O VERDUREIRO
Eu estava sozinha,
pensando,
desatenta à vida e ao tempo,
lendo um velho poema,
lembrando,
depois um novo,
e chorando.
O verdureiro chegou
barulhento,
buzinando,
e me chamou.
Tentei disfarçar e,
passos lentos,
fui ao seu encontro.
Olhou fundo em meus olhos,
pousou a mão em meu ombro
nada disse,
suspirou.
As lágrimas represadas
afloraram,
duas rolaram
como a querer mostrar
meu eu inteiro...
E a mão de novo me afagou...
Pela primeira vez
pude sentir o conforto
puro e verdadeiro
que podia me dar
com gesto terno e sem falar
a gente simples que é meu verdureiro.
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