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cronicas-->23. INTERPRETAÇÕES ERRADAS -- 02/10/2002 - 06:19 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Fui médium bastante requisitado e respeitado na derradeira passagem carnal. Entretanto, diferentemente do que pretendo realizar agora, dava trela a que houvesse manifestações bastante suspeitas, no sentido de que não era bem o que eu dizia que me sopravam ao ouvido da mente. Digo diferentemente porque não desejo incentivar nenhuma rebeldia subjetiva naquele que me está tomando o ditado e que se põe alerta para não prejudicar a comunicação.

De qualquer modo, venho para penitenciar-me por haver logrado muitas pessoas, afirmando que ouvia seus parentes e amigos, quando, na verdade, queria desfazer-me da responsabilidade de deixar-lhes notícias bem pouco felizes. Não que tivesse plena consciência de que havia problemas em relação aos consulentes; ao contrário, evitava saber, mantendo meu espírito imerso numa onda de otimismo refulgente, vendo tão-só luz e brilho no fundo do meu coração.

Raciocinei a partir da leitura dos textos dos amigos aqui da casa e cheguei à conclusão de que, numa situação íntima e isolada, o médium pode perfeitamente recusar-se a captar notícias específicas relativas a quem quer que seja. Não é o caso em tela, porque o grande espectro dos temas desenvolvidos junto ao médium e por este devidamente registrados haverá de negar-me o direito de criticar ou, ao menos, avaliar o serviço por ele prestado.

Quero crer que os leitores já perceberam que estou referindo-me aos que deliberam acreditar cegamente em toda e qualquer palavra que lhes traga alívio e esperança. Também não sou assim tão adiantado que possa dar-lhe segura orientação quanto à percepção de que estejam sendo enganados. Não vou, além disso, sugerir que se tenham totais cuidados na aceitação das informações mediúnicas. Muitos desejam cabais comprovações de que se trata exatamente daquele ser que se anuncia, esquecendo-se de que o conteúdo da mensagem é que deve ser valorizado, analisado e absorvido, caso corresponda aos ensinos nobilíssimos do Cristo.

Pois já disse quase tudo. Falta apenas contar que aquele halo de santidade com que era recebido nas diversas casas espíritas me deixava ufano e orgulhoso, tanto que, aos quarenta e cinco anos de idade, comecei a repetir aleatoriamente os textos que memorizara desde que me iniciara na seara mediúnica. Falando claramente: fui abandonado pelos protetores, que, além de tudo, vigiavam para que não se apresentassem espíritos malfazejos, capazes de me iludirem com palavras melífluas, dando-me orientações falsas que pudessem desmascarar-me de vez.

Em casa, nunca me atrevi a oferecer-me aos amigos da espiritualidade para ditados escritos que pudessem conter roteiros de superior qualidade moral. Aliás, a bem da verdade, na juventude, expus-me às impressões subjetivas, desejoso de ombrear-me com médiuns do quilate de Chico Xavier. O resultado foi tão chocho, tão vulgar, tão mesquinho, que abandonei logo a tentativa para não contaminar com tal frustração o sucesso que fazia no centro.

Este desenvolvimento me agrada sobremodo, porque ouso do lado de cá o que dispensei enquanto encarnado. Sinto-me confiante, porque tenho a companhia de tanta gente experiente, estudiosa e trabalhadora, cujos méritos tenho constatado a todo instante. Agora mesmo, titubeando quanto aos termos a aplicar, eles me asseguraram que bastava dar a inflexão correta ao pensamento, para que o médium traduzisse a idéia em jargão próprio da psicografia, em toda a sua extensão e compreensão.

Foi essa minúcia técnica ou doutrinária que me faltou durante todo o tempo em que me ofereci como intérprete dos espíritos. Tivesse eu essa noção, não teria caído na tentação de manter-me sempre no topo das transmissões alvissareiras. Claro está que, em sessões de desobsessão, dava os meus espetáculos particulares, falando com voz alterada, agitando-me e batendo as mãos e os braços contra a mesa e os pés contra o assoalho, provocando o doutrinador com palavras pouco educadas, para receber a censura óbvia, até me fazer de entendido, como se alguns conselhos de última hora tivessem o condão de efetuar a transformação moral dos espíritos mais obstinados na prática do mal.

Certa vez, arguiram-me o fato de estar representando cenas pouco verossímeis, quanto a salvar-se o infeliz que se arrependia, sem passar por enérgicas reflexões morais. Saí-me bem da enrascada, afiançando que a parte mais profunda da conversão estava a cargo dos protetores e guias do assistido e do centro. Acrescentei o anjo guardião e transportei os coitados para colónias de atendimento urgente, citando aquela cujo nome todos conheciam: "Nosso Lar".

Penso que tenha realizado uma fotografia de corpo inteiro da personalidade. Não pretendo com isso incentivar a desconfiança de ninguém relativamente aos médiuns dos centros que frequentam. Tenho por objetivo demonstrar que, apesar de tudo, levar palavras de esperança aos que se preocupam com o próprio destino no etéreo, ainda que sem descrever todas as agruras por que passei, pode redundar em algo bom e prático, caso não se interpretem minhas palavras como de alguém desejoso de iludir e de malbaratar o tempo dos leitores.

Se considerarem esta comunicação demasiado falha, lacunosa ou imprecisa, tenham a bondade de refletir sobre a referência que acima fiz aos textos superiores aos meus e alegrem-se por obter um que vocês mesmos poderão compor e transmitir, caso encontrem pessoal com tanta boa vontade quanto estes que me amparam.

Fiquem na paz do Senhor!

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