Usina de Letras
Usina de Letras
145 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62225 )

Cartas ( 21334)

Contos (13263)

Cordel (10450)

Cronicas (22536)

Discursos (3238)

Ensaios - (10364)

Erótico (13569)

Frases (50620)

Humor (20031)

Infantil (5431)

Infanto Juvenil (4767)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140803)

Redação (3305)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6190)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->CHUVA-BLEKAUT-UM BEIJO. -- 03/01/2003 - 05:00 (Igor Barradas) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A chuva caía torrencialmente lá fora, Luís e seus amigos jogavam War até o tabuleiro voar pelos ares com todas suas minúsculas pecinhas coloridas a se espalhar no exato momento de um ensurdecedor trovão. A luz ameaçou apagar e Luís levantou-se sem culpa sob o olhar assustado de seus companheiros de uma isolada sexta-feira chuvosa. Naquele jogo perdia raramente, mas, seus amigos montaram um complô para acabar com a sua única chance de divertimento. Luís estava frustrado, tomara bomba em uma prova naquela manhã, enfrentara uma TPM de sua mãe durante à tarde, e aguardava anciosamente o que parecia ser a festa do ano, até o cancelamento devido ao toró. Isto sem falar do dia a dia sem nenhuma merreca, da casa caindo aos pedaços e da decisão de sua mãe começar a namorar um amigo seu. Era tanta merda, que Luís não estava mais puto, estava anestesiado.

Enquanto os amigos catavam as pecinhas falando de mulher, Luís passava sua roupa a finco, tomava um banho e se arrumava com dignos detalhes. Ao sair do banheiro...

- Que isso Jow? Para onde você vai?
- Vou atrás de uma mulher!

Os seus amigos não conseguiam respirar em meio às gargalhadas, enquanto Luís ajeitava o topete. A situação era absurda, Luís vivia em Jardim Primavera, um pequeno bairro de Duque de Caxias, que até pouco tempo atrás era praticamente todo de ruas de barro, um bairro onde sua única opção de lazer era a praça com seus trayller´s, entregues, naquele momento, à força da natureza.

- Você está ficando maluco cara? São duas horas da manhã!

Mesmo se você mergulhasse profundamente no olhar de Luís, o que você veria, seria a serenidade. Os amigos não riam mais, Luís abre sua carteira para verificar seus dois reais, mede os ombros diante do espelho, passa um perfume, e sai no meio da chuva sem se despedir.

O tempo não estava brincando, Luís tentava manter a pose diante dos pingos grossos que caiam infinitamente, foi em direção à Avenida Primavera, principal que corta o bairro e é asfaltada. Alcançou a Avenida depois de algum sufoco. Com água e lama até os calcanhares, pode vislumbrar o cenário sem uma única pessoa sequer, com árvores a dobrar em favor do vento que urgia. Uma ponta de desanimo o cutucou, mas naquele momento não poderia dar o braço a torcer. Pois então, a seguir seu caminho com determinação.

Aos dezesseis anos seus problemas se resumiam a um único símbolo, mulheres. As mulheres, as meninas, as coxas, virilhas e beijos quentes seriam a solução de todas as pancadas. A vida se resumia a descobrir uma fórmula que as fizessem sumir com o olhar blasé característico, do tipo “eu sou melhor que você!” Uma formula que as fizessem compreender que a vida passa rápido, que entendessem que temos que transar o máximo de vezes possíveis, até que acidentalmente, nasça um filho que resultará em um casamento inchado de relaxamentos e cervejas com amigos num bar de subúrbio jogando sueca, suando a bicas, com camisa no ombro num ensolarado dia de domingo. Claro que Luís sabe que tudo isto é o que ele não quer, o que não vai acontecer. Se Deus quiser, ele será um astro do New Metal brasileiro cantando músicas em inglês no Japão.

