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Ensaios-->Os alemães prisioneiros de guerra no Brasil -- 20/07/2012 - 11:33 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

 


OS ALEMÃES PRISIONEIROS DE GUERRA NO BRASIL DURANTE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

Cel Claudio Moreira Bento

Presidente da AHIMTB

Em 1991 divulgamos, em alguns periódicos, artigo versando sobre prisioneiros de guerra do Brasil durante a Segunda Guerra Mundial, assunto que, sob o título “Campo de Concentração no Brasil – um Episódio da Segunda Guerra Mundial”, publicado no Diário Oficial Leitura, de São Paulo, em junho de 1991, provocou enorme surpresa e repercussão. Recebemos, em decorrência, expressiva e farta correspondência com dados complementares e congratulações pela revelação surpreendente.

Ao final do artigo concluímos: Esta é a ponta de iceberg histórico, sob a qual devem esconder-se histórias fascinantes a serem reveladas em toda a sua plenitude. Eis o que a seguir tentaremos fazer. Integrando os elementos surgidos a posteriori, esperando revelar mais um pouco da parte imersa do citado iceberg.

AFUNDAMENTO DO CARGUEIRO ANNELIESE ESSBERGER E PRISÃO DE SUA GUARNIÇÃO

De 21 de setembro de 1943 a 15 de abril de 1944, por cerca de 7 meses, funcionou, no quartel do 8º Regimento de Artilharia Montada, em Pouso Alegre-MG, o Campo Provisório de Concentração de Pouso Alegre, que abrigou 62 prisioneiros de guerra alemães, 20 da Marinha de Guerra e 42 da Marinha Mercante germânicas, que integravam a guarnição do cargueiro alemão Anneliese Essberger. Proveniente de Bordéus-França, ele se destinava ao Japão atuando como “furador de bloqueio”.

Foi afundado pela própria tripulação, em 22 de novembro de 1942, na posição 00.54-N – 22.34-W, próximo do Equador, após ter sido descoberto, disfarçado em navio norueguês de nome Skjilbred, pelo Grupo Tarefa 23-2 dos EUA.

O Grupo Tarefa 23-2, constituído dos cruzadores Cincinattie Millwanke e do contratorpedeiro Somers, pertencia à 4ª Esquadra Americana, que tinha Recife por base. Os prisioneiros, recolhidos em quatro balsas pelo cruzador Cincinatti, foram entregues ao General- de- Divisão João Baptista Mascarenhas de Moraes, então comandante da 7ª Região Militar, encarregada da Defesa Territorial do Saliente Nordestino e da ilha de Fernando de Noronha.

Foi aí que teve início a aventura de 62 prisioneiros de guerra no Brasil, os únicos que ele teve. Episódio sem importância militar, mas singularíssimo, despertou, desperta e ainda despertará muita curiosidade, à medida em que for sendo reconstituído em toda a sua plenitude.


PRISÃO NO QG DA POLÍCIA MILITAR DE PERNAMBUCO

Os 62 prisioneiros alemães, 15 oficiais e 48 suboficiais e marinheiros (anexo “A”), foram entregues, como dito acima, aos cuidados do General Mascarenhas de Moraes, por não dispor o Almirante Ingram, comandante da 4ª Esquadra americana, de instalações apropriadas em terra. Era comandante da Policia Militar de Pernambuco (PMPE), desde abril1941, por indicação do General Mascarenhas de Moraes, o Capitão de Infantaria José Arnaldo Cabral de Vasconcelos (em 1991 general-de-brigada reformado), que nos prestou informações sobre os prisioneiros que lhe foram confiados por cerca de 7 meses, de novembro de 1942 a julho de 1943.

Os prisioneiros foram recebidos pessoalmente pelo Capitão José Arnaldo, na praça do Derby, no Recife, vindos de bordo do cruzador Cincinatti,em viaturas do Exército.

O Capitão José Arnaldo, em alemão, explicou, em breves palavras, como os prisioneiros deviam se conduzir.

“Eles se mostraram obedientes, atenciosos e disciplinados, à exceção de dois, que foram encaminhados à Casa de Detenção do Recife, até embarcarem para o Rio. Ali eles ficaram afastados dos prisioneiros de Justiça.”

