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Ensaios-->FAUSTO, GOETHE e REICH -- 18/03/2014 - 20:40 (Alexandre Pereira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
FAUSTO, GOETHE e REICH

Acabei de ler o livro de Goethe e achei-o muito interessante. É um clássico! Naqueles tempos, posso imaginar que tenha despertado a ira de muitos; hoje, despertaria também. Goethe mostra Fausto, um médico, filósofo, teólogo, homem da ciência, que está confuso quanto à verdade universal. Este homem, que se diz, pretensiosamente, um grande intelectual, sofre um grande vazio e resignação frente aos outros homens, ao povo, onde julga-os serem inferiores. Fausto que sofre do desejo reprimido em sua carne, busca ascender a uma vida melhor no céu.

Mefistófeles, o Demônio, bate à porta do céu para falar com Deus e como bons amigos, faz um desafio a Deus: o de levar a alma de Fausto; homem que deverás, trilha um caminho de sacrifícios para chegar à Iluminação. Deus consente, dando “carta branca” a Mefisto. Aqui é interessante a posição de Goethe, onde coloca o Diabo e Deus em uma posição de complementariedade, onde um não existe sem o outro, ambos justos. Mas, Goethe coloca Deus no controle e superior a tudo. Suprime a concepção que um é do mal e outro é do bem. Deus, neste caso, precisa aceitar as ações do Diabo como prova da vida e da Iluminação a serem conquistado pelos homens. Creio que Goethe recorre aos mitos da Antiguidade Clássica, quando os deuses fazem dos humanos fantoches e riem muito disto e, é uma crítica contundente aos preceitos da Igreja Católica.

Mefisto vai até Fausto, quando este, em seu desespero, prepara-se para beber veneno, buscando, pretensiosamente, dar co´s pés nas portas do céu. Mefisto não diz nenhuma mentira, joga claro com Fausto. Este, que já leu de tudo e ‘entende de tudo”, acredita ser um espírito bom e já se entrega prontamente. Depois de várias promessas que Mefisto faz, Fausto diz que Deus nunca aparecera para ele e que ele aceita o acordo.

Aqui eu vejo no caráter de Fausto uma explicação reichiana para que o protagonista sele acordo com o diabo. Fausto selou o acordo mediante a promessa que Mefisto fez de ele conseguir uma dama. Fausto sabia que faria acordo com o Diabo, mas apostou tudo para desfrutar do corpo de uma donzela, mesmo que a morte o levasse após isto. Fausto:
“ Maldigo tudo então que o homem martiriza,
Com farsas e ilusões o cerceia e entibia,
Num mundo de infortúnios o prende e escraviza
Com as forças obscuras e tanta fantasia”.

Fausto sabia de que nada valia Saber se não pudesse ser fulminado nos braços de uma mulher. Sabia que sem amor/sexo o homem estava fadado a viver na ilusão e na fantasia e a sorte de forças obscuras de seu próprio desejo.
Desta maneira, Fausto se corrompe (seus valores) porque ele nega a abstinência que a cultura católica (moral) dita; ele se faz humano e se mostra irracional, pois seu corpo clama para saciar seu fogo interno: “Mergulho com prazer em toda a perdição”, pois “ Escravo sempre sou, em tudo o que empenho”. Fausto está preso a um desejo reprimido.

“O espírito de Deus a mim já desprezou!
Desligado estou da própria natureza”

Fausto sabia que era um ser deformado ou pervertido e fez a sua escolha. Ele estava com muitas defesas para não sentir este fogo interno, para não sentir a força obscura, para não sentir sua miséria existencial. A tormenta é sentir este fogo. Seus sentimentos são ambivalentes como Reich demonstra: se a energia sexual não é descarregada, esta se lança para dentro e vai formar os impulsos secundários ( inclusive o que Freud chama de instinto de morte), que em última instãncia é a neurose. O suicídio é para Reich uma maneira brusca de liberar a energia sexual mediante a desfragmentação do corpo (ou seja, o corpo “explode”, pois se torna um panela de pressão). Fausto tinha ambivalências (impulsos secundários) de sentimentos em relação a Mefisto e Margarida (dama) e estava profundamente imbuído da moral católica que proíbe/ pune os prazeres sexuais e alimenta a neurose/ambivalência.
Outro sintoma de sua repressão sexual está na idealização de tudo. Reich mostra bem que com a repressão sexual, a sublimação em seus pequenos gozos se dará predominantemente na região cerebral, onde ali se concentrará grande parte da energia (sexual).
É como dar lingüiça ao cachorro esfomeado, ou melhor, fazer da coleira do cachorro lingüiça para amarrar o cão. É certo que o cão comerá a lingüiça e se libertará da coleira. É isto que faz a toda a Igreja que tem no sexo o ato pecaminoso, sujo, baixo, feio, cheio de regras e moral. As pessoas pecarão!! O Deus de Goethe certamente não é o mesmo dessas igrejas. Mas a moral no contexto da obra é sim o mesmo dessas igrejas.

Analiso só mais esta frase de Fausto: “Hoje me inspira horror toda e qualquer ciência”. Fausto era um cara frustrado com sua sabedoria. Ele não sabia o que fazer com ela, pois já havia lido de tudo e não havia achado a verdade. Ele por mais que era homem da ciência não conseguia dialogar com seu assistente que se mostrava mais sábio que ele. No fundo, Fausto não conseguia fazer ciência pois este trabalho era muito árduo e ele era incapaz de fazê-lo devido a privação de que passava, a privação sexual. Com seu biossistema funcionando encouraçadamente, ele não podia suportar mais tensão (desprazer/ privação) que é o que uma descoberta científica exige. Suas conclusões eram ilusórias, pois seu corpo funciona através da miséria existencial (emoção) que sentia.
Por isso que Reich é atual, ele entendeu a unidade funcional mente-corpo, o que hoje, cientistas da física quântica estão dizendo a mesma coisa.

Mefisto, que é o complemento de Deus, é o Espírito da Terra, da tentação, do desejo, creio que o Dionísio grego. Ele tem a postura nobre e é muito leal. Não pretende levar Fausto ao trágico Fim, como Fausto acredita, e sim, acredito eu, agremiá-lo no time daqueles que cedem aos desejos carnais. Deus aceita, como se estes fossem duas grandes multinacionais em que não precisassem disputar por um cliente, agremiá-lo. Mefisto traz algumas frases que estão de acordo com os preceitos reichianos e, toda a obra de Goethe está repleto de frases chaves que mostram a sabedoria do poeta sobre a vida ( e é por isso que este livro é um clássico). Mefisto:
“Ouve:- ao gozo e às ações
te convidam com razões”.
Estes versos sintetizam aquilo que Reich sintetizou da vida: “ O amor, o trabalho e o conhecimento são as fontes da nossa vida. Deveriam também governá-la”. Não sei se Reich leu esta obra, mas as duas relacionam igualmente estes conceitos: a consciência ( razões) permeando o amor (gozo) e o trabalho (as ações).
Outro verso de Mefisto:
'Mira, meu bom senhor, os bens desta existência!
Como coisas humanas as vemos dia a dia,
Devemos sempre agir com a máxima prudência,
Cuidar que no viver não nos falte alegria.
Um carrasco tu és! Mãos e pés certamente,
E a cabeça e as nádegas são todos teus.
Também todos os bens, que gozo livremente,
Deixam por acaso de ser sempre meus?
Se eu posso adquirir seis poldros bem fogosos,
Não são minhas forças que eles todos têm?
Então, coragem! Larga os humanos sentidos,
E no âmago do mundo entremos comovidos!
E digo com razão: o homem, ser pensante,
É como um animal no deserto perdido,
Por espírito mau em círculo envolvido,
Que em torno vê miragem, bela, verdejante!”

Nos versos em verde, percebe-se a sabedoria: que no ser pensante, se este está envolvido por espírito mau (sexualmente insatisfeito, mal-humor, pestiado) tudo o que em torno vê será uma ilusão, um falseamento da realidade. Isto, para um intelectual é a morte, a prisão, pois ele sabe que de nada adiantará seu raciocínio. Reich já dizia que o fenômeno que nós lemos com os nossos olhos segue a emoção que nós estamos sentindo. Se estamos maus, nossa visão será pessimista; se estamos tranqüilos, nossa visão estará mais próxima da parcimônia e da realidade. Por isso que Reich visou uma terapia que visasse a desobstrução da energia corporal-sexual da cabeça indo no sentido descendente à pélvis, para ter um melhor descarregamento sexual e não ficarmos sob a neurose que influí em nossos pensamentos. Esta terapia reichiana se chama “vegetoterapia”.
No verso em laranja mostra que a pessoa é a carrasca da própria pessoa, pois ela é a primeira a inibir/ punir a ela mesma. É o que Freud chamou, decerto, de super-ego. A pessoa própria se martiriza. Este martírio nada mais é que se defender do fogo interno ou de algo que supostamente internalizamos como um interdito(cultural), ou a pessoa se machuca ( no caso do masoquista) por uma culpa enorme, do qual se machucar será uma válvula de escape para a sua enorme angústia. Se machucando, a pessoa sente um prazer/dor do qual descarrega um pouquinho sua energia (o gozinho).
E em azul, o Diabo deixa bem claro que temos que ser agressivos e ir em busca dos bens da existência: comida, abrigo, sexo, místico. E não deixar que nos falte alegria.

Fala sério se Deus é o pai, o Diabo é a mãe. Deus fica lá, mais afastado, cuidando de nosso destino e a mãe alimenta, nos coloca no colo.

Fausto depois que conseguiu o amor de Margarida, despreza Mefisto. Mas um grande desastre acontece que coloca Margarida atrás das grades e Fausto com a ajuda de seu leal companheiro vai tirá-la da prisão. Ela não aceita. Ela que está enfurnada na moral católica prefere a morte que sair da prisão, e ficar com um peso na consciência do crime que cometeu. Aqui Goethe mostra, assim como Reich, que muitos já estão “mortos”, apagados na vida, por uma moral que tomou a consciência das pessoas e que não permite esta de gozar a vida. Não preciso dizer, mas sua energia sexual estará tão bloqueada que fará uma verdadeira muralha onde encastelará este fogo interno e junto encastelará a pessoa da Vontade de viver a vida. É esta Vontade que Nieztsche frisou tanto, e tanto apunhalou a moral católica.
Ao final, Fausto vai com o Diabo e deixa Margarida que já está perdida, morta, esperando ser levada ao céu. Interessante este final, da consciência de um homem que preferiu estar com o Mefisto do que com a moral católica (Margarida – que pede para os dois ficarem na prisão se amando, o amor eterno, romãntico)


Agradeço aos que chegaram até aqui. Este ensaio é uma relação do Fausto de Goethe ( um dos maiores poetas do mundo) com a teoria psicológica de Wilhelm Reich. É um breve ensaio, mas as correlações são muitas.

Apesar de contar sobre o livro, recomendo-o.

EMRIQI
weberleao@yahoo.com.br
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