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Contos-->O livro em cima da mesa -- 29/12/2002 - 14:23 (Debuque Ondeteibol de Oliveira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O livro em cima da mesa
(Debuque Ondeteibol de Oliveira)

Meu pai foi um homem com hábitos simples, dedicado chefe de família e trabalhador. Estudou até a quarta série e com muito esforço criou seus filhos. Embora com pouco estudo manteve-se sempre bem informado. Lia jornais, revistas e escutava rádio. Naqueles idos tempos o rádio era o principal veículo de comunicação. Todas os dias após o retorno do serviço ele ligava o rádio para saber das “ultimas” como dizia. Era o seu passatempo predileto nos fins de tarde.
Quando se aposentou arrumou uma escrivaninha e ajeitou uma peça no fundo da casa. No pequeno, mas confortável, aposento o velho dedicava o seu tempo à leitura. Ali passava longas horas lendo e estudando. No silêncio das letras lentas. Vez por outra escrevia, mas jamais alguém leu um escrito do velho. Certa vez um tio me falou: - o teu pai é um grande escritor, faltou oportunidade de estudo para ele. Mas a vida o ensinou muito e esse diploma não é fácil conseguir. Teu pai foi diplomado pela vida. – guardei comigo essas palavras do tio.
Eu, gurizote, nunca interrompi as leituras do velho, o admirava por cultivar aquele hábito incomum nas pessoas que apenas trabalhavam. Meu pai enxergava na vida algo mais além do trabalho. Por isso ele era uma pessoa muito especial.
Infelizmente, alguns anos após a aposentadoria e a dedicação aos estudos e à leitura, o velho adoeceu.
Foram quase três anos num vaivém do hospital para casa e da casa para o hospital até que a morte o venceu. Foi morrendo aos pouquinhos, lentamente.
- Foi-se o Velho comunista. - comentou um antigo amigo no velório. – naquela oportunidade não entendi bem o que era velho comunista. Mas guardei comigo aquela frase do seu amigo.
Por um longo tempo não entrei no quarto de estudos do meu velho pai. A mesa e seus pertences ficaram intocáveis por vários meses. Certo dia, precisei de alguns documentos e tive que entrar na sala de estudos do velho. A mesa estava completamente arrumada, um livro de capa preta de couro jazia em cima da escrivaninha. Ao lado do livro, uma caneta tinteiro e um bloco de anotações em branco. O livro preto descansava na paz do ambiente a espera das mãos que, certamente, folheavam diariamente as páginas amarelas do tempo que contam a história. Solitário esperando o carinho e os olhos atentos do dono.
Por alguns instantes contemplei a cena do livro preto. Resolvi não tocá-lo, ainda não estava em condições de folhear os segredos do “Velho comunista”.
Fechei a porta e deixei o solitário livro em cima da mesa.
Já se passaram 30 anos e o livro está lá, solitário. Vez por outra entro e tiro a poeira da mesa e o livro capa preta permanece intocável.
Até quando, não sei.
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