Os prisioneiros foram ouvidos por uma comissão da 7ª Região Militar, formada por um oficial médico descendente de alemães, e outro da Reserva, descendente de holandeses. Ambos falavam alemão. Depois foram ouvidos por uma comissão vinda dos EUA, presidida por um almirante.

Um dos recolhidos à Casa de Detenção foi Walter Ahrens, 39 anos, que, antes da guerra trabalhava como padeiro na França. Ele falava o francês fluentemente e era muito extrovertido.

Certa feita pediu para falar com o comandante da Policia Militar de Pernambuco. E o procurou em seu gabinete. “Perfilou-se exageradamente, levantou o braço direito na vertical e gritou - Heil Hitler.” Alertado sobre a inconveniência de seu gesto inoportuno justificou-se: C& 39;est l’habitude.”

 

Passados 35 anos, em julho de 1978, numa cervejaria sobre o Reno, a Schwenfurt o agora General José Arnaldo, encontrou-se com o Dr. Leo Hofmann, da reserva naval alemã, médico do Anneliese Essberger, e mais 5 ex-prisioneiros seus no Recife, que vieram de várias partes da Alemanha para um encontro. Todos estavam com as esposas. Escreveu o General José Arnaldo: “Foi uma noite de muita alegria. Na ocasião, fez-se sentir o deplorável efeito das guerras que separam povos e indivíduos, mostrando o contraste de nossos dois encontros, no Recife, durante a guerra, e em Schwenfurt, na paz.

 

O Dr. Hofmann, médico pediatra e humanista, que serviu de intérprete entre os brasileiros e os prisioneiros, aprendeu um pouco de português no Recife, com apoio em seus conhecimentos de latim e de livros que o Capitão José Arnaldo lhe emprestava. Em 1978, dirigia um hospital em Schwenfurt e, sob o pseudônimo de Hemuch Leon, estava editando um livro sobre a saga dos 62 prisioneiros de guerra do Brasil e do “furador de bloqueio” Anneliese Essberger. O livro revelava a versão de sua aventura no Brasil e do qual extrai alguns dados, de 3 folhas por ele enviadas ao General José Arnaldo.

OS PRISIONEIROS ALEMÃES NO RIO DE JANEIRO

 

Em agosto e setembro de 1943, por cerca de 2 meses, os 62 prisioneiros permaneceram em trânsito do Recife para Pouso Alegre. No Rio de Janeiro permaneceram algum tempo, no Regimento da Polícia Militar Caetano de Faria, do , sediado na Avenida Salvador de Sá, nº 2, ao lado do Sambódromo. A Polícia Militar, na época, era comandada pelo Coronel Odylio Denys, de quem mais tarde ouvi falar, surpreso, pela primeira vez, na existência desses prisioneiros de guerra alemães no Brasil, e do bom comportamento que revelavam.

 

Eles chegaram ao Rio, provenientes do Recife, em 3 de julho de 1943, a bordo do navio Poconé, do Loyde Brasileiro. Foram identificados e registrados pela Polícia Militar, no Livro Registro Geral dos Prisioneiros Alemães no Brasil, Livro denº 24. Permaneceram no Rio de 3 de julho a 21 de setembro de 1943, ou cerca de 2 meses e 19 dias.

 

Não há registros de alterações no Rio, a não ser tentativas dos oficiais de perambularem pela Tijuca, após burlarem a guarda, na procura de cidadãos alemães. Sem os endereços precisos dos seus conterrâneos, chamaram a atenção da população que julgou suspeitas suas atitudes. A polícia foi informada e os recolheu ao quartel com as regalias cortadas. O fato parece ter determinado a remoção dos oficiais para Pouso Alegre, dois meses depois da ida para essa cidade dos suboficiais e marinheiros.

OS PRISIONEIROS ALEMÃES EM POUSO ALEGRE

Os prisioneiros viajaram via ferroviária, do Rio para Pouso Alegre, em duas levas. A primeira lá chegou em 21 de setembro de 1943, constituída de 48 suboficiais e marinheiros, e a segunda dois meses mais tarde, em 29 de dezembro de 1943, constituída de 15 oficiais, totalizando os 62 capturados em alto mar pela 4ª Esquadra Americana. Eles retornaram ao Rio em 15 de abril de 1944, depois de o 8º Regimento de Artilharia Montada (8º RAM), abrigá-los como prisioneiros, no Campo Provisório de Concentração, por 6 meses e 24 dias.

