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Artigos-->TUDO SOBRE CIÚME AMOROSO (só para mulheres) -- 20/03/2002 - 12:04 (Charles DeSilva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
CIÚME E RECONQUISTA



CARA LEITORA: ESTE ARTIGO É UM POUCO LONGO. MELHOR IMPRIMI-LO PARA LER DEPOIS COM CALMA. VALE A PENA.



MINHA PEQUENA COLABORAÇÃO PARA TODAS AS MULHERES QUE ESTÃO SOFRENDO COM ESSE SENTIMENTO CRUEL.





CIÚME [ Do grego zêlos, “ardor”] S. m. “1. Sentimento doloroso que as exigências de um amor inquieto, o desejo de posse da pessoa amada, a suspeita ou a certeza de sua infidelidade, fazem nascer em alguém. 2. Emulação, competição, rivalidade. 3. Despeito; inveja. 4. Receio de perder alguma coisa; cuidado, zelo.”

A própria origem dessa palavrinha invocada já diz tudo: Ardor, queimação... É isso aí. Ciúme arde!

Vamos tratar aqui apenas da primeira parte do verbete, deixando de lado aquele ciumezinho soft que às vezes nutrimos pela mãe e filhas. Vamos nos concentrar só no velho e conhecido ciúme amoroso. E especificamente de amantes que se separaram.

A relação ia bem, ligação profunda, entrega exclusiva, muita paixão. Aí surge um probleminha, um obstáculo um pouco mais sério, mas aparentemente intransponível. Na verdade era coisa que se acumulava gota a gota, mas ninguém dava importância. Então, um dia o caldo entorna, o problema aflora, de crônico para agudo. E chega bem numa hora errada. Os dois com outras prioridades e problemas para destrinchar, muito trabalho... Vem o encontro, aquele papo-cabeça, a decisão: um rompimento consensual (o já manjado “Vamos dar um tempo...”) ou unilateral, mas que o outro acaba aceitando sem relutar, por comodismo, por distração, só Deus sabe porquê.

Vem então aquele beijo selando o trato, às vezes até encaixado numa noitada de despedida (qual era o nome do motel mesmo?), momentos que ficarão guardados na memória dos dois para sempre.

Cada um segue seu caminho, a famosa, mas pouco cumprida, promessa de que a amizade permanece... e la vie continue. Você se debruça em outros problemas, vai aparando as arestas de tudo, limpa a área, aquela fase agitada vai acalmando, aproveita pra dar um tapa no visual, cuidar mais da saúde, dos amigos. Afinal, você tem mais tempo sobrando, todo aquele tempo que você reservava pra ele o ex. Deu até pra ler quatro livros que estavam na fila de espera no criado-mudo. Um ou dois meses se passam sem contato com ela, às vezes mais. Aí você começa a sentir uma solidãozinha, de leve. Percebe que algo está faltando. Um dia, abre a terceira gaveta da escrivaninha e lá está a foto dele, aquele sorriso iluminado. Bate a saudade. “Pôxa, afinal, prometemos ser amigos!”, e manda um e-mail: enlevo@passado.com.br. Três dias depois (nunca é no ato) chega a resposta : “Bla, bla, bla... sabe, nunca pensei que fosse me envolver com alguém tão cedo de novo... aconteceu... não estou apaixonado, apenas receptivo... é uma garota legal... e você, meu bem, como vai?...”.

Você fica na sua, mas vai dormir já meio cabreiro. E de manhã, cai na real. Aliás, a real despenca em cima de você, como um Exocet. “Que droga, ele já me trocou por outra?!”.

Pronto. Aí está o maldito ciúme instalado, começando a fluir pelo seu corpo.

Ou como diz o trecho de um meu velho poeminha:

“Acordo de estalo às 3:15, molhado,

E ele, ao pé da cama, plantado:

O Capitão Ciúme taí,

Vestindo a camisa listrada com que saiu por aí.

É o velho lobo-do-mar

Que entra pela janela.

Vira-e-mexe vem me atormentar,

A me fazer pensar no vira-e-mexe dela ..."

A víbora já deu seu bote... Em 24 horas, sua cuca já está agitada, seu hemisfério racional do cérebro já começa a organizar seus arquivos danificados. Mas é um longo scandisk, minha amiga, muito longo. Você sai em busca da prova daquilo que é ainda uma hipótese (“Vai ver ela está só me testando...“). Liga, religa, aciona caixa-postal, marca um encontro. Ele lhe recebe, é claro, sempre foi magnânime, evoluído, lembra-se? O reencontro. E ele está mais charmoso ainda! E sereno, sereno demais. Ao contrário de você, que treme por dentro. E vem também a fatal confirmação, que agora faz você tremer também por fora.

