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Ensaios-->Dominação no Algodão -- 19/12/2011 - 15:36 (Arlindo de Melo Freire) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

 

Dominação no Algodão

                                                                                                                               Arlindo Freire*

Na sabedoria da história e cultura – “o passado é a notícia do presente”, ou seja, o efeito dos acontecimentos no desenrolar dos tempos, para que assim possamos aprender que nada se verifica sem a razão de ser em qualquer aspecto, inclusive o empírico, prático e rotineiro em qualquer dimensão do Universo.

Os indígenas e civilizados sabem disto na teoria ou na prática da vida, pois são testemunhas e sujeitos das ocorrências que se espalham pelo mundo, até mesmo quando imaginam que não observam ou sentem os fatos próximos e distantes de si, alheios às suas vidas, sem interesse pessoal.

=Quais os motivos em que seria comprovada esta afirmação?

No sistema universal – o Sol fornece energia à Lua para que esta ilumine uma parte da Terra no decorrer da noite, quando a natureza se completa, faz as transformações dos seus diversos componentes ocultos e expostos, sem o reconhecimento ou visão da humanidade existente.

No algodão do nordeste brasileiro, fora do sentimento de culpa, a Dominação com perseguição, extinção e erradicação – vêm sendo feitas de maneira radical e sectária, desde a presença indígena – quando teve início a cultura do mesmo como produto de muito valor econômico – fibra longa e sedosa com mercado garantido e preferido pela indústria de tecidos, óleo comestível e ração animal do exterior.

=Desde os povos indígenas?!

Nada de fantasia, tampouco absurdo – se recuamos no tempo – 1587 quando  toda a safra de algodão dos índios situados nas serras da Copaoba, de quarenta aldeias habitadas, tiveram o total de sua produção: algodão e milho, naquele ano, queimada ou destruída, em suas choupanas, literalmente tomadas pelo fogo, sob as ordens do capitão-mór de Pernambuco, Martim Leitão, no comando dos 640 homens de guerra, dos quais 500 índios, do Governo Geral do Brasil com Manoel Teles Barreto.

Naquela data – 24 de dezembro, 1587 – os indígenas da mentira de “fedorentos e preguiçosos”, ainda existente, foram perseguidos e mortos pelo reino da Coroa Portuguesa ABENÇOADO pelo Vaticano, naquela véspera do Natal, aos 12 anos, antes de ser criada a Cidade de Santos Reis, no então Rio Grande – Natal-RN.

Com aquele incêndio – foram atingidos 20 mil índios Potiguara, dos quais muitos conseguiram fugir para o Rio Grande, após o cessar das chamas sobre as choupanas de palhas das palmeiras e da madeira, além do algodão que aguardava o momento da retirada para a exportação à Europa, através dos franceses que todos os anos faziam aquisição das mercadorias.

Em duas ocasiões anteriores – Martim Leitão, cumprindo as ordens do Governador Geral, havia tentado fazer a expulsão dos franceses, sem ter os resultados esperados, razão pela qual, no último ano de sua administração – certamente querendo continuar naquele posto, arregaçou os braços para a terceira invasão da Copaoba – tocando fogo nos indígenas aliados dos mercenários da França.

=Ahhh! O que passou não interessa mais!

O presente é a notícia do passado em todo o caminho da história feita pelo ser humano que se repete com as gerações de curta evolução na linha do desenvolvimento psicossocial e cultural visando realizar os objetivos para a vida de harmonia e solidariedade no plano geral e coletivo.

O filme que ficou apenas na história – jamais foi realizado, mesmo considerando que o autor do trabalho escrito acerca deste assunto – um religioso franciscano daquela época, cumprindo as determinações do Superior, recusou-se em assinar as páginas do relato, deixando somente a indicação Sem Nome para efeito de registro dos acontecimentos.