 

Segundo o General José Arnaldo: “Os prisioneiros, ao deixarem Pouso Alegre estiveram novamente no Rio, no Regimento Caetano de Farias. Dali, via marítima, seguiram para o Recife, sendo alojados no Campo de Instrução do Exército de Engenho da Aldeia. Posteriormente, foram transportados para a Flórida, nos EUA, até o repatriamento.

 

Seguramente o Dr. Hofmann há de resgatar essa odisséia em seu livro citado.

 

A permanência dos prisioneiros de guerra em Pouso Alegre é imortalizada pelos depoimentos do então Tenente Heitor Carvalho e do então Aspirante Luiz de Alencar Araripe, que ali serviam na época. Tanto um como o outro, o primeiro em depoimento a nós prestado e o segundo em artigos em A Defesa Nacional, confirmam o Capitão José Arnaldo, no tocante ao bom comportamento dos prisioneiros, que pertenciam, como vimos, em maioria à Marinha Mercante (42) e em minoria a Marinha de Guerra alemã (20).

 

Os prisioneiros levaram 12 horas de trem no percurso Rio-Pouso Alegre. Chegaram ao destino por volta das 19 horas e foram escoltados, até o quartel do 8º RAM, por soldados do Exército de origem alemã.

O CAMPO DE CONCENTRAÇÃO PROVISÓRIO DE POUSO ALEGRE

 

O Campo Provisório de Prisioneiros de Guerra de Pouso Alegre, no 8º Regimento de Artilharia Montada, foi criado por aviso 411/438, de 24 de agosto de 1943, do Secretário do Exército respondendo pelo expediente do Ministério da Guerra. Foram adaptadas para tal as instalações da 2ª Bateria, que fora destacada para defender o litoral, em Porto Seguro, ao comando do Capitão Manoel Sales Pontes Lima, tendo como subalterno o Aspirante Luiz Gonzaga de Andrade Serpa (“Serpa preto”) que foi mais tarde Diretor de Ensino e Pesquisa do Exército.

 

No pavilhão da 2ª Bateria, foram colocadas grades nas aberturas das janelas, e as portas de madeira foram substituídas por outras gradeadas, de ferro. Ele foi circundado por uma cerca dupla de arame farpado. O espaço entre a cerca e o pavilhão destinava-se à hora diária de banho de sol, a mais apreciada da rotina dos prisioneiros. Foram colocados holofotes em posições estratégicas. As refeições eram servidas no pavilhão da Bateria e era a mesma dos soldados do Regimento.

 

Ali os prisioneiros receberam visitas freqüentes de membros da Embaixada da Espanha, que representava os negócios da Alemanha no Brasil e que lhes pagava os vencimentos, bem como da Cruz Vermelha Internacional. A Cruz Vermelha procedia o intercâmbio epistolar entre os prisioneiros e seus familiares, na Alemanha, e fornecia-lhes material de esporte e alimentos especiais. Em Pouso Alegre, ficaram na memória local os salames, mortadelas e presuntos pendurados pelo lado de fora, à guisa de geladeira usada pelos prisioneiros para conservar os alimentos nos dias frios de inverno.

 

Os oficiais ficaram confinados na Seção Extraordinária do Regimento, segundo Boletim Interno.

 

A convivência entre os prisioneiros e seus guardas foi amigável. Os guardas forneciam-lhes cigarros, item que não era farto entre eles.

 

A rotina no Pavilhão, e fora dele, era comandada pelo suboficial da Marinha de Guerra alemã, Rudolf Genkow, de 33 anos.

 

Ela compreendia instruções de Navegação, Máquinas, Sinalização Semafórica, História e Moral e Civismo, esta acompanhada de canções militares e religiosas.

 

Segundo o então Aspirante Araripe, causou muita emoção entre os prisioneiros “o canto da Canção da Artilharia do Exército, cuja música foi apropriada da canção da Cavalaria alemã” por oficiais brasileiros que cursaram Artilharia no Exército Alemão entre 1910 e 1912.

