Com a humanidade e por tabela o Brasil, caminhando rumo à extrema capitalização do relacionamento humano é imprescindível que se mude o conceito de certo termo, com o qual é classificado aquele que não consegue pagar suas dívidas: o caloteiro.
Numa época em o relacionamento humano era menos capitalista, o caloteiro era, com raras excessões uma pessoa que agia de má fé e o credor, quase que invariavelmente era uma vítima do mesmo. Hoje porém, quando todo o brasileiro, além de técnico de futebol, precisa ser também um economista sem estar preparado para tal, nem sempre o devedor (caloteiro) é o vilão da história, sendo na maioria dos casos a própria vítima.
Nossas ruas estão lotadas de agentes dos agiotas institucionalizados que oferecem aos nossos trabalhadores carríssimas soluções para todos os seus problemas financeiros. Sabem eles, perfeitamente que uma pessoa em dificuldade financeira só sairá da mesma se aumentar a receita ou diminuir as despesas, mas mesmo assim oferecem seus capitais a juros altíssimos para os pobres coitados que na ânsia de manterem seus nomes limpos aceitam qualquer coisa.
Depois de um certo tempo, aquele que era um problema de difícil solução ganha dimensões de problema insolúvel e então, toda aquela boa vontade demostrada na abordagem cede lugar à uma cruel insensibilidade capitalista que detona a vida de qualquer um.
Depois que uma pessoa vai para as listas negativas do sistema, a sociedade o vê como mau elemento e todo o juros que ele pagou durante anos para não ter seu nome incluído junto aos "caloteiros" de nada vale. É como se ele houvesse torrado a grana tomando cerveja na praia ou coisa parecida e a pena imposta pela sociedade é tão cruel que as vezes até o emprego é negado a quem esteja com o "nome sujo".
Como uma pessoa poderá limpar seu nome com tantas portas fechadas? Por outro lado, como pode a sociedade exigir das pessoas o nome imaculado, se por detrás da aparência de bons samaritanos existe toda uma indústria que lucra quantias fabulosas com as dificuldades de pessoas que na maioria das vezes são apenas trabalhadores que não conhecem de economia como deveriam?
Acho que cada caso é um caso e toda a regra tem sua exceção. Há caloteiros e caloteiros e nos dias de hoje, os ditos cujos não são como os de antigamente, pelo fato de os credores também não o serem.