PARA GABRIEL:
OUVE O ENCANTO QUE TE CONTO...
Uma amiga me telefonou bem cedo:
que para almoço eu não fizesse nada,
pois mandaria pronta
uma bela bacalhoada.
Passei a manhã pensando, sabe?,
"fazendo boca", como dizem por aqui.
Mas não contente em fazer boca,
fiz também coração:
comecei a pensar em ti,
"ah, que bom se Gabriel aqui chegasse
e comigo almoçasse!”
E tanto pensei, tanto pensei,
que arrumei na mesa dois lugares,
na esperança de que, ao sentir meu apelo,
uma varinha de condão acionasses.
Quando chegou a bacalhoada,
com seu cheirinho impregnando o ar,
te vi entrando porta adentro
a dizer que querias almoçar.
Sorri... antes de gritar
de espanto e de alegria...
Te abracei, te beijei, te agradeci,
solenemente depois te conduzi,
te consultei sobre o vinho
que, juntos, escolhemos,
claro, o melhor, pois merecemos.
E tivemos um almoço alegre,
conversando e rindo,
tu lembrando minhas estrepolias,
eu contando mais outras
que ainda nem conhecias...
Caçoava de ti
perguntando se alguém fazia melhor bacalhau
aí em Portugal
do que este que comias...
E tu, gentil, concordavas comigo:
não existe melhor...
E eu afirmando que nada mesmo havia
melhor que a tua companhia...
Foi linda, meu querido amigo,
a minha fantasia!
Agora te peço,
com meu arzinho de queixume:
não contes pra ninguém sobre este lance
que o ENCANTADO pode ter ciúme...
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