 

Mereceu destaque também, por ter fugido à rotina, um desenho encontrado durante inspeção no Pavilhão de Prisioneiros representando um submarino alemão na superfície e sua tripulação assistindo ao afundamento de um navio com bandeira brasileira, após torpedeado.

 

O Coronel Rubens Guilherme de Almeida, comandante do 8º RAM e da guarnição de Pouso Alegre, determinou, como punição, a suspensão do banho de sol por uma semana - punição modificada para castigo individual do desenhista, à luz da argumentação do suboficial Jenkow, que invocou a cláusula das Convenções sobre Prisioneiros de Guerra de 1929, assinada pelo Brasil e a Alemanha, que proibia castigos coletivos.

 

A barreira da língua foi o grande obstáculo a uma maior aproximação. Atuava como intérprete o citado Dr. Hofmann, para coordenar as rotinas diárias comuns a todos os quartéis.

Conta o Aspirante Araripe haver, inadvertidamente, retido uma carta do marinheiro de guerra Josef Fuchs, de 20 anos a sua amada na Alemanha, conforme descreve, em detalhes, em artigo publicado em A Defesa Nacional.

 

O administrador do Campo Provisório foi o Capitão José Venturelli Sobrinho, que, após a chegada dos oficiais, passou a entender-se com o comandante do navio, Capitão mercante Johann, de 51 anos. Os prisioneiros, ao fumar, usavam latinhas para aparar as cinzas. Houve um deles que, com meios de fortuna improvisados, conseguiu estabelecer, com aproximação, as coordenadas geográficas de Pouso Alegre. Interessante também foi a tentativa desesperada de suborno de um prisioneiro, apelidado Himmler, para ser levado à noite, quando todos estivessem dormindo, à zona de boemia de Pouso Alegre. Não foi atendido.

O “FURADOR DE BLOQUEIO” ANNELIESE ESS

O ESSEBERGER EM FOTO

O ESSEBERGER DESENHADO DE MEMÓRIA PELO DR HOFMAN MÉDICO

DO GRUPO DE PRISIONEIROS A ALEMÃES NO BRASIL

O Anneliese Essberger pertencia a John T. Essberger Shippeng Company. Ao eclodir a guerra, encontrava-se em Kobe, no Japão, tendo sua tripulação retornado à Alemanha pela ferrovia Transiberiana. Cinco meses antes do ataque a Pearl Harbour o navio saiu de Kobe com outra guarnição, transportando um carregamento de borracha crua, tendo atingido Bordéus. Em 5 de novembro de 1942, deixou Bordéus com destino ao Japão, quando foi interceptado, 17 dias depois, ao norte do Equador, por navios da 4ª Esquadra americana.

O navio, segundo o Dr. Leo Hofmann, foi construído em Hamburgo, seu porto de origem, em 1935, pela empresa Deutschem Werft AG, Hamburger Finkenwerder. O engenheiro foi John T. Essberger. O navio foi lançado ao mar em 19 de dezembro de 1935. Possuía 127,60 m de comprimento e 17,4 m de largura, tonelagem de 5.178,6 BRT, capacidade de carga de 8,365 ton, velocidade de 13 nós e dois motores. Sua cor era branca e preta e, na chaminé, trazia um E em azul. Sua identificação internacional eram as letras DJQC.

O Essberger estava guarnecido com um canhão 105 mm de duplo emprego, com excelente aparelho de pontaria, quatro metralhadoras e uma lancha torpedeira. Os vinte tripulantes de sua guarnição pertencentes à Marinha de Guerra eram encarregados do armamento.

O navio navegava com um dispositivo pronto para ser acionado, explodindo e afundando a embarcação, para que sua carga não caísse em poder dos Aliados.

Os líderes da guarnição da Marinha de Guerra eram o Segundo-Tenente Karl Bruns, engenheiro de Stetin, o Aspirante Victor Heinrich Betz, engenheiro, de Ulm Donnam, e o suboficial Rerdol Genkow, de Anterrade.

Da carga que levava para o Japão constavam roupas, botões de pressão, barris de calcário , medicamentos da Schering, bobinas de cabos metálicos de duas polegadas, cordas feitas de fibra de coco, caixas de pigmentos para tintas, gorduras vegetal e animal e óleos lubrificantes.

