Coxas de Cetim, [Livro de Poesia] de autoria de Sérgio Gerónimo
Oficina Editores/2000/ Rio. Capa Tom Reiss
Por: Maria do Socorro Cardoso Xavier
A sedosa capa já sugere uma sensualidade maciamente sexual. Semiótica pura.Sob uma poesia existencial- urbano - erótica, o poeta Sérgio Gerónimo vai codificando símbolos e explícitos para descrever os desejos mais intensos. É o homem animal que sob impulsos selvagens faz do Céu, um Hades e de Tànatos, um poderoso Eros.
Sua poesia transpira sexualidade por todos os poros, irreverente, provocativa, onde se exclui o convencional; as dilacerações da carne em cio - o êxtase. O existencialismo sartreano, entre o nada e o ser, ali se extingue, nas aparências deste mundo de ilusões dos sentidos.
Vai invocando abismos e duendes, mitos e deuses clássicos,do subconsciente regressivo; eletrizado pelo sexo, ouriçado de desejos felinos. Chega a brincar com a lascívia, provoca e é provocado pelas zonas do prazer.O tácito e o oculto se entrelaçam, sem limites.
Livro de poesia de linguagem hiper pós-moderna, concretista, simbolista, fora dos padrões tradicionais, em cujos poemas, desnuda-se, fazendo esparramar sua sensu-sexualidade de várias formas, girando em torno de um só objeto: o império dos sentidos.Coragem e ousadia de se expor e causar espanto e perplexidade à ala conservadora dos humanos. "Ciclo-vício": pragmatismo de estímulo-resposta. É como se trouxesse um recado, fosse um porta-voz dentre milhões de homens - que superestimam o sexo- suas formas não convencionais de se exercitar.Muitos assim procedem e poucos têm a ousadia de expressar e de assumir perante o preconceituoso mundo. A sátira de "santinho", a propósito,se ilidem os sagrados, mas também profanam...
Em "Coxas de Cetim", vemos deletar o sentimento e superabundar o sexo; no entanto, lá nos remorsos da alma, há um grito abafado pedindo amor. A agressividade animal, o instinto tomando conta do ser racional, o bestializa, reduzindo-o ao nada, ao vazio angustiante. Aí o amor-sentimento rendeu-se ao momento de sensualidade sem limites.
A ànsia do sexo voluptuoso é tão intensa,o cio quase animal de "Ecuus"-o culto à s emoções do corpo, como se o mundo fosse acabar amanhã.
As racionalizações contraditórias do sentir, que expulsa e prende em "dúvida": a confusão e a loucura dos sentidos.
Aqui, acolá, há pausas, interregnos de ponderação, pg. 17; sexo que é Hades e é Olimpo. O senso de humor vem tornar lúdico poemas em cio.
Interessante a trova pg. ...tapete,transgressor, namorando as pernas dela...Em "Advertência" o poeta pede carinho-cuidado, talvez esgotado das artemanhas do sexo pelo mero prazer, pede socorro!
Um resíduo de "outras profanas", se faz presente em "profa (u) no", ... o profano sempre profeta...
Escolheria, sob a minha ótica, sob o meu olhar ainda um tanto pudico,fazem mais o meu gênero, os poemas: "Dolência", "Advertência","Atol", "Ponderação", "Vida revisitada", "Exercício", "Vontade de você","Serpente".Não obstante,quanto a forma, os poemas do poeta Sérgio Gerónimo, em "Coxas de Cetim", são perfeitos e diversificados.
Quanto ao conteúdo, de teor sensual,e também na forma, a poesia é poesia, tem o direito de transgredir. O prazer estético isenta-se do feio ou reprovável, no àmbito moral. A arte é arte. Dilata-se. Transcende. Libera.
Amor e compaixão até mesmo ante mantras diabólicos. Sempre falta algo verdadeiro, neste mundo aparente dos sentidos; tudo tem sido possível, também tão fugaz e falível. Tudo por falta do verdadeiro amor.
Para finalizar, invocaria o filósofo francês Voltaire: "Não concordo com uma palavra que dizes, mas defenderei até a morte, o direito de dizê-las".
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