VÔO INTERROMPIDO
“perdi meu vôo
nas grades de seu peito.”
(Dora Ferreira da Silva)
Sou livre
pra ganhar e perder
acertar e errar
me soltar
me prender...
Tem que ser assim,
liberdade no que é bom
ou mesmo no que chega a ser ruim.
Pois liberdade, afinal,
é ou não é,
e pra valer terá que ser total.
Livre que sou, alço meus vôos
dentro de braços e abraços
de meus amores rotativos
sejam eles verdadeiros
ou enganosos e falsos.
Como posso saber do amor
sem experimentá-lo?
Numa corrida,
como saber se serei vitoriosa
ou se cairei do cavalo...
antes de cavalgá-lo?
Assim, mergulhei em ti,
e foi lindo, tão lindo,
que não me arrependi.
Vivi contigo intensamente,
chorando ou sorrindo,
e sempre curtindo
cada instante da gente.
Depois do desengano,
claro que chorei!
Mas criei novo ânimo
e na vida de novo mergulhei.
E nunca lamentei,
continuo feliz
pois amei porque quis.
Mas, hoje, minhas asas
parecem quebradas,
duras, enferrujadas,
e estão me machucando...
Já não consigo me perder voando
pra pousar n’outro peito acolhedor,
depois de tanto tempo prisioneira
do teu afeto enganador.
Sinto-me como a ave atordoada,
longos anos cativa
que, quando solta,
não lembra que tem asas,
nem mesmo sabe se está viva...
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