No trajeto, foram alvo de reconhecimento de um avião inglês e mais tarde, bombardeados por quatro, sem serem atingidos. Para tripulantes, isto aconteceu porque “o Essberger pulava fora dágua sob o efeito do bombardeio”.

O Essberger foi localizado e o contratorpedeiro Somers foi encarregado de identificá-lo. Solicitado a identificar-se, respondeu ser o navio norueguês Skjilbred, que não constava da lista da 4ª Esquadra Americana. As 06h46min de 22 de novembro, o Essberger parou e arriou dois botes. Viu-se um incêndio na casa do piloto. O Somersordenou que não houvesse o desembarque, e lançou na água um salva-vidas com um Grupo de Abordagem, ao comando do Tenente R. H. White. Antes de o grupo abordar o Essberger ouviram-se três explosões e, a seguir, foi arriada a bandeira da Noruega, subindo, no mastro principal, a da Marinha Mercante alemã. Os 62 tripulantes vagavam em 4 barcas salva-vidas. O Tenente White entrou no navio com dois oficiais e apanhou o que pôde em documentos e armas leves.

As 08h22min de 22 de novembro de 1942, o Anneliense Essberger afundou pela popa, na posição 00.54-N e 22.34-W, quase sobre o Equador. Ao cair da noite, o Millwanke recolheu os 62 prisioneiros e os transportou para Recife.

O Anneliese Essbergerera um “furador de bloqueio”, destinado a transportar, para o Oriente e, particularmente para o Japão, manufaturados, e de lá trazer borracha, óleo comestível, wolfrânio, titânio, cobre, quinino, etc.

Como os demais “furadores de bloqueio”, ele tinha um distintivo: um mercante com uma águia na proa, tendo nas garras uma cruz suástica. Todo o conjunto era envolvido com um corrente com os elos rompidos pela proa na linha d’água. A corrente traduzia sua dificílima missão de ludibriar a supremacia naval aliada nos oceanos e, numa operação de desespero, manter ligação Alemanha-Japão. Muitos comandantes conseguiram realizar o grande feito naval de transpor o cinturão do Atlântico Sul (estreitos), do norte para o sul e vice-versa.

O assunto foi por nós abordado com mais detalhes, na obra que focaliza o contexto de atuação dos “furadores de bloqueio”: - Participação das Forças Armadas e da Marinha Mercante do Brasil na Segunda Guerra Mundial, Volta Redonda, Gazetilha, 1995 . Ele ainda possui muitos pontos a serem revelados.

Esperamos que o médico Leo Hofmam consiga mostrar, expressivamente, a face da saga vivida no Anneliese Essberger e, em especial, no Brasil (Recife-Rio-Pouso Alegre-Rio-Recife) em seu livro anunciado ao General José Arnaldo Cabral de Vasconcelos, do qual enviou 3 folhas;

Aqui retificamos algumas informações imprecisas nos artigos sobre o assunto, numa operação de aproximações sucessivas, para resgatar esta história que causou tanta surpresa e impacto, ao levá-la a público em 1991. E, principalmente, a retificação da informação, em fonte citada, atestando o mau comportamento dos prisioneiros, o que os depoentes que com eles conviveram negam.

PREFÁCIO DO LIVRO DO DR. HOFMANN

 

Recebemos, do General José Arnaldo Vasconcelos, cópia de três páginas do projetado livro do Dr. Leo Hofmann, homem culto e sensível, contendo o prefácio, as características do Anneliese Essberger, com a foto e um desenho feito pelo Dr. Hofmann.

 

Com a ajuda gentil da Primeiro-Tenente Eva Nisa Matzenbacher Berwaldt, gaúcha de São Xavier, professora de alemão na Academia Militar das Agulhas Negras, conseguimos resgatar as características do navio e o pensamento do Dr. Hofmann no prefácio do livro em que aborda a última viagem, o afundamento do navio e a longa prisão dele e dos 61 prisioneiros, no Brasil e EUA. Era mais ou menos este o pensamento que expressou no prefácio (Vorwort):

A tripulação do Anneliese Essberger era constituída de homens simples do povo alemão. Eles sobreviveram a todos os longos anos de guerra, de medo pela própria vida, por suas famílias, pela decepção e confusão espiritual, pela destruição e pelos atos desumanos da guerra violenta e sem sentido. Tudo durante o tempo em que foram utilizados nela, e em que foram prisioneiros de guerra, vítimas, com nojo e tédio, do sistema em vigor, que sonharam esquecer o mais rápido e completamente possível.

