A DESCOBERTA DE SI PRÓPRIO
(Do livro Minha terra, minha gente, minha vida)
Vai!... Segue contigo mesmo, mãos dadas como nunca o fizeras antes, para que, em momento algum, não sintas o gosto amargo da solidão e penetra em teu àmago. Atravessa, afoito, as florestas das decepções e dores, examinando, em cada uma, o que de mais profundo: repara: elas que, ao longo de tua existência, pareciam tão majestosas e intransponíveis, em suas intimidades, isoladamente, perdem o brilho que as revestiam, mostram-se, agora, como realmente o são - inúteis.
Não te detenhas, prossegue! Vadeia os riachos da sabedoria que flui, cristalina, despencando-se das pedras negras das convenções. Bebe de sua água, sentir-te-ás reanimado para a longa peregrinação. Contudo, aí não te detenhas além do tempo necessário para saciar a tua sede - ela ainda não é o fim que procuras, mas sim um meio de encontrá-lo.
Sobe, agora, ao alto das montanhas das pretensões - são íngremes e imponentes, porém o são por força de tua própria vontade - assim as construístes. Sente o suor, em bagas, molhando teu corpo, as pernas arqueando-se com o esforço, os pulmões, ansiosos, estourando em busca de ar, o coração descompassado lançando o sangue que teu organismo reclama. Recorda-te da água, porém que o recordar não seja motivo para desespero, mas alento para prosseguir.
E prossegue, porém, antes, despoja-te de tuas vestes e, mais ainda, das pretensões que ainda pretenderas acumular. Descansa, já estamos chegando, mas aproveita o parco tempo para contemplar o muito que pretenderas, esquecendo-te que toda a imensidão dos céus pode ser contida e refletida em uma poça d´água. Sentes-te cansado, porém apoia-te em ti mesmo e baixa ao vale das Esperanças.
Não é tão belo, assim, agora que a noite cai, criando sombras entre o que se afigura como ruínas. Não, não foge; repara que, não obstante desgastadas pelo tempo, ainda brilham com os últimos raios de sol. Não, não passa adiante sem que, antes, afague uma qualquer, escolhida ao acaso. Vê como, se polida, ainda resplandece o brilho de mil sóis, ofuscando-te, como antigamente. Deixa que as lágrimas corram, céleres, pela tua face, ao relembrares o quanto representaram outrora.
Vamos, pega-as uma a uma, Ã s dezenas, centenas, milhares, milhões, são tuas amigas, deixa que teu pranto dissolva a poeira do tempo e veja como todas elas tornam a brilhar, até mesmo as que julgavas mortas ou as que matastes, friamente, com o punhal covarde do amadurecimento.
E, agora, cresce!... Cresce e sinta-te integrar à s florestas, riachos, pedras, montanhas, vales e sol, à s dores, decepções, sabedoria e, sobretudo, à s esperanças, são tua própria vida. Sente-te, em tua grandeza, integrando-te ao universo, expandindo-te à velocidade mil vezes superior a da luz, em toda a tua extensão e vê que tudo, ínfimo e infinito, sempre o fostes.
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