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Ensaios-->COMBATE DA LAGOA DO JACARÉ -- 29/05/2014 - 15:43 (Adrião Neto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

COMBATE DA LAGOA DO JACARÉ

Adrião Neto

Mais vale a verdade do que todos os artifícios mirabolantes e subterfúgios, que escondem a realidade sobre o manto diáfano dos diletantes e bem dizentes. A experiência de voltar a viver as misérias e virtudes do passado é mais forte que a vontade de esquecer. (António Neto de Paula, professor e historiador português, mestre em História do Brasil, in Prefácio de Raízes do Piauí).

Em atenção ao honroso convite da Academia de Letras da Região de Sete Cidades, presidida pelo escritor e jornalista José Alves Fortes Filho, da Academia Longaense de Letras, Cultura, História e Ecologia, e do Espaço Multicultural Allegre, idealizados e presididos pelo cardiologista José Itamar Abreu Costa, vamos falar um pouco sobre o Combate da Lagoa do Jacaré, mas como se trata de um fato histórico componente de um processo emancipacionista envolvendo vários episódios, não podemos tratar o assunto de forma isolada.

Abordaremos o tema, sem, contudo, deixar de dar uma pincelada geral em outras ocorrências, vez que não podemos desassociar nenhum dos eventos relacionados a esse processo...

Vamos então à narrativa sobre os acontecimentos que ensejaram com o Combate da Lagoa do Jacaré, ocorrido três dias antes da Batalha do Jenipapo.
 

Em 19 de outubro de 1822, os parnaibanos, em concentração cívica, liderados pelo Coronel Simplício Dias da Silva e pelo Juiz de Fora, Dr. João Cândido de Deus e Silva, proclamaram a independência do Piauí e a sua adesão ao Império de Pedro I, que a 7 de setembro daquele mesmo ano, havia proclamado a Independência do Brasil.

Ao tomar conhecimento do fato, os governos, civil e militar, da então Província do Piauí, representados pelo Presidente da Junta de Governo e pelo Comandante das Armas, Major João José da Cunha Fidié, fiéis a Portugal, e que, a todo custo, queriam manter o Piauí sob o julgo lusitano, decidiram enviar tropas armadas, sob o comando do próprio Presidente das Armas, para aniquilar a insurreição.

Após dias e dias de caminhada, com apenas os oficiais montados em animais de cavalgada e o restante da tropa andando a pé, finalmente chegaram ao seu destino.

Ao passar por Campo Maior e Piracuruca, o experiente comandante teve o cuidado de deixar um destacamento de prontidão, em cada uma das vilas, para coibir a propagação dos atos separatistas e garantir sua retaguarda.
 

Depois de sufocar o movimento de rebeldia e obrigar os parnaibanos a renovar o juramento de fidelidade ao Rei Dom João VI e à Constituição Portuguesa, Fidié, permaneceu em Parnaíba treinando a tropa e fazendo planos para invadir o Ceará, onde pretendia restaurar o regime português e depois se juntar ao Brigadeiro Madeira de Melo, aquartelado em Salvador, para expulsar o General Labatut, da Bahia, visando garantir a integridade territorial do Brasil em favor de Portugal.
Enquanto ele se despreocupava com o Piauí e sonhava em debelar a independência das outras províncias, os oeirenses aderiram ao movimento separatista e, concomitantemente, as lideranças parnaibanas começaram a retornar com tropas cearenses para a região de Campo Maior, onde já havia se transformado num verdadeiro barril de pólvora, pronto para explodir a qualquer momento.

