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cronicas-->Caminhos em Colónia -- 03/10/2002 - 11:12 (Renato Essenfelder) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Quando cheguei a Colónia fazia frio e chovia. Os brasileiros se encontravam nos bares, sorrateiros, no meio da noite que seguia fria. Isso eu ainda não sabia. Quando eu cheguei a Colónia desembarquei grego em portos persas, sem dez mil para lutar, imensamente só em meus descaminhos. Procurando sentido para sentidos que não podia desvendar.

Havia a excitação e o medo, tom sobre tom, descolorindo minha pele como a água da chuva que caía, torrencial. Eu não era bem vindo? Os brasileiros faziam sua Colónia em Colónia, nos becos, nas esquinas - mas também isso eu não sabia.

Eu sabia que viera de um lugar até ali. Como era o lugar de onde vim, como eram os sorrisos - eu lembrava do som da água caindo na telha de barro como lágrimas pesadas, mas de júbilo - essa ciência era minha.

No terceiro dia morri às margens do Reno. Deixei-me prostrado, escravizado pela correnteza presa aos pés. No banco frio, no banzo gelado. Ainda não vira neve.

Na catedral eu rezava na única língua que meu deus entenderia. Da única forma, do único jeito. Subia os degraus, descia os degraus, suava muito, mas o vento não passava.

Durante os passeios, distraído, Vênus me convidou ao museu. Foi sem os braços, sem as pernas, sem membros - uns fiapos de cabelos, uns cílios misteriosos. Fui ver as cores dos quadros, a fúria das tintas, os sorrisos misteriosos. E a mitologia. A figura diurna que se movia invisível, dominadora para mim, entre as molduras. Ora cá, ora lá, em todos os quadros, de Teseu ao Minotauro. No nascimento dela.

Como tudo que move também ela se perdeu, também a mim perdi. Saí, e os ladrilhos molhados sustentavam estranhos pássaros, aves que não voariam.

Os brasileiros, descobriria, eram como as aves. Ali se encontravam em bandos, migravam até a uma da madrugada e bebiam cachaça barata com a folga dos ares caros.

No quarto do albergue muitas vozes. Quem me falaria? O americano, o francês? Nós caminhamos juntos, decodificando nossos risos. Depois das dez éramos todos brasileiros.

E ninguém chorou, como eles, a esperança de rever nossa pátria amada.

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