Esquecer os anos roubados pelos poderosos insensíveis e sem consideração, esquecer o mesmo arame farpado dos campos de concentração, a mesma comida, o mesmo dormir dias e dias, mas sempre com a infindável esperança de liberdade, em que pese a sensação de vazio interior tornar-se, dia a dia, cada vez maior.

E também previmos a vindoura calamidade, a debacle alemã depois da guerra. E a miserável e sem sentido existência, desagradável e lamentada do pós-guerra. Conseguimos suportar, por causa de nossa inabalável esperança que talvez valesse a pena viver e lutar para esquecer lembranças amargas.

Nós todos sempre sonhamos com uma nova vida, em liberdade e felizes, com nossas famílias.

Esses sonhos e esperanças, na paz, continuaram sendo os mesmos, para homens abalados e arrasados. Só então eles compreenderam as palavras de um escritor romano da época do Império Romano que falava da “farsa ou embuste da existência”.

Nós, tripulantes doAnneliese Essberger, sobrevivemos da mesma forma como, há 300 anos, alemães sobreviveram, quando suas terras natais passaram a integrar a Suécia e a França.

Em contraste com os donos do poder na Alemanha, o povo humilde alemão há muito já havia aprendido a sofrer sem reclamar.

Repatriados, os tripulantes doAnneliese Essberger iniciaram a reconstrução de suas vidas interrompidas pela guerra. Seus pensamentos, mágoas e lutos naufragaram no esquecimento, do mesmo modo que seus anos perdidos na guerra.

 

As recordações, seguramente, para outros companheiros de desventuras, foram mais desagradáveis e dolorosas e ”já nadavam sobre a sopa” - talvez alusão à alimentação dos prisioneiros de guerra.

E termina o Dr. Hofmann seu prefácio com estes versos alusivos aos seus sacrifícios e de seus companheiros de infortúnio:

O que eles faziam, o que eles sofriam?

Para onde iam os navios?

Longe, bem para longe, em noite de tempestade.

Por que, para quê ? Eles anotaram

Quem foi, quando e pra onde e como foi.

O que restou de tudo isto?

Restaram nossas mãos vazias e muito mais.”

Dr. Leo Hofmann.

A TRIPULAÇÃO DO ESSEBERGER

Nº Ordem

Nomes

Posto

Funções

Corporação

Data. Nascimento.

Nacionalidade

Nº chapa alemã

Naturalidade

1

Johann Prahn

Capitão

Comand.

Mar.Merc.

27-X-1893

Alemã

25.139

Westrhanderfehn

2

Helmut Kach

Cap. Corv.

1º Of.

Mar.Merc.

13-VII-1914

Alemã

25140

Elsfleth

3

Max Dalata

Cap. Corv.

1º Eng.

Mar.Merc.

11-X-1891

Alemã

25143

Kiel

4

Georg Wictholter

1º Ten.

2° Of

Mar.Merc.

23-V-1913

Alemã

25141

Hamburg

5

Otto Klepper

1º Ten.

1° Radiom.

Mar.Merc.

13-VI-1917

Alemã

25147

Hamburg

6

Gunther Neuwald

1º Ten.

2° Radiom.

Mar.Merc.

31-V-1917

Alemã

25148

Dantzig

7

Dr. Leo Hofmann

1º Ten.

Médico

Mar.Merc.

1-1-1909

Alemã

Perdida

Schweinfurt

8

Wilhelm Hartung

1º Ten.

2° Eng.

Mar.Merc.

4-VII-1907

Alemã

25144

Bremem

9

Wilhelm Grassmann

2º Ten.

Eletr.

Mar.Merc.

12-X-1915

Alemã

Perdida

wien donnan

10

Walter Milkawski

2º Ten.

4° Eng.

