À MULHER: VIDA AFORA
08 de março de 2003
Aprender no colo
E haurir o que possa,
Sugando todo o leite
A tanto e demais zelo.
Tropeçar em cada minuto
De vida em projeto, miudamente
Quando a mim me solfejas
Notas do prelúdio da existência.
Fraldas, panos leves, maciez,
Olor de colônia, sabonete neutro.
Cuidados para evitar água
Num minúsculo ouvido.
Eu, teu menino-homem
Discípulo arredio, tentando,
Aprendendo diuturnamente
A te (nos) dizer: mamãe.
Depois, paralelamente,
Tombos na sala, cocô
No piso do berço:
Rosto de alívio e silêncio.
Choro, chorar, chorando
Alto, estrondoso, irritando
Teu tímpano materno,
Tua paciência primitiva.
O banho morno na tarde
De tua tolerância, sobre
A noite insone do rebento
Impúbere, impessoal...
Fotos, multiplicadamente
Pueris, num álbum temporal,
Nos olhos, na boca e
Nalguma dúvida sistêmica.
Ilusão mais boba do primeiro
Ano, mercê de ignota platéia
De adultos, a mastigar
Doces, e salgados desejos.
O primeiro, o enésimo dia
Da avant-premiére escolar,
´ Estranho embrionário contato
Sócio-antológico, tribal.
Os códigos, ensinados à mesa
Da sala e do quarto, antes
Da esquisita e monótona oração
Sob regência do sinal da cruz.
Os diplomas, certificados de
Qualidade de vida e de morte
Iminente na família, no arredor
Do mundo inóspito, crucial.
Os beijos na matinê
Do cinema ou na última
Sessão do teu medo, a
Me embriagar a madrugada.
As primeiras, segundas e
Terceiras namoradas, amantes
Sem gênero, sexo, crenças
Ou razão preferencial.
Cá estamos, juntos, sumérios,
Assírios, fenícios e caldeus,
Seres animados, oriundos
Dalguma argila sideral.
Um calendário silencioso
Qualquer que seja o método,
A te inscrever peremptoriamente,
Em meu breve-longo obituário.
Um quadro de água e fogo
Sobreposto em mil telas planas,
Paisagem figurativa, metonímia
A exigir que sejas só, Mulher.
WALTER DA SILVA
Camaragibe,PE, Brasil
08 de março de 2003
Dia Internacional da Mulher.
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