Papo vai, papo vem, você volta pra sua toca, meio atordoada. “Mas que droga! Nunca senti ciúmes dele e agora estou aqui me remoendo?”. Aí você cai numa segunda real: sacou que nunca antes sentiu ciúme por que só viviam um para o outro, num affaire exclusivo. Zero motivo.

E aí começa o martírio.

Mas afinal, que sentimento é esse que quase ninguém consegue controlar? Ele ataca as entranhas da gente e explode como uma bola de fogo químico. É veneno que não tem vacina, porque é veneno que ataca o corpo, a alma, o espírito e até seu duplo-etéreo...

Apenas três peculiares categorias de humanos estão imunes a seus efeitos, pois já nasceram assim ou adquiriram resistência a esse vírus destruidor: os verdadeiros místicos, os vazios de espírito e os que praticam relacionamentos tidos como "não normais".

Os primeiros, facilmente encontrados lá pelas bandas do Extremo Oriente, são os adeptos do sufismo, do zen-budismo e de outras religiões de lá, mas já com milhares de adeptos espalhados pelo planeta. Têm uma filosofia de vida diferente do pensamento ocidental, e já superaram todos esses sentimentos que consideram como baixos: ciúme, egoísmo, ódio, preocupação com objetivos futuros, possessão, apego à materialidade, cultura do ego e outros quetais. Seus seguidores praticam o amor universal e realmente vivem numa plana superior à nossa, confessemos. Leia qualquer livro do sábio sufista Osho, está tudo lá explicadinho. Mas por aqui somos latinas ou latinófilas, ainda somos muito suscetíveis às paixões. Queremos amar de corpo presente, de preferência com muito sexo. Donde...

Os segundos, incluídos pela psicologia na categoria dos amorfos, são indivíduos não-ativos, não-emotivos, de baixíssima auto-estima, desprovidos de sentimentos positivos, pessoas sem ideais, não se importam com nada. Se providos de alguma cultura, dizem-se nihilistas. Quase sempre passam ao largo do mundo, não ancorando em porto algum, vivendo à margem da vida. Esses não sentem ciúme pois não amaram, não amam e nunca amarão nada e ninguém, nem a si próprios. Os famosos moscas-mortas.

O terceiro grupo é formado pelos SMs, swingers, voyeurs e existencialistas pós-sartrianos, mas os autênticos, pois existem os falsos. Aí também o ciúme não rola, o vírus não atinge suas almas, pois só estão preocupados em curtir todas as nuances do prazer. Há aí um envolvimento emocional muito peculiar, a sexualidade navega consensualmente em altas doses de erotismo. Donos e escravas, troca de casais, hiperfetichismo. Descobriram uma fórmula alternativa de comportamento afetivo, que envolve confiança e cumplicidade em plantão 24 horas, tudo para que o prazer impere. São todos hedonistas, apesar de que nem todos os hedonistas aqui se incluam. A maioria se sente pertencendo a uma sociedade secreta, curtindo seus rituais e segredos. Vivem no limbo do anonimato, pois são todos vulneráveis e expostos ao desprezo da sociedade tradicional.

Pobres daqueles não encaixados nessas três categorias especiais! São a maioria, espalhados pela Terra. Todos incluídos no grupo de risco do vírus CIU. Os que passam ou passaram por essa experiência já são portadores dessa angústia, são mulambos jogados por aí, roídos a todo instante de suas existências, ou em ondas que vão mas sempre voltam, dia, noite e nas madrugadas insones, por esse sentimento muito, muito cruel. “Com quem ele andará? O que o homem da minha vida está fazendo agora com ela – a Outra? Onde e como? Será algo apenas temporário. Até quando? Que diabos de confidências estarão trocando?” ... Se você estiver nessa, começa a fazer outras mil perguntas, forjadas a martelo pela sua imaginação. Você ali, na bigorna, com um autocarrasco a lhe auto-interrogar.

Lembre-se, não estamos falando aqui do ciúme patológico, doentio e injustificado, muito difundido por aí. Nem do ciúme juvenil, experimental e dos amantes passageiros. Esse, se aconteceu, já foi deletado da memória, foi só um vírus gripal, facilmente curado com três dias de fossa e um providencial substituto. Estamos falando do ciúme por Aquele parceiro, o ideal, o final, aquela que sua dupla coração&razão havia elegido para caminhar a seu lado até o dia do Juízo Final. O que você deixou partir.

