Pecado, me disseram,
Pecaminosa concupiscência.
Meu corpo não sabe disso,
Nem meus instintos.
Por que meu desejo se abre
Sob a lâmina do seu sorriso?
Por que seu olhar derrete
Meu coração dentro do peito?
O pecado foi feito.
Ei-lo estirado sob os olhares
Dos que me olham da penumbra fria.
Taxado, medido, pesado,
Dolorosamente julgado
Curva-se perante seu algoz.
Vil final.
A lâmina está levantada
E rebrilha o fio metálico.
Não julgueis, foi dito um dia
Que se perdeu na memória dos tempos
E nas curvas turvas das eras.
Que faço eu desta força
Que me corrói por dentro
E deixa marcas profundas
No meu rosto?
Vou morrer de desgosto
Apesar da arte, da poesia
E da suave alegria
Que me vem de você.
Não me dou por vencido
Embora as vezes me bambeiem as pernas
E o ar fuja dos pulmões.
Morrerei um dia com certeza.
Nesse dia de que me adiantará a leveza
Do ser que habita outras eras,
Outros chãos?
Olho minhas mãos
Que começam a tremer.
Vou para a sacada
Olhar o sol nascer.
BSB22012002