Em torno da memória dos Potiguara na Copaoba – ficou a vaga lembrança, assim como de muitos outros episódios em todo o Nordeste, com sangue e morte dos indígenas do sertão e litoral, das serras e vales onde viviam baseados na exploração da terra – fonte de alimentos, pelo trabalho e aproveitamento dos recursos naturais.

No passado de 424 anos do morticínio na Copaoba – nos municípios paraibanos de Dona Inês e Belém, ficaram as cinzas das plumas do algodão Mocó ou de Fibra Longa, queimadas pela limitada visão luso-brasileira acerca da matéria prima que poderia ter sido um dos melhores fatores econômicos para o progresso que não houve sob a exploração da cana de açúcar.

O presente como notícia do passado vem sendo constatado de forma objetiva e concreta, nas culturas algodoeiras, principalmente do Nordeste, de formas variadas e complicadas no plano da rentabilidade anual, em face de anormalidades nos mercados, clima, solo, política publica e tratos culturais indispensáveis, decorrentes da ausência de organização governamental e dos produtores para auto sustentação do “ouro branco” no semiárido nordestino.

O branco limpo e sedoso da paz do algodão – foi transformado em vermelho do sangue e da guerra devorando seres humanos e animais, não apenas pelo Nordeste, também pelo mundo inteiro – onde havia a infestação do Anthonomus grandis - o popular Bicudo, em pequenos, médios e grandes estabelecimentos agrícolas atingidos pelo inseto originário do exterior, provavelmente de aviões chegando e saindo de Campinas, no interior de São Paulo, a partir de 1983, quando a indústria têxtil deu início à importação.

Com a guerra ao algodão – feita pelo Bicudo, foram destruídos cerca de 4 séculos da produção, somente no Brasil, partindo de 1587, em decorrência do abandono e alienação governamentais adotados sobre a cultura no semiárido que foi motivos de alegria e felicidade para a população rural de 15 gerações das secas e enchentes inesperadas – esquecidas e abandonadas.

Os governantes e políticos, mais as lideranças baixaram a cabeça diante dos efeitos do Bicudo, bem como os grupos técnicos e científicos, exceto em se tratando de parcas medidas que se tornaram ineficientes ou incapazes de eliminar o pequeno inseto que estava com fome de alimentos saborosos e nutritivos existentes no casulo da oleaginosa que passou a ser devorada.

As organizações comerciais e industriais, por sua vez, na condição de multinacionais atreladas ou dependentes dos governos que tinham a obrigação de fazer guerra ao Bicudo, mediante as providências agronômicas, foram unânimes em “afastar o braço da seringa”, isto é, não terem preocupações com o estudo e pesquisa para a descoberta dos meios técnico e científico para resistir e combater à infestação da praga.

Por sua vez, diante da displicência manifestada pelos poderes governamental e civil, no decorrer de 95 anos - 1825/1920, depois da entrada do algodão no mercado externo, os dirigentes das multinacionais, sob alegação de que não dispunham mais da matéria prima para as suas indústrias, resolveram no silêncio dos negócios – fazer com que as fibras sintéticas fossem produzidas em substituição aos fios vegetais.

Na concepção de alguns economistas, a mega queda do algodoeiro no abismo profundo – foi agravada no final da década de 1920 pelo colapso da Bolsa de Nova York, bem como os efeitos da I Guerra Mundial – 1914/1918, centralizados na Europa e distribuídos pelas atividades destruidoras no mundo inteiro, de modo irrecuperável.

=Então, entramos no “beco sem saída” da cotonicultura criada, desfeita e extinta pelos Estados Unidos, de comum acordo com a Europa?

A resposta adequada, legítima e verdadeira está na cabeça e mãos dos povos que cultivam o Gossipium – algodão na atualidade, como fator de trabalho para a sobrevivência, após o cultivo anual, onde a agricultura tem sido efetuada com numerosas dificuldades provocadas pelo clima, solo, manejo e assistência técnica, além de outras que constituem a cultura da pobreza e miséria provocada pelos governantes do antissocial.