E o que mais revoltava, era ele ter a percepção de que era um cara legal, de idéias geniais, cheio de sonhos, cheio de vida. Decididamente não era um calhorda, seria sincero e procuraria não cair nos erros que todos os casais caem. Doía não conseguir se expressar, do que valia tanta riqueza, cercada pelo muro que é a timidez. Paralisava, emudecia, brochava em frente há uma mulher desejada, figura intocável, representante dos anjos, matéria prima da palavra sonho.

Angustiava as chances perdidas, as meninas que o olharam de uma forma diferente e sumiam. Imagens de nomes, palavras, bocas, sinais, olhares e situações, reviviam em sua mente no ritmo do videoclip. A imaginação dominava enquanto Luís caminhava sem rumo, Débora! Débora, quase uma desconhecida, se tornou presente, e sua história se apossou do tubilhão de idéias que perseguia Luís: era amiga de uma menina que Luís paquerava, Débora, mil vezes mais bonita que a amiga, e Luís sentia que tinha muito a caminhar para merecer tal mérito, era muita areia, uma menina com um olhar tão algoz. Até que um dia, Luís adentrou um bar de Santa Tereza, no Rio, mais uma vez revoltado com o andar da carruagem, socialmente forçado a ficar num bar mais caro do que podia pagar, graças à idéia de uns amigos de uns amigos seus, fazendo a corte a noite toda podendo pagar apenas duas cervejas.


Então, com o sorriso amarelo Luís se manteve ali, até perceber que Débora estava sentada na mesa da frente. Melhor, ela não estava ali, seu olhar repensava valores no vazio, um momento de introspecção em meio a uma mesa cheia de amigos falantes. Débora decide voltar à realidade, levantando o olhar para encontrar com o olhar de Luís, Por um momento, Débora e Luís sentiram a mesma coisa, me tire daqui, me faça rir, me faça viver na realidade o que se sonha. Pelo amor de Deus, diga algo que nos salve!

Ambos se calaram, nada falaram, apenas se cumprimentaram ao longe com um gesto.

Neste momento, Luís parou em meio à chuva incessante e gritou para a ela em algum ponto perdido da comunidade do Sabará. Sua voz foi ecoando até o barulho continuo da chuva soar mais alto e um zumbido de música e burburio de conversa surgir pelas paredes das casas de alvenaria que rebatiam o som. Em algum ponto, não muito longe dali, uma festa acontecia. E Luís, com um passo animado, se pois a procurar aquela bem-vinda confraternização.

O Sabará é uma comunidade carente que circunda o bairro de Jardim Primavera, um loteamento desordenado que cresceu muito rápido, fazendo Luís entrar em recém-construídos becos sem saída, e não demorou muito Luís encontrar uma casa que chamava atenção por carros estacionados em frente, na casa da frente tudo fechado e escuro e a música parecia que vinha lá de dentro, mas, um pouco mais a frente um portão se encontrava aberto, a festa ocorria na casa dos fundos.

Enquanto penetrava pelo corredor estreito e longo que levava aos fundos da casa, Luís pensava na desculpa de estar procurando uma outra festa, caso alguém perguntasse. Luís era reconhecido como um penetra profissional pelos seus amigos. Chegando lá, Luís dá sorte, a festa perece concentrada num ritual, todos estavam em pé, de costa para ele, que esticando o pescoço pode ver que era uma festa de 15 anos, o pai dançava com a filha ao som de Roberto Carlos sob o olhar emocionado de todos, se apoderou de um copo de cerveja e comeu uns salgadinhos que haviam numa mesa momentaneamente solitária. Pois-se a procurar alguém para legitimar sua presença, um amigo de infância, um colega de colega, ou até um conhecido de vista. Chamou a atenção uma menina vestida e sentada com uma atitude que Luís percebeu de cara não ser uma menina daquelas bandas, e ao seguir um pouco à frente, mudando o ângulo, pode vislumbrar o inacreditável, era Débora, satisfeita, com um olhar plácido, esperando o momento em que sua vida virará de cabeça para baixo.

