduzido à delegacia, era motivo de burburinho e a cidade parava para se especular sobre aquela intimação ou possível prisão, pois ali não se falava sobre aplicação em bolsa de valor ou outras coisas de cidade grande.
A rua principal tinha como destaque a prefeitura, um único bar, uma alfaiataria e poucas lojas, além da linha do trem e uma pracinha com meia dúzia de bancos de concreto.
Duas barbearias (na cidade não havia salão de beleza) eram pontos de encontro disputados por alguns que ficavam ali sentados em frente a verem o povo passar.
E é claro, para ajudar a passar o tempo falava-se sobre algo que estava ocorrendo
Com alguém, fosse uma fofoca, uma doença, uma traição, uma dívida sem ser paga, etc.
A cidade dormia cedo e acordava antes que o sol despertasse
Dava-se a impressão que à noite havia mais estrelas no céu que hoje em dia!