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Ensaios-->O Livro Negro do Comunismo -- 18/05/2012 - 10:24 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O Livro Negro do Comunismo

Roberto Campos

Folha de S. Paulo e O Globo, 19/04/98
 
"Le livre noir du communisme" (Edições Robert Laffont, Paris, 1997),
escrito por seis historiadores europeus, com acesso a arquivos
soviéticos recém-abertos, é uma espécie de enciclopédia da violência
do comunismo. O chamado "socialismo real" foi uma tragédia de
dimensões planetárias, superior em abrangência e intensidade ao seu
êmulo totalitário do entreguerras - o nazifascismo.
 
Ao contrário da repressão episódica e acidental das ditaduras
latino-americanas, a violência comunista se tornou um instrumento
político-ideológico, fazendo parte da rotina de governo.
 
Essa sistematização do terror não é rara na história humana, tendo
repontado na Revolução Francesa do século 18 na fase violenta do
jacobinismo, na "industrialização do extermínio judaico" pelos
nazistas, e - confesso-o com pudor - na inquisição da Igreja Católica,
que durante séculos queimava os corpos para purificar as almas.
 
O "Livre noir" me veio às mãos num momento oportuno em que, reaberto
na mídia e no Congresso o debate sobre a violência de nossos "anos de
chumbo" nas décadas de 60 e 70, me pusera a reler o "Brasil Nunca
Mais", editado em 1985 pela Arquidiocese de São Paulo. Comparados os
dois, verifica-se que o Brasil não ultrapassou o abecedário da
violência, palco que foi de um miniconflito da Guerra Fria, enquanto
que o "Livre noir" é um tratado ecumênico sobre as depravações ínsitas
do comunismo, este sem dúvida o experimento mais sangrento de toda a
história humana. Produziu quase 100 milhões de vítimas, em vários
continentes, raças e culturas, indicando que a violência comunista não
foi mera aberração da psique eslava, mas, sim, algo diabolicamente
inerente à engenharia social marxista, que, querendo reformar o homem
pela força, transforma os dissidentes primeiro em inimigos e, depois,
em vítimas.
 
A aritmética macabra do comunismo assim se classifica por ordem de
grandeza: China (65 milhões de mortos); União Soviética (20 milhões);
Coréia do Norte (2 milhões); Camboja (2 milhões); África (1,7 milhão,
distribuído entre Etiópia, Angola e Moçambique); Afeganistão (1,5
milhão); Vietnã (1 milhão); Leste Europeu (1 milhão); América Latina
(150 mil entre Cuba, Nicarágua e Peru); movimento comunista
internacional e partidos comunistas no poder (10 mil). O comunismo
fabricou três dos maiores carniceiros da espécie humana - Lênin,
Stálin e Mao Tse-tung. Lênin foi o iniciador do terror soviético.
Enquanto os czares russos em quase um século (1825 a 1917) executaram
3.747 pessoas, Lênin superou esse recorde em apenas quatro meses após
a revolução de outubro de 1917.
 
Alguns líderes do Terceiro Mundo figuram com distinção nessa galeria
de assassinos. Em termos de percentagem da população, o campeão
absoluto foi Pol Pot, que exterminou em 3,5 anos um quarto da
população do Camboja. Fidel Castro, por sua vez, é o campeão absoluto
da "exclusão social", pois 2,2 milhões de pessoas, equivalentes a 20%
da população da ilha, tiveram de fugir. Juntamente com o Vietnã, Fidel
criou uma nova espécie de refugiado, o "boat people" - ou seja, os
"balseros", milhares dos quais naufragaram, engordando os tubarões do
Caribe. A vasta maioria dos países comunistas é culpada dos três
crimes definidos no artigo 6º do Estatuto de Nuremberg: crimes contra
a paz, crimes de guerra e crimes contra a humanidade.
 
 A discussão brasileira sobre os nossos "anos de chumbo" raramente
situa as coisas no contexto internacional da Guerra Fria, a qual
alcançou seu apogeu nos anos 60 e 70, provocando um "refluxo
autoritário" no Terceiro Mundo. Houve intervenções militares no Brasil
e na Bolívia em 1964, na Argentina em 1966, no Peru em 1968, no
Equador em 1972, e no Uruguai em 1973. Fenômeno idêntico ocorreu em
outros continentes. Os militares coreanos subiram ao governo em 1961 e
adquiriram poderes ditatoriais em 1973. Houve golpes militares na
Indonésia em 1965, na Grécia em 1967 e, nesse mesmo ano, o presidente
Marcos impunha a lei marcial nas Filipinas, e Indira Gandhi declarava
um "regime de emergência". Em Taiwan e Cingapura houve autoritarismo
civil sob um partido dominante. O grande mérito dos regimes
democráticos é preservar os direitos humanos, estigmatizando qualquer
iniciativa de violá-los. Mas por lamentáveis que sejam as violências e
torturas denunciadas no "Brasil, Nunca Mais", elas empalidecem perto
das brutalidades do comunismo cubano, minudenciadas no "Livre noir".
 