Quando você se lembra daquela voz que dizia coisas que o levavam à loucura até pelo celular cheio de estática, daquele beijo carinhoso que acalmava e daquelas mãos divinas que acariciaram seu corpo, e que fazem parte agora de outro relacionamento, com outra mulher, o que você sente?... Sente um vazio tipo Sahara, um buraco-negro no plexo solar. Você concordou com a separação, depois se arrependeu, pensou em voltar, ele já estava amarrado com a Outra.

Eis aí o momento crucial, um marco em sua vida. O Destino colocou você à prova. A separação está sacramentada. Sacou o drama, a asneira monumental que cometeu. Quer voltar, mas o trem das 11 já partiu, você ficou sentada no banco frio da estação, Tem que fazer qualquer coisa senão vai pirar, o ciúme já começa a corroer seus neurônios. Sua vida está indo pro brejo. Você já está estressada, desleixada. Está ferrada! Pior, nem de infiel você pode chamá-lo, porque a pássaro avoou com o seu consentimento! Migrou. Só lhe resta o miserável consolo de que não foi traída!

E agora, Maria? É o momento onde se separam fracas e fortes. Hora da triagem.

Se você é uma fraca, vai tentar ou, pior, consumar uma das alternativas:

a) A da Covarde: suicida-se, enche a lata de barbitúricos, deixando aquele indefectível bilhete. Vai pro Escurão, resolveu seu problema, mas deixou outros cem a resolver para os parentes e chegados. E pior: ele vai se sentir culpado e carregará uma cruz bem pesada para o resto da vida; b) A da Desesperada: chuta o pau da barraca. Contrata um matador e vira manchete de jornal. É o famoso crime passional, que recheia as crônicas policiais todos os dias por aí. Acaba com uma ou duas vidas, vai pra cadeia se remoer até o fim de sua miserável existência; c) A da Auto-enganadora: vai dar uma de raposa de La Fontaine: “Sabe de uma coisa? Ele não prestava mesmo...” Só que prestava, e muito, e você sabe disso; d) A da Falsa Resignada: abdica e tenta esquecer tudo se debruçando numa garrafa, numa carreira de pó ou mergulhando de cabeça no fanatismo religioso. Se conseguir reunir forças suficientes e for razoavelmente esclarecida para fugir dessas asneiras, nesse caso só o tempo, o amigo tempo, poderá transformá-la em apenas uma Resignada. E como todas elas, será uma criatura sempre amarga. De certa maneira, uma derrotada light; e) A da Fatalista: joga tudo na mão do Destino, leva passivamente a vidinha pra frente à espera que o bonde chamado desejo um dia volte a parar bem à sua frente, abra as portas e ele desça. Vai acabar na fila de espera do INSS; f) A da Rebelde-Fujona: também larga tudo e se manda proTibete ou pra Chapada. Passa a levar uma vida de eremita, uma inútil para o mundo, até que um dia se toca e embarca numa das alternativas anteriores.



(Encaixou-se em alguma aí, amiga? Não? Sorte sua.) Todas essas vão engrossar a estatística funesta das que sucumbiram na vida por causa desse negro sentimento.



Mas você é forte, certo? Bem, aí tudo é diferente.



Se for mesmo mulher de fibra, você vai vencer o ciúme. E o jeito mais fácil é partir para reconquistar seu falcão-peregrino. Partir para duas batalhas simultâneas, com altas chances de sucesso. Talvez vença as duas...



Mas, como? Apenas deixando o coração falar. Abandonando quase completamente a razão, as armadilhas da cabeça, pois elas só irão trazer confusão. Usando como aliado o próprio ciúme que lhe atormenta! Aquela história da contra-vacina, de combater fogo com fogo, percebeu? Não compreendeu? Eu explico.



Não perca tempo! Ligue agora mesmo... sua força de vontade, dando o start numa das lutas marcantes de sua vida: Retomar seu amado fugido e, ao mesmo tempo, domar o ciúme que quer derrubá-la. Dá pra comparar com uma maratona olímpica. Pra você, válida pelo título, válida pela sua felicidade.



Lembre-se de que toda prova tem uma preparação. De cara não vai fazer nada. Vai dar um tempo, refletir numa auto-análise. Meditar muito, com ou sem deserto. Porque, quando, como e onde errou? O que faltou na relação, tempêro, constância, objetivos?

E daí por diante.



