Cora Coralina: doce e forte mulher. (Crónica)
maria do socorro c. xavier
Simples, autêntica e doce, do planalto goiano, do barro vermelho, do verde das esmeraldas, brotou uma flor rara, poetisa Cora Coralina! Morreu anciã, mas ainda com ares de ingênua menina. Passou tantos dissabores, menina de infància pobre, mãe extremada, ficou viúva; fazia doces para viver com seus pequenos filhos.
Cora Coralina, sonhos, carinho e amor, assim várias gerações caminhou.Luta, dificuldade, contenção, sem vaidade, sem ambição, vendia livros para sobreviver. José Olympio (da editora) bondosamente a acolheu. Aí entre eles, uma grande amizade nasceu.
Entrementes e há muito tempo, escrevia poemas e Cronicas, guardadas sem perspectivas, sem regozijos. Sua filha adolescentezinha lhe despertou
e a estimulou: "Mainha publique seus poemas, é tempo de conhecerem a outra "Cora Coralina"...
Seu idealismo, sua coragem, só aos filhos e aos problemas existenciais se dedicava, esquecendo-se de si mesma. Colocava em tudo a poesia, a beleza; tudo fruía naturalmente; sua própria vida era símbolo do romàntico sacrifício.
Despretenciosa, Cora Coralina tinha apenas o curso primário. Escrevia belos versos, com o dom dos próprios deuses, só espontaneamente apareceram publicados livros seus e condecorações recebeu. Rubra com o pudor dos simples, com a mesma humildade daquela menina de olhos redondos e amedrontados, menina tímida de Goiás do século passado!
Cora Coralina, pequena, inusitada poetisa e mulher: cantava verdades e belezas; viveu, sofreu... predestinada... Mulherzinha doceira, passava desapercebida, lavava pratos e roupas, cozinhava para seus filhos, enfim uma mulher comum, como tantas outras de classe pobre. Opaca, anónima. Só muito depois foi revelado seu extraordinário talento. Grande mulher que foi!
Fazia versos por prazer, colocava amor em tudo que a rodeava, aureolada de beleza... Inebriada de natureza, de bem, de verdade, espargia encanto seu infantil espírito, com a mesma satisfação que fazia os docinhos caseiros para vender.
Cora Coralina, amada pelos seus, ficou só. Quem a conheceu se encantou, sua mágica beleza interior refletida em seus poemas, vida, natureza, tudo externou!
Mesmo pobre e simples, como sempre foi e assim terminou, sem píncaros materiais...Alguém disse com profunda ternura e paz, linda frase a seu respeito: Cora Coralina foi a coisa mais importante que aconteceu na minha vida"...Goiás e o Brasil honra-se em ter uma mulher destas como filha!
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