Mar.Merc.

9-II-1898

Alemã

25146

Dantzig

11

Werner M.

2º Ten.

3º Of.

Mar.Merc.

17-X-1920

Alemã

25142

Sdweethherude

12

Adalbert Franz

2º Ten.

4° Of.

Mar.Merc.

23-IX-1921

Alemã

Perdida

Hamburg

13

Karl Bruns

2º Ten.

3° Eng.

Mar.Merc.

17-V-1916

Alemã

25145

Stettin

14

Victor H. Betz

Aspirante

-

Mar.Merc.

21-XII-1914

Alemã

202

Ulm Donnan

15

Rudolf Genkow

Subof.

-

Mar.Merc.

9-IX-1911

Alemã

493

Csterrad

16

Reins Heirich

Subof.

-

Mar.Merc.

10-VI-1919

Alemã

4689

Heilbrenn

17

Bruno H. Schening

Subof.

Cap. Of.

Mar.Merc.

19-VIII-1922

Alemã

Perdida

Niendar/Holst

18

August Kruse

Subof.

-

Mar.Merc.

19-XII-1921

Alemã

4384

Ilvese

19

Arthur F. Keuger

Subof.

Máquina

Mar.Merc.

4-XI-1907

Alemã

25159

Albanas

20

Otto H. Schimidt

Subof.

Máquina

Mar.Merc.

23-II-1906

Alemã

Perdida

Apenrade

21

Josef Schwark

Subof.

Máquina

Mar.Merc.

21-XII-1903

Alemã

Perdida

Dortmund

22

Walter Kruse

Subof.

Máquina

Mar.Merc.

11-II-1905

Alemã

25168

Schawann

23

Hebert Lonzykaki

Subof.

Carpint.

Mar.Merc.

1-XII-1913

Alemã

25430

Berlim

24

Oswald Schimidt

Subof.

Máquina

Mar.Merc.

6-X-1909

Alemã

25171

Tarnewitz

25

Vinzen Rohrmeier

Subof.

Máquina

Mar.Merc.

1-III-1913

Alemã

25155

Kaufbennn

26

Hans Steixhausen

Subof.

Coz.

Mar.Merc.

1-V-1908

Alemã

25151

Schanebeck

27

Gerhard Dreschel

Subof.

Enf.

Mar.Merc.

21-XII-1922

Alemã

1892

Arusbadt

 

BIBLIOGRAFIA

ARARIPE, Luiz de Alencar, Cel. Prisioneiros de Guerra Alemães no Brasil. A Defesa Nacional, n° 753 julho/setembro de 1991 e nº 760 abril/junho de 1993.

BENTO, Claudio Moreira, Cel. Campo de Prisioneiros de Guerra em Pouso Alegre - MG. RIHGB. V, 152, nu 373, p. 1052-1056, outubro/dezembro de 1991. DO Leitura, São Paulo , 09 de junho de 1991. Ombro a Ombro, Rio de Janeiro, n° 35, abril de 1991. Sul de Minas, ltajubá, 26 de abril de 1991. Folha do Sudoeste. Francisco Beltrão - PR, 30 de agosto de 1991 (transcrito em parte coluna Jorge Balieiro de Lacerda).

(_____).Campo de Prisioneiros de Pouso Alegre (complemento). Comunicação ao IHGB em Í2 de junho de 1961 na CEPHAS, publicado na RIHGB v, 152, suplemento 1991, p, 122-123.

(_____). Participação das Forças Armadas e da Marinha Mercante do Brasil na Segunda Guerra Mundial. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, 152 (372): 685-745, jul/set 1991 ,

SANTOS, Fábio. Segunda Guerra: Brasil teve dois campos de concentração. O Globo. Rio de Janeiro, 12 de fevereiro de 1995, p. 14.

VASCONCELLOS, José Arnaldo de, Gen Bda. Cartas de 28 de maio de 1991 a Pedro Shirmer e de 26 de junho de 1991 ao autor depondo sobre os prisioneiros alemães sob sua guarda no Recife na Polícia Militar.

HOFFMANN, Leo. Brocha de brecher - Anneliese Esseberger. Alemanha, 1978 (3 folhas)/Prefácio, foto e características do navio.

 

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