Na fase das “vacas gordas” a exploração gossipiana de 1825 contribuía com mais de 30 por cento das exportações nacionais, enquanto o café brasileiro tinha 19,8%, sob a categoria de produto nobre e por demais rentável para a economia das unidades federativas localizadas no Sul do país – área de progresso e desenvolvimento, ao contrário do que se verificava no Nordeste, com o setor agrícola.

O segundo lugar na colheita do algodão em todo o país – ficou com o Rio Grande do Norte em 1935, comparando com 1930, como resultado do crescimento de 22,3 por cento constatados naquele período de bastante confusão político-partidária entre os governos e as classes populares interessadas em revolução.

Nos anos de 1950 – depois da expansão na indústria têxtil de São Paulo e outros Estados, o mercado externo aplicou mais de 336,1 milhões de dólares no Brasil, de 1961-63 pela importação do algodão que estava em segundo lugar em relação com o café na balança comercial brasileira.

O declínio maior sobre os algodoeiros, segundo o economista Tomislav Femenick, técnico aposentado do BNB-Banco do Nordeste-RN, foi iniciado em 1970 nas terras do Rio Grande do Norte sob as constantes infestações do Bicudo baixando, anualmente as colheitas, de modo por demais acentuado e causando o pessimismo, além da decepção dos produtores em geral.

O pessimismo em questão – logo se transformou em fracasso pela ausência da resistência necessária pela eliminação do Bicudo naquele espaço de 13 anos consecutivos em toda área do Nordeste, apesar dos esforços parciais no campo da ciência e tecnologia, sem encontrar os meios de enfrentamento ao inseto nos locais ocupados como  fontes de alimentação.

Naquele momento, os produtores sentiram-se praticamente, massacrados no “beco sem saída” dos seus campos agrícolas ocupados ou dominados por essa praga de efeitos largos e talvez ilimitados naquele período agravado em 1983 – quando mais de 50 por cento do produto fora extinto pelo inseto de origem ignorada, sob a indicação de que foi transportado por avião.

O mistério da guerra fria e silenciosa iniciada através do Anthonomus sobre os algodoeiros qualificados de Mocó, Seridó e Nordeste, da Fibra Longa, igual ou melhor ao que existia no Egito, desde a antiguidade, tem bastante semelhança com o que vem sendo praticado com os indígenas – genocídio deliberado desde 1500, sem ter fim, igual à figura mitológica da Mula-sem-Cabeça imaginada pelos índios que continuam resistindo.

No meio dos homens e mulheres que fizeram a luta em defesa dos algodoeiros no sertão potiguar tivemos o mais competente Classificador, da Secretaria de Agricultura, Raimundo Calistrato Souza falecido em 2001 aos 90 anos, depois de haver trabalhado nessa função por mais de 50, na classificação dos variados tipos do Ouro Branco, sob os acontecimentos perdidos e esquecidos no tempo e espaço desta questão social e econômica inserida, especialmente nas regiões da semiaridez.

Esta anomalia está fora da teoria de causa e efeito verdadeira para o Bicudo – se levarmos em conta que o algodão vem sendo cultivado no Egito, desde os 8 mil anos a.C, mediante comprovação arqueológica, enquanto os tecidos de requinte com o mesmo – na Índia, tiveram modelagem artesanal aos 3 mil anos a.C – sempre longe do Bicudo.

=Diante dessas coisas incomensuráveis, legítimas e fundamentais para a história do algodão, O que tem sido feito acerca da proteção e preservação dele?

No plano mundial – a expectativa é de que as Nações Unidas – via FAO, OMC e até mesmo a UNESCO deveriam acompanhar, estudar, analisar e aplicar as medidas necessárias de proteção à cultura do algodão, pois dessa forma os organismos da ONU teriam uma grande parcela para evitar que as populações permaneçam no ostracismo e na miséria infinitos.

Com a dominação de qualquer natureza – Jamais haverá liberdade, progresso, desenvolvimento e Paz.13.12.2011*Jornalista,Sociólogo-UFRN.

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