Ao tomar conhecimento da nova conjuntura de Oeiras e dos atos de rebeldia de outras localidades, inclusive da vila de Piracuruca, onde em 22 de janeiro de 1823, antecipando-se em dois dias ao movimento separatista da capital, o Alferes Leonardo de Carvalho Castelo Branco, prendeu o destacamento fiel ao governo lusitano e, dirigindo-se ao adro da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Carmo, proclamou, solenemente, a adesão do Piauí à Independência do Brasil, o Comandante das Armas decidiu retornar para Oeiras a fim de contornar a situação. Naquele momento ele tinha a opção de embarcar no Brigue Infante Dom Miguel, que se encontrava no porto de Parnaíba à sua disposição, e seguir para São Luís do Maranhão ou diretamente para Lisboa, mas, na qualidade de veterano de guerra, experimentado em inúmeros combates, preferiu marchar contra os separatistas, colocando acima de tudo o patriotismo e o seu dever de defender os interesses de Portugal.

E agindo assim, em 01 de março, contando com o reforço dos soldados maranhenses, de São Bernardo e de Carnaubeiras, enviados pelo governo do Maranhão, passou a tropa em revista e começou a fazer o caminho de volta para restabelecer a ordem e forçar os independentes a se submeterem à Constituição Portuguesa e a Dom João VI, de quem era afilhado e fiel escudeiro.

No retorno, ás pressas, para a capital, Fidié teria que romper o cerco das tropas independentes estacionadas nas vilas de Piracuruca e Campo Maior.

Quando o comandante da Divisão Cearense, aquartelada em Piracuruca, ficou sabendo da aproximação do poderoso exército português, reuniu os oficiais para uma tomada de posição, e fingindo-se de doente anoiteceu e não amanheceu. Foi o primeiro a fugir. A partir daí começou a debandada. Pouco tempo depois não restava mais nenhum dos membros daquele contingente composto por centenas de cearenses, ali deixado pelo Capitão Luís Rodrigues Chaves. Com exceção de alguns que foram para Campo Maior, onde em 05 de fevereiro de 1823, repetindo a façanha de Piracuruca, o patriota Leonardo de Carvalho Castelo Branco, aclamou Dom Pedro I como Imperador do Brasil, os demais, após saquearem a Vila, fugiram para a Serra Grande. Essas e outras atitudes dos soldados cearenses levaram o historiador Odilon Nunes, a afirmar: “Das forças do Ceará vindas em auxílio do Piauí, a maior parte era de soldados bisonhos, indisciplinados e desarmados que fugiam ao primeiro contato com o inimigo”.
 

Seguindo sua marcha para Oeiras, com o intuído de retomar o governo e restabelecer a ordem, a 10 de março, três dias antes do Confronto do Jenipapo, ao se aproximar da Vila de Piracuruca, Fidié usando de sua larga experiência, despachou um pelotão de oitenta cavaleiros, comandados por dois oficiais, para fazer o reconhecimento da área. Ao se deslocar por alguns quilômetros, o pelotão avançado, encontrou, por mero acaso, um contingente de cerca de sessenta cearenses, montados e já em retirada para Campo Maior, na localidade conhecida como Ilhós de Baixo, nas cercanias da Lagoa do Jacaré. No momento daquele histórico encontro, travou-se então um rápido combate, terminando com insignificante baixa para ambos os lados e a fuga dos soldados legalistas, que retornaram ao encontro do comandante português. Enquanto isso, os soldados cearenses seguiram para Campo Maior, que na ocasião já havia se transformado no principal centro militar dos revolucionários. E lá engrossaram o contingente que três dias depois participaria da sangrenta Batalha do Jenipapo, a mais sangrenta de todas as lutas em prol da nossa Independência, tendo sido inclusive o fato marcante que a consolidou, constituindo-se numa das mais brilhantes páginas da História do Brasil, escrita com o sangue dos piauienses, maranhenses e cearenses, e especialmente dos vaqueiros e camponeses da região de Campo Maior.

Adrião Neto – Dicionarista Biográfico, historiador, poeta e romancista. Autor de várias obras e da ideia da inclusão da data histórica da Batalha do Jenipapo (13 de março de 1823) na Bandeira do Piauí (Lei nº 5.507, de 17/11/2005, de iniciativa do Deputado Homero Castelo Branco).

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