Deixe sempre se levar pelo coração. Por aí vai achar as respostas. Certamente achará. Primeiro porque procurou, depois porque reencontrou sua própria humildade e isso arejou sua cabeça entrevada, e também por que foi se aconselhar com aquele trio imbatível: o amigão/amiga do peito (claro, há que consultar os dois lados...), seu travesseiro e o Todo Poderoso (foi direto a ele, eliminando intermediários, despindo-se de seu ego, pedindo iluminação). Levará um tempo, difícil avaliar quanto, mas logo você se sentirá outra. Já jogou no incinerador as velhas vestes encardidas. Sem perceber, o sofrimento foi lhe sublimando, transformando-a numa mulher mais evoluída, que aprendeu na adversidade a corrigir seus próprios defeitos. E acredite, quanto mais fundo você mergulhar no acerto dos erros, mais claras vão ficar as idéias quando voltar à tona.



Essa foi a preparação. Com os treinos certos e um maravilhoso técnico: você mesma.



Soa o tiro de partida, mas você não vai sair desabalada, estará só esquentando os músculos, estudando o terreno... mas sabe que logo as ações serão eficientes, pois foram curtidas no tonel da sabedoria. Aquela luz que você deixou entrar no seu íntimo, via coração, fará sua cabeça transmitir comandos corretos e vai guiá-la pelo caminho duro que virá pela frente, colocando nos momentos certos as palavras certas na sua boca.



Nesse primeiro momento, de cara já vai ser acalentada por fios de esperança: “Ainda bem que eles não se mandaram pra Nova Zelândia ou pro Alto Xingu; ele está aqui, ainda ao alcance do botão 1 do celular!”. Ótimo começo. Você se sente aliviada, um refresco, como aquela água lá na barraquinha do km 5. Só que não haverá muita colher-de-chá, será uma corrida extenuante.



Siga os passos (afinal, esse ensaiozinho é como um fichário de dicas, um organizador para sua cabeça bagunçada).



1 -- A primeiríssima coisa é não perder o contato com ele. Isso é vital! Lembre-se que a Madame-X começou a ganhar na contagem de pontos no dia em que o seduziu, ou deixou-se seduzir, enquanto... o que você estava fazendo mesmo? Agora tem que ir aumentando os contatos. Celular, e-mail, no tête-a-tête, recados das amigas, correio, encontros-relâmpago, vale tudo. Nesses raros momentos comece a reabrir seu coração, mostre que você é outra mulher, uma renovada. E estará sendo sincera, pois é outra mesmo!! Aquele velha, que o perdeu, reciclou-se. Aos poucos conseguirá demonstrar isso, sem forçar barras, num ritmo que terá que aprimorar conforme o terreno em que pisa. Interesse-se pelos problemas dele, ajude-o. A qualquer brecha que surgir, bote pra funcionar turbinado aquele seu charme que já o conquistou no passado, por que as chances agora serão mais raras. A duração desses contatos não é importante. A intensidade é que pesa. Um enlevozinho de dez segundos vale 100 pontos, um papo-furado meloso de duas horas vale menos 20, percebeu? E vá seguindo sua estratégia, apenas movida pelo coração. Relembre bons momentos do passado, isso sempre pesa na balança. Seja paciente, abuse da virtude de engolir sapos com classe, pois aos poucos eles virarão rãs, depois só girinos. Verá que, aos poucos, o Pássaro começa a ser receptivo: no início ele só captará chiados de onda-curta que seu transmissor-do-peito conseguiu enviar. Os dias passarão, os dials se afinam e, como milagre, numa certa manhã aquele canal tão sublime volta a funcionar. Ótimo, o link ressuscitou. Você está ganhando terreno!

Mesmo assim, revezes serão inevitáveis. Fazem parte dessa sua luta solitária num percurso desconhecido. Pode acontecer até um ligeiro tropeço, mas logo se levantará.

2 – Não menospreze a adversária, mas nunca a supervalorize. É comum nesse tipo de encrenca em que você se enfiou imaginar a outra como uma super-mulher. Nada disso, é uma simples mortal, com seus defeitos também. Fuja dessa areia movediça. Bote fé no seu cartel de invicta. A super-mulher é você!

3 – Procure conhecer apenas o suficiente sobre sua rival. Ninguém escapa, numa dessas, de sentir uma enorme curiosidade em conhecer algo da outra. “Mas quem é essa (use aqui o adjetivo que quiser)? E a segurança dele? Está no mesmo nível de proteção que você dava? Será que está transando com alguma irresponsável, ou uma aventureira cheia de curvas, mas oca, interesseira? Será que caiu no conto de alguma pilantra bem disfarçada, boa de cama e mesa, mas que só quer sugar a grana dele e depois, miau?”. Essas perguntas irão azucrinar sua cuca. Fazem parte do processo. O suficiente é saber se ele é uma pessoa decente. Tão-somente isso. Sem mais detalhes. Não estoure seus limites de crédito contratando o detetive Aranha, pitonisas de plantão, nem batendo cabeça pra orixás. Fuja de fofocas, de golpes baixos, por aí na certa vai perder no percurso. Simplesmente pergunte a ele... e vai saber tu-di-nho!! Mas só que for necessário, a ficha-corrida resumida: ele é uma cidadã comum. Mais um gole de água fresca, suas bolhas da sola dos pés páram de incomodar... uma aliviada de barra: “Bem, menos mal...”. Pronto, chega. Agora esqueça-se dela, tire-a do circuito, ela será só uma sombra no acostamento, enquanto você percorre a estrada da vida.