Débora é uma típica menina carioca, que Luís conheceu graças a um estagio que ele fez, onde conheceu Bia, que era melhor amiga de Debora. O fato dela esta ali num ponto perdido da Baixada Fluminense é que mais atordoava Luís. E antes que Luís pudesse assimilar a situação, Débora o encontra em meio às pessoas, levantando-se e correndo para o abraço.

- Luís Bitencourt!

Os dois se abraçam forte por um longo momento, até Débora se afastar.

- O que você esta fazendo aqui?
- Eu? O que eu estou fazendo aqui? Débora eu moro aqui perto, vim andando na chuva...

- Todo molhado.

- Perdida na Baixada...

- A dona desta casa ajudou me criar, foi empregada lá em casa durante muitos anos. A menina que faz aniversário é afilhada de minha mãe, a família toda esta aqui.

Luís ficou olhando para Débora em silêncio sem conseguir se expressar, até ela começar a ficar sem graça com a situação.

- Você não deve estar entendendo nada, molhado, com cara de babaca sem conseguir dizer uma palavra. Há uma explicação para tudo isto. Você esta sozinha? Acompanhada?

- Sim!

- Que pena!

Os olhos, que antes, tentavam fugir dos de Luís, foram cooptados pelo impulso sincero.

- Tudo bem, por que você não conta sua história?

- Porra! A história?... Sai de minha casa em meio a esse toró que você pode ver, de madrugada, à procura de uma menina com quem eu pudesse me apaixonar... Fui caminhando sem rumo com milhares de pensamentos, idéias e sentimentos conflitando dentro de mim. Até que surgiu você em meus pensamentos, um olhar que trocamos, um olhar que talvez você nem se lembre, num bar lá de Santa Teresa, onde apenas nos acenamos. O seu olhar era como se me dissesse: Me tira daqui, sacuda minha vida, faça-me viver, me beije na boca!!! Pedia socorro como você, e apenas nos acenamos... Então ouvi um barulho de festa, sigo para cá, e encontro você, inacreditavelmente, num ponto perdido da Baixada Fluminense, ás duas da manhã, em baixo de um toro interminável. Um absurdo que só tem um significado, você sabe o que isto significa Débora?


No momento em que Débora parecia procurar em seus pensamentos uma resposta para aquilo tudo, uma trovoada mais forte e um blecaute, a escuridão toma conta do cenário.
- Você tem noção do que isto significa Débora?

No silêncio, em meio a escuridão, Luís sentiu as duas mãos de Débora envolver seu pescoço o convidando a mergulhar num beijo indescritível, suas mãos envolveram a cintura de Débora a trazendo acolhedoramente para perto. Um longo e silencioso abraço se seguiu após o beijo.

- Me tire daqui! – Um cochicho quase inaudível de Débora.

- E seu namorado?

- Nada perto disso! Esta com a família, eles o levam para a casa.

- E sua família?

- Tem razão, vou avisar minha irmã, me espere lá fora.


Não demorou muito para Débora surgir no portão com um sorriso sereno nos lábios, deram as mãos e atravessaram todo o caminho de volta à casa de Luís conversando amenidades como se conhecessem há anos. Ao chegar em casa, os dois atravessaram a sala dominada pelos amigos de Luís que dormiam vendo televisão. Adentraram o quarto de Luís, onde que por algum milagre, não havia nenhum amigo babão dormindo em sua cama.

- É melhor você tirar sua roupa para não se resfriar.

- Só tiro se você tirar!

Após uma risada sacana, um observou o outro, botão por botão, peça por peça, sob a luz envolvente do abajur, amaram-se como nunca se amaram antes, e como nunca mais se amariam, pelo resto da vida.


PONTO FINAL.




adote esse autor adote esse texto envie este texto para um amigo veja outros textos deste autor



Currículo do Autor Exibido 4 vezes Fale com o autor


Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui