De repente, eis que uma dama pára bem ao lado do meu assento naquele ônibus monótono. Querendo ser gentil, pedi-lhe pra segurar a sacola. Peguei na alça do objeto e um pouco nos dedos da mulher. Macios e perfumados. Nossa!
Segue a viagem e eu tento fechar os olhos. O sol de quase sete da manhã, enviesado uns trinta graus a oeste, fustiga meus olhos, conseguindo furar com seus raios vigorosos o bloqueio das pálpebras até chegar no cristalino. Abrindo os olhos dei com eles exatamente na mão daquela dama. Que mão linda e cheirosa...
Foi então que pensamentos libidinosos me envolveram. Comecei a conversar com meus botões sobre perfeições ocultas de uma beldade discreta que resolveu presentear os homens daquela lotação com sua mão de porte divinal...e só!
Pois bem, pensava, se aquela mão, estando em
contato direto e imediato com o meio ambiente poluído, com o veneno de uma atmosfera suja, que maltrata as sensíveis peles femininas, enviando fantasmas em forma de rugas, escamações e asperezas a atormentá-las...a mão permanecia incólume em sua beleza fascinante, o que se esperar das partes pudicas daquela mulher, protegidas do ambiente por malditos tecidos que as ocultam dos olhos?
Se ao menos os raios de meus olhos pudessem penetrar aquelas téxteis pálpebras...