Nessa altura, seu ciúme já sofreu uma incrível mutação: virou zêlo!

Eis aí um momento mágico. Uma grandiosa conquista de seu caráter.Transformou esse sentimento mórbido, que jamais é prova de amor, num outro, bem mais elevado, sem possessão, que é a verdadeira prova. Você só quer o bem-estar dele, qualquer seja a circunstância, percebeu? Começou a zelar por ele. Como recompensa sentirá daqui em diante o verdadeiro Amor, o sublime, diferente de tudo que já degustou na vida. Passa a ter novo ânimo e seu astral voltará a brilhar.

Hei, amiga... surpresa! Você tem direito a um bônus extra! Extirpando o ciúme de suas entranhas você também deletou mais um vírus da família: o do ódio. Ódio que sentia pela rival, pelo mundo injusto, aquelas besteiras. Quer saber de uma coisa? Até passará a querer em seu íntimo que a outra cuide bem dele! Se surpreenderá com isso, inimaginável tempos atrás... Ódio nunca leva a nada, só a desgraças, e disso também você se livrou.

Sabe a quem você deve tudo isso, quem foi o catalisador dessa mudança? Ele! Foi ele quem motivou sua ascensão (Qual é mesmo o nome dele? Então declame-o três vezes ao dia...).

Bem, se chegou até aí, pelo menos um de seus objetivos foi alcançado. Bem-vinda ao mundo dos cidadãos de sentimentos elevados. Se estiver a fim de enveredar pelos caminhos do misticismo, chegou a hora. Afinal é um bom caminho alternativo. Já adentrou-se no átrio do templo como aprendiz, e terá que penar muito para ser uma vera mística, lapidar outras faces de seu diamante. Mas não é bem isso o que você quer, certo? Somos apaixonadas latinas, com outra têmpera. A mardita carne... Falta algo para completar sua vida. Falta Ele. Então toque em frente.

4 – O problema é que aquela sensação de perda continua a perturbá-la. É pegajosa, onipresente, às vezes sente que dá até para cortar com uma faca. Não há outro jeito de minimizá-la: tem que partir para outras atividades. Afinal, sua vida não pode se concentrar só nele. O centro é você. Então relaxe um pouco, viaje mais, faça novas amizades, volte a praticar esportes, desentupa sua veia artística, bole novos projetos no trabalho. Distraia-se o mais que puder e toque a vida pra frente. Deixe o amado como pano de fundo, a montanha divina lá no fim da Rota 66. Cuide agora do chão em que pisa. Live and let live.

5 – Guarde isso: você não está participando de um triângulo amoroso. Conscientize-se de que você é uma outsider. Eles estão vivendo o affaire deles, enquanto sua vida segue sem aquele contato caliente que falta pra lhe fazer feliz. Não cometa a burrice de sequer sugerir a ele, num momento de fraqueza, a hipótese do famoso triângulo. Chega de fraquezas, isso já lhe fez dançar uma vez. Teoricamente, todo homem iria topar... mas ele é o especial, certo? Poderia se decepcionar, pensar que você começou a duvidar da lealdade dele. Aí deve entrar sua intuição. Talvez ele tope e seja por aí o caminho. Essa é uma decisão bem difícil. Mas fique ciente, se decidiu usar esse golpe arriscado, deve ser fulminante e absolutamente certeiro. Aquele sprint arrasador a cem metros da fita de chegada. Se calcular errado pode cair e dançar bonito. Outra coisa: saiba que triângulos amorosos obedecem a uma geometria cheia de fórmulas complexas... e perigosas.

Seja prudente, reconquiste-a lá na frente, na exclusividade. Mais paciência.

Bem, a essa altura do campeonato, já fez o que estava a seu alcance. Conseguiu fazer o coração desse homem especialíssimo ficar dividido. Agora é com ele. E com o futuro, que não nos pertence. A luta acabou. Saia da pista. Misture-se à multidão lá fora e respire novos ares. O Amor guiará seus passos daqui em diante.

Agora pelo menos você já aprendeu que ninguém é de ninguém.



Charles DeSilva (mar 2002)

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