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Cartas-->CARTAS PARA NINGUÉM-2 -- 11/11/2002 - 05:17 (ROSAPIA (veja página 2)) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
CARTAS PARA NINGUÉM-2

26/janeiro/2001

Não estava mesmo em meus planos estar viva em 2001. Eu brincava muito com a idéia do ano 2000, achando que não o veria jamais. Combinava com todos os namorados que queria reuni-los no ano 2000, todos de bengalinha, para uma confraternização. Não sei o que pensava, mas achava que se estivesse viva no ano 2000 estaria muito mais velha do que estou hoje. Acho que nunca fui muito boa em matemática... ou não fui mesmo nada amante da vida... E hoje estou aqui, ora de bengala, ora de muleta, ora de andador... Vejo que eu tinha razão, estou mesmo muito mais velha do que sou. Passei a vida semeando amor. Onde está todo o amor? Quando mamãe partiu vi que chegara a hora de adotar uma criança, sonho antigo. Onde está minha criança? Trabalhei muito a vida inteira. Onde está meu dinheiro? Se alguma coisa eu tive em profusão, foram os amigos que sempre cultivei. Onde estão os amigos? E onde estão os amores que esqueceram o combinado e não vieram me encontrar com suas bengalinhas para festejar a virada do milênio?

Onde os amores? Onde aquele que disse "ter você é ganhar na loteria"? Onde aquele que declarou: "vou levar você para um hotel 5 estrelas porque é o que você merece"? Onde aquele que, enquanto me dava prazer, olhava meu sorriso e dizia repetidamente "você é linda!"? Onde o moço bonito que fazia poemas para mim, sem nunca ter coragem de declarar seu amor? Onde o primeiro que me amou? E... onde todos que eu amei?

Onde os amigos? Onde aquele que dizia "só mesmo você para me entender"? Onde aquela que correu para mim quando acabou de ser estuprada? Onde aquela com quem passei uma longa noite ouvindo seu penar? Onde aquela que me deu o primeiro quadro que pintou? Onde os que chegavam de repente, sentavam-se à minha mesa e me faziam companhia? E aquela que me telefonava quando estava de namorado novo encomendando um jantar para que ajudasse a conquistar o candidato? E aquela que adorava minhas panquecas? A a que tomava pileques e ia ao meu encontro para chorar e... vomitar?

Onde está todo o mundo?

Resolvi agora parar para pensar e procurar tudo que tive e nem sei se perdi. Peguei três agendas velhas e fui ler os nomes ali registrados. Alguns me vieram à lembrança, outros não. Como eu registrei em minhas agendas nomes que nem sei mais de quem são? Aqueles de quem me lembro, nem sei onde estão. Alguns são lembranças boas, outros são lembranças doloridas. Outros eu preferia nem lembrar. Certamente, daqueles esquecidos eu não deveria mesmo lembrar. Devem rememorar dores muito cruéis, minha mente me defendeu de sofrê-las de novo. Ou deveriam ter sido indiferentes.

Hoje estou com muita dor, dor demais. Resolvi aproveitar que estou com dor e sair andando pela casa e ao seu redor, vendo as plantas que amo, arrancando mato, amarrando galhos. Sempre estou deixando de fazer o que gosto para evitar a dor que vem depois. Venci o medo de subir em escadas e fazer o que não posso mais fazer. Vi que posso, sim. Mas o preço é a dor. Não aprendo que minha dor tem que ser sentida por mim, não posso transferi-la para ninguém... Nem quereria fazer isso se pudesse.

Na varanda, uma linda borboleta. Conversei com ela, agradeci por estar aqui comigo, disse quanto a amo. Olhei cada plantinha e pedi desculpas por ela estar tão abandonada. Assusto-me ao ver como as plantas estão viçosas, mesmo sem os cuidados que precisam e merecem. Quando eu estava jogando no computador, há uma hora atrás, dois beija-flores entraram aqui e bailaram para mim. Pouco depois ouvi seu trinado na varanda, o trinado do amor. Lembrei-me que estão namorando e precisam fazer seus ninhos. Fui colocar algodão para ajudá-los com a matéria-prima. E pus-me a pensar: o que mais eu quero na vida? por que reclamo tanto? será maior a dor e a terrível depressão do que o amor de meus pássaros, de minhas borboletas, das flores que se abrem para mim? Só isso já deveria bastar para me fazer feliz. E eu tenho até mais. Tenho amigos de hoje... pra que ficar lamentando os de ontem?

Tenho o Gui! Esse ficou, não se perdeu no tempo. Às vezes penso que eu fui muito esperta em amar aquele garoto que poderia ser meu filho, mas não foi... quê bom! Eu o amei com carinho de mãe e força de mulher. Foi um tempo lindo e inesquecível. Enquanto o amava, amei outros na vida louca cujo direito de ter eu defendia e praticava. Ele era especial, era o meu menino, aquele que cantava pra mim as músicas da época, vestia-se de lençóis e declamava para mim versos e frases dramáticas, fazia versos dizendo que eu era de cristal (ele soube sempre descobrir minha fragilidade) e declarando que queria pichar meu muro dizendo quem eu era para o mundo todo saber. Ele achava que, quando eu fosse bem velhinha, os garotos estariam me disputando e ele já seria velho para mim. Tradução de tudo isso: ele me achava uma puta linda e pura!!! E ele ficou em minha vida, para minha felicidade. É quem me dá carinho hoje, vem me fazer companhia sempre que pode, gosta de ficar comigo mesmo sentindo minha dor, meu cansaço, meu desânimo. Eu fui mesmo muito esperta quando levei esse garoto pra cama e lhe mostrei os segredos do amor que se entrega sem medo e sem preconceito. E hoje, na virada para um novo milênio, eu o tenho, ele me dá segurança e me dá a ternura de que tenho fome e sede. Obrigada, Gui querido!

Tenho também a Rosí, uma amiga nova, cujo nome não estava nas agendas velhas. Encontrei-a quase por acaso, numa lista de malucos corajosos... Uma lista de suicidas, imagine! Coisas que a modernidade tecnológica tornou possíveis! De inicio, era apenas mais uma companheira na lista. Aos poucos fui descobrindo que não era só mais uma, ela começava a ser especial. Começamos a falar fora da lista, eu nem sei quem tomou a iniciativa. Era uma correspondência que indicava confiança mútua, mais nada. Como a confiança é a base fundamental de qualquer relacionamento, fomos nos revelando uma à outra, contando nossas riquezas interiores e nossas fraquezas nem sempre confessáveis. Nasceu o desejo de nos conhecermos, de não mais permanecermos naquele nível virtual. Ela veio. Eu tive um pouco de medo, medo de me decepcionar ou de decepcioná-la, de estar enganada quanto a ela ou ela quanto a mim, de que o real estragasse o encantamento virtual. Isso não aconteceu. Ambas percebemos que já nos conhecíamos como realmente éramos. Ela voltou e voltará outras vezes. Ela ficou para sempre comigo e eu fiquei para sempre com ela. Hoje, é uma de minhas poucas preciosidades. Obrigada, Rosí querida!

E tenho mais: tenho o Arthur, que eu chamo meu Rei. É meu cachorro, companheiro de todos os momentos. É um amor que não dá pra descrever, imenso, concreto, mas misterioso. Obrigada, Arthur querido!

E eu continuo me perguntando: se tenho tudo isso, por que choro, por que sofro, por que a solidão me atormenta tanto? Preciso achar as respostas...


22/04/2001

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