Édipo Reis e Desdêmona Borges conheceram-se por telefone, com intermediação de uma amiga que adorava aproximar duas almas solitárias. Conversaram sobre amenidades, como convém a pessoas que acabam de fazer contato, depois evoluíram para assuntos mais pessoais. Após uma semana, resolveram se conhecer pessoalmente.
Édipo escolheu um barzinho discreto. Pouco antes do encontro, telefonou para a jovem: "te espero em uma das mesas; vou estar de calças jeans e camisa verde". Desdêmona ainda não estava apta a dizer como iria vestida. Tinha muita roupa para escolher.
Édipo chegou pontualmente ao barzinho e esperou uns vinte minutos, saboreando sua cerveja. Foi quando, por trás dele, surgiu a moça:
- Camisa verde, só pode ser você!
Édipo achou-a um pouco mais extrovertida do que ao telefone. Ela pediu um gim tónica e iniciaram conversando amenidades. Se estudando, como fazem os pugilistas. Muita coisa ela tinha omitido em suas conversas anteriores: que já morou no exterior, que fazia mestrado... Numa dessas, ela inquiriu:
- Você gosta de atuar na área trabalhista?
- Nunca atuei. Aliás, não sou advogado.
- Como? Você não é advogado? Sua amiga falou que era advogado trabalhista.
- Engano - disse ele. Você não lembra que sou professor?
- Pera aí, você não é José Otelo, advogado?
Não era. E ela também não era Desdêmona. Tinha um nome horrível, Jocasta, mas podia chamá-la de Jó. O pior é que havia simpatizado com ela. Riram bastante da confusão e continuaram a conversa.
E Desdêmona? Havia chegado um pouco mais tarde e foi direto para a mesa de um jovem de camisa verde, lá nos fundos, aborrecido de aguardar alguém chamado Jocasta.
No final, todos se acertaram. Édipo e Jocasta, Otelo e Desdêmona, será que isso vai ter futuro?
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