Se todas as pessoas tivessem o condão de sentir o esplendoroso enlevo da ternura, sensação que nos enche de tudo sem ser preciso mais nada, estou convicto que o mundo dos humanos seria sem dúvida melhor e sobretudo muito mais apetecível.
A caixinha é do tamanho de uma esbelta mão de Mulher, colorida, plena de flores e arabescos magníficamente infantis, saudável ao olhá-la, prenhe de ciência consumada ao longo de séculos, vinda dos reinos vegetal e mineral. Quem diria que o destino lhe reservava a grande travessia do Atlântico, em poucas horas, a bordo de um potentíssimo Boeing da hodiernidade.
Um laçarote encarnado, qual adorno de gala em distintíssimo smoking, dá à caixinha uma aparência juvenil, capaz de soprar imensa e indizível saudade nos olhos de um bem temperado adulto comovido. A sensação de ternura explode e a lágrima de pérola brota, saída inteira da fonte dos cinco sentidos em comunhão.
Cuidadosamente, abri a atraente caixinha, cómoda e plácidamente sentado para assistir ao espectáculo que irá seguir-se, interessadíssimo em não perder nenhum dos pormenores. Retirei-lhe com minúcia cirúrgica a fita autocolante, azul do Porto, que lhe segurava a tampa. Um pequeno envelope branco destacou-se...
Ah... Bem... Passem todos de ano no mais lídimo dos prazeres, entusiásticamente satisfeitos com tudo e por tudo. Eu... Eu vou passar de ano junto da caixinha da ternura e, creiam, muito, muito feliz!
Torre da Guia
DR-SPA-1.4153
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