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Cartas-->A "malígrina" vingança de uma estagiária -- 12/11/2002 - 14:32 (Clair Ienite Gobbo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
(*) A "MALÍGRINA" VINGANÇA DE UMA ESTAGIÁRIA


Em março de 1982 é admitida uma estudante de Psicologia, do terceiro ano, numa multinacional de grande porte, para cumprir as horas de estágio exigidas pelas normas. Após a fase de documentação da admissão, é incorporada à equipe de RH.

A equipe de RH era composta por profissionais com currículos expressivos. Entre pessoal de gerência, técnicos e administrativos, eram 15 pessoas, mais 4 estagiários.

Muito bonita, culta, educação refinada, mas tímida ao extremo, nossa estagiária logo chamou a atenção de todos, por causa de seus olhos assustados e do medo que parecia ter de tudo e de todos, porque era a sua primeira experiência em empresas.

Então, passou a ser a "vítima" preferida daquelas brincadeiras que são comuns com os estagiários: buscar café para todos, apanhar o carbono redondo para cartas circulares, fazer cópias xerox na copiadora do andar da presidência, porque era a única que "reproduzia em inglês" e outras. Mesmo calada, a moça suportava as brincadeiras, com os olhos assustados de sempre. E outras "brincadeiras", algumas delas torpes agressões à uma pessoa inexperiente, aconteciam todos os dias, todas as horas...

Nas reuniões da equipe, com presença obrigatória, a estagiária tinha que ficar calada, no fundo da sala. Um dia, perguntou se poderia dar algumas sugestões nas reuniões. Disseram-lhe que "estagiário não dava palpite por falta de Q.I." e retiraram-se todos da sala, rindo-se às custas da "ousada" estagiária.

Seis meses depois, terminado o período de estágio, ela preparou o relatório de praxe e o enviou para a Gerência Corporativa de Recursos Humanos, escrito em inglês impecável. Nele, ela declinava da sua efetivação na empresa. E foi uma "bomba" daquelas bem escandalosas!

As partes mais "deliciosas" do relatório são reproduzidas a seguir:

"O ambiente em RH é o de inimigos que se toleram. As pessoas não se respeitam, não há espirito de equipe, ninguém facilita a vida de ninguém, e todos têm necessidades de ego que os levam a vaidade extrema, a um narcisismo de adolescente".

"Os estagiários são tratados de forma desrespeitosa, tendo que exercer tarefas das mais aviltantes, isso num departamento que se diz de Recursos Humanos!".

"Ouvi, o tempo todo, comentários maldosos uns sobre os outros, como a forma de se vestir, maneira de andar e até dúvidas sobre a sexualidade".

"Há conflitos represados entre todas as pessoas dessa equipe, assim como ressentimentos, intrigas, comportamentos de perseguição. Há muita patologia nessa equipe".

"As pessoas de RH tratam os funcionários da empresa com desprezo, com muita má-vontade, mostrando-se subservientes diante dos executivos do Senior Staff. Quando se trata de pessoal das fábricas, o tratamento dado por RH é, a meu ver, insultuoso. São chamados de "baianos chatos".

"Na área de Seleção, os candidatos são tratados de forma desumana, alguns até de forma humilhante, sendo que percebi que o principal critério para a duração das entrevistas com candidatos era a estética: bonitos, longas entrevistas; os "feios", uma entrevista de 15 minutos. Quando aparecia um candidato vistoso, bonitão, as duas entrevistadoras decidiam no par ou ímpar quem o entrevistaria".

"Acompanhei 19 reuniões da equipe e anotei os seguintes dados:
- 100% das reuniões não cumpriam a pauta
- 100% das reuniões duravam a tarde inteira das sextas-feiras, por causa da desorganização, o que sempre vi como um prejuízo para a empresa.
- 100% das reuniões começavam com grande atraso
- 100% das reuniões não tinham a presença de todos os convocados
- 100% das reuniões sofriam interrupções para que pessoas atendessem o telefone
- 100% das reuniões foram realizadas em clima tenso, com muita troca de farpas entre as pessoas
- em 100% das reuniões, as decisões eram tomadas pelos três Gerentes de Divisão, mesmo que sem a concordância das demais pessoas
- nunca ouvi falar em resultados nas reuniões: em todas elas, a discussão era mais filosofia e oportunidades para demonstração de conhecimentos, frases de efeito e autores "badalados"

"Ninguém se preocupou em me ensinar nada! Diziam que os estagiários tinham que fazer apenas o que lhes era mandado. Todo mês, me mandavam andar pela empresa toda, entregando vales-refeições e eu não estou estudando Psicologia para isso!"

"Quando questionei as razões do uso de uma bateria de testes de projeção da personalidade, a psicóloga responsável pelo setor de Atração e Seleção me disse que eu "fosse perguntar ao Sigmund Freud".

"Ninguém gosta do pessoal de RH da empresa! Uma vez me disseram que eu batalhasse outra área para fazer o meu estágio, se quisesse ter amigos na empresa".

"Várias vezes fui assediada sexualmente dentro do departamento de RH, por todos os seus membros do sexo masculino. Tive que ouvir que havia uma aposta para saber quem seria o primeiro a me "faturar". Isso é uma falta de respeito e uma violência contra uma iniciante na carreira e se é assim em RH, imagino como deve ser na empresa toda".

"Minha conclusão é de que não me sentiria bem trabalhando nessa equipe. Escolhi Psicologia Organizacional motivada por palestras a que assisti falando de RH como uma estratégia de valorização das pessoas e não posso aceitar o que vi na área onde estagiei, que se mostrou o tempo todo exatamente o contrário do que tenho estudado em Psicologia. Não gostaria de começar minha carreira dessa forma. Desculpem-me!"

M O R A L D A H I S T Ó R I A
A DIFERENÇA ENTRE A GRANDIOSIDADE E A MEDIOCRIDADE ESTÁ, FREQÜENTEMENTE, EM COMO UM INDIVÍDUO ENXERGA UM ÊRRO
(Nelson Boswell)


(*)Benedito Milioni
É graduado em Sociologia e Administração de Empresas, atua como Profissional Independente, tem 30 anos de carreira e mais de 20 livros publicados. Pode ser contatado pelo email valoriza@terra.com.br


(*) Os dados que serviram de base para este artigo aconteceram há 18 anos. Ficaram guardados na minha memória. Nunca foi contado. Em novembro de 2000, foi feito o último contato com a protagonista da história, dias antes de ela nos deixar, ocasião em que pediu que fosse divulgada, divertindo-se, ainda, com o acontecido. Em respeito à memória daquela pessoa maravilhosa e silenciada pela saudade, o autor guarda consigo o seu nome.


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