O AMOR A QUATRO MÃOS
(Em parceria com Lúria)
Reconhecendo-me nos teus olhos índios,
percebo luz de tua graça
brilhando em minha retina...
em mim redescubro-te
iluminando o sangue de minha raça
correndo livre nas veias...
vermelho como o teu.
Nosso fogo nos identifica,
nos vemos e sentimos um no outro.
Nossa particularidade étnica
transcresce em amor pelo gênero,
todo particular se reduz a manifestação específica,
historicamente determinada,
de uma identidade superior.
O homem se nos apresenta pleno,
seu amor quase naïf
...singelo e puro em sua generalidade.
Sentimentos mais íntimos,
outrora tolhidos,
renascem primaveris na aurora dos povos,
brotando a esperança no horizonte de todas as raças...
numa troca de olhares.
Me vejo e te vejo...
não estamos sós.
Há uma multidão fervilhando
à nossa volta, dentro de nós.
Sinto apelos,
ouço gritos de bocas que não falam,
vejo olhos suplicantes que já não enxergam,
vislumbro mãos em gestos inúteis de defesa.
Tenho medo.
Sinto invadida a alma que te dei.
Eu só queria você.
Queria nosso fogo,
o fogo de amar
que conhecemos desde a primeira vez,
que só parecia fogo,
tesão puro, prazer que faz gritar.
Nada mais justo.
O fogo ardeu
nos iluminou,
iluminando tudo à nossa volta.
Nos vimos aos poucos.
Nos sentimos devagarinho.
Mergulhamos um no outro.
A coragem de mergulhar
no fogo que acendemos
e não podemos apagar...
Tenho que me entregar,
tenho que queimar.
Mas eu só queria a ti,
teu corpo que mata a minha fome,
tua discreta alegria,
teus versos, tua música,
tuas palavras de carinho,
a tua companhia.
E só queria te entregar meu corpo ardente,
minhas carícias,
minhas brincadeiras,
minha risada exageradamente alegre,
meu riso sensual depois do gozo,
e, entre todas as delícias,
ser tua companhia.
E, de repente, o amor.
Amor a dois. Livre!
Pleno de alegria!
Vida feita de encanto!
Eu amando a todos os homens,
tu amando a todas as mulheres...
Um programa e tanto....
Eu em tua direção,
tu em minha direção.
Mas o amor, atrevido e invasivo,
tecendo suas teias,
trouxe para dentro de nós uma multidão injustiçada
que outros massacraram.
Em nome do sangue vermelhinho e comum
que corre em nossas veias.
Em troca, faz crescer
o amor em nosso coração.
O amor precisa nos manter
como raízes,
para cumprir sua missão.
Não é maravilhoso?
Não é assustador?
Onde estou, onde estás,
onde está nosso amor?
Fico procurando onde e quando te conheci.
Não acho mais.
Acho que nos conhecemos desde sempre.
E desde sempre nos amamos.
E esse amor será eterno se o eterno existe.
Será infinito se o infinito é possível.
Quisemo-nos livres
e somos presas do amor libertador.
Todos os sentimentos um dia tolhidos
- de todas as raças, todas as minorias -
renascem primaveris
na troca de nossos olhares.
Eu, pequenina e anônima,
feliz, muito feliz,
recebo teu amor que me faz participante
do grande resgate de um passado
presente e vivo em ti
e diluído em mim.
Essa não é a liberdade que previmos
mas é a liberdade que assumimos!
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