Comparados ao carniceiro profissional do Caribe, os militares
brasileiros parecem escoteiros destreinados apartando um conflito de
subúrbio... Enquanto Fidel fuzilou entre 15 mil e 17 mil pessoas
(sendo 10 mil só na década de 60), o número de mortos e desaparecidos
no Brasil, entre 1964 e 1979, a julgar pelos pedidos de indenização,
seria em torno de 288, segundo a Comissão de Direitos Humanos da
Câmara Federal, e de 224 casos comprovados, segundo a Comissão de
Mortos e Desaparecidos do Ministério da Justiça. O Brasil perde de
longe nessa aritmética macabra. Em 1978, quando em nosso Congresso já
se discutia a "Lei da Anistia", havia em Cuba entre 15 mil e 20 mil
prisioneiros políticos, número que declinou para cerca de 12 mil em
1986. No ano passado, 38 anos depois da Revolução de Sierra Maestra,
ainda havia, segundo a Anistia Internacional, entre 980 e 2.500
prisioneiros políticos na ilha. Em matéria de prisões e torturas, a
tecnologia cubana era altamente sofisticada, havendo "ratoneras",
"gavetas" e "tostadoras". Registre-se um traço de inventividade
tecnológica - a tortura "merdácea", pela imersão de prisioneiros na
merda.
 
 Não houve prisões brasileiras comparáveis a La Cabaña (onde ainda em
1982 houve 100 fuzilamentos), Boniato, Kilo 5,5 ou Pinar Del Rio. Com
estranha incongruência, artistas e intelectuais e políticos que
denunciam a tortura brasileira visitam Cuba e chegam mesmo a tecer
homenagens líricas a Fidel e a seu algoz-adjunto Che Guevara. Este,
como procurador-geral, foi comandante da prisão La Cabaña, onde, nos
primeiros meses da revolução, ocorreram 120 fuzilamentos (dos 550
confessados por Fidel Castro), inclusive as execuções de Jesus
Carreras, guerrilheiro contra a ditadura batista, e de Sori Marin,
ex-ministro da agricultura de Fidel. Note-se que Che foi o inventor
dos "campos de trabalho coletivos", na península de Guanaha, versão
cubana dos "gulags soviéticos" e dos "campos de reeducação" do Vietnã.
 
 A repressão comunista tem características particularmente selvagens.
A responsabilidade é "coletiva", atingindo não apenas as pessoas, mas
as famílias. É habitual o recurso a trabalhos forçados, em campos de
concentração. Não há separação carcerária, ou mesmo judicial, entre
criminosos comuns e políticos. Em Cuba, criou-se um instituto
original, o da "periculosidade pré-delitual", podendo a pessoa ser
presa por mera suspeita das autoridades, independentemente de fatos ou
ações. Causa-me infinda perplexidade, na mídia internacional e em
nosso discurso político local, a "angelização" de Fidel e Guevara e a
"satanização" de Pinochet. Isso só pode resultar de ignorância factual
ou de safadeza ideológica. Pinochet foi ditador por 17 anos; Fidel
está no poder há 39 anos. Pinochet promoveu a abertura econômica e
iniciou a redemocratização do país, retirando-se após derrotado em
plebiscito e em eleições democráticas como senador vitalício (solução
que, se imitada em Cuba, facilitaria o fim do embargo).
 
Fidel considera uma obscenidade a alternância no poder, preferindo
submeter a nação cubana à miséria e à fome, para se manter ditador.
Pinochet deixou a economia chilena numa trajetória de crescimento
sustentado de 6,5% ao ano. Antes de Fidel, a economia cubana era a
terceira em renda por habitante entre os latino-americanos e hoje caiu
ao nível do Haiti e da Bolívia.
 
O Chile exporta capitais, enquanto Fidel foi um pensionista da União
Soviética e, agora, para arranjar divisas, conta com remessas de
exilados e receitas de turismo e prostituição. Em termos de violência,
o número de mortos e desaparecidos no Chile foi estimado em 3.000,
enquanto Fidel fuzilou 17 mil! Apesar de fronteiras terrestres
porosas, o Chile, com população comparável à de Cuba e sem os tubarões
do Caribe, sofreu um êxodo de apenas 30 mil chilenos, hoje em grande
parte retornados. Sob Fidel, 20% da população da ilha, ou seja, algo
que nas dimensões brasileiras seria comparável à Grande São Paulo,
teve de fugir. Em suma, Pinochet submeteu-se à democracia e tem bom
senso em economia. Fidel é um PhD em tirania e um analfabeto em
economia. O "Livre noir" nos dá uma idéia da bestialidade de que
escapamos se triunfassem os radicais de esquerda. Lembremo-nos que, em
1963, Luiz Carlos Prestes declarava desinibidamente que "nós os
comunistas já estamos no governo, mas não ainda no poder".
 
Parece-me ingenuidade histórica imaginar que, na ausência da revolução
de 1964, o Brasil manteria apenas com alguns tropeços sua normalidade
democrática. A verdade é que Jango Goulart não planejara minimamente
sua sucessão, gerando suspeitas de continuísmo. E estava exposto a
ventos de radicalização de duas origens: a radicalização sindical, que
levaria à hiperinflação, e a radicalização ideológica, pregada por
Brizola e Arraes, que podia resultar em guerra civil. É sumamente
melancólico - porém não irrealista - admitir-se que, no albor dos anos
60, este grande país não tinha senão duas miseráveis opções: "anos de
chumbo" ou "rios de sangue"...
 
 
 
Roberto Campos, 81, economista e diplomata, é deputado federal pelo
PPB do Rio de Janeiro. Foi senador pelo PDS-MT e ministro do
Planejamento (governo Castello Branco). É autor de "A Lanterna na
Popa" (Ed. Topbooks, 1994). Este e outros artigos podem ser
encontrados no novo livro de Roberto Campos, Na Virada do Milênio, ed.
Topbooks, 1998.
 
Fonte: http://home.comcast.net/~pensadoresbrasileiros/RobertoCampos/

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