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Humor-->Turismo Definitivo -- 29/09/2002 - 12:18 (marcos fábio belo matos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Marcos Matos – jornalista e professor

(Para meus alunos do Curso de Turismo da FSL, noturno, que me inspiraram este texto)

O turismo é mesmo uma atividade imprescindível para a vida dos cidadãos urbanos, principalmente os de hoje.
Mas... espera aí: eu falei vida? Vida só, não. Melhor refazer essa sentença, de outra forma.
O turismo é uma atividade imprescindível para a existência dos cidadãos urbanos, principalmente os de hoje.
Pensar o turismo apenas vinculado ao mundo concreto, afinal, é um raciocínio sem amplitude, eivado da expansão necessária para todos os que sonham grandes atividades – como devem fazer os turismólogos. O turismo é uma atividade que acompanha o homem por toda a sua existência, seja neste plano, seja em outros.
Em outros, sim senhor. Pois se todos os seres acreditam, piamente, que a morte é apenas uma passagem de uma vida a outra, de uma realidade a outra, de uma existência para outra, de um estado corpóreo, enfim, a um outro, não-físico mas corpóreo-espiritual, pergunta-se convenientemente: quem é que vai organizar essa viagem??? Respondemos: são os profissionais do turismo, ora!
E, dentro deste raciocínio (antes de tudo, lógico e coerente, porque apoiado numa realidade palpável e cabal), urge que se empreenda uma total reorientação no trato da morte (ou da passagem, comecemos a nos condicionar desde logo...).
E a primeira medida reorientadora diz respeito às funerárias. Funerária é um nome que não combina com essa nova transmutação semântica que vamos empreender. Por isso, as funerárias serão renomeadas – passarão a se chamar agências de turismo definitivo. E os seus funcionários também receberão igual tratamento. O gerente da funerária passará a assinar gerente de turismo definitivo; aqueles senhores que fazem de tudo, carregam castiçais, dirigem o defuntomóvel, trazem o crucifixo etc etc etc passarão a chamar-se operadores de viagem; o coveiro do cemitério terá na sua carteira assinado: facilitador de acesso.
Não é uma mudança simples. É preciso pensar em muitas coisas. Diria mesmo que é preciso uma reeducação, reformulação cultural no conceito que muitos têm da morte (digo, da viagem definitiva). Os nomes das funerárias também terão que mudar. Esses nomezinhos batidos, tipo Funerária Santo Antônio, Pax isso e aquilo estão com os dias contados. A partir dessa mudança, elas terão nomes mais condizentes com a sua nova postura. Assim, poderão se chamar, por exemplo: Agência de Turismo Definitivo Oásis de Tranqülidade, ou Agência Marco Pólo ou ainda Agência Paradise. Também mudarão os slogans para coisas como: se a morte é uma viagem, embarque em grande estilo (slogan da Alone Viagens Definitivas), ou então: Nós cuidamos de tudo para você ter a melhor viagem da sua vida (slogan da Last Travel).
A reorientação semântica tem que ser radical mesmo, senão não pega. O caixão passará a chamar-se boxtravel (assim mesmo, tudo junto, já viram caixão de duas partes?); a arrumação do morto passará a se chamar check in-check out; a reunião lúgubre que chamávamos antes de velório passará a se chamar sala de embarque (como nos aeroportos, inclusive com aquele apitinho e aquela vozinha da locutora chamando: “a sra Ambrosina estará embarcando neste momento e, desde já, agradece a todos os que vieram despedir-se dela”...); no cemitério (precisamos pensar num nome para ele, também: não me ocorre nada agora) as sepulturas não terão mais aquelas fotos horríveis com aquelas frases mais tristes ainda: aqui descansa... Terão, em vez disso, uma ou mais fotos da embarcada, vestida em trajes de viagem, com uma maleta na mão e acenando com a outra (essas fotos serão tiradas com bastante antecedência, oferta das agências). E os salmos serão substituídos por pedaços de frase de Marco Pólo, Júlio Verne, Amir Klink, Comandante Rolim, Fernando Henrique Cardoso... ou de demais homens igualmente viajados. Coisas que encerrem bem a importância e o prazer que é fazer uma viagem.
E, talvez o ponto mais difícil em toda essa reestruturação no conceito de morte: não deverá haver tristezas. Saudades, sim, pois que a saudade é um ingrediente de qualquer viagem. Todos deverão se alegrar pela viagem daquele que parte, pois terão a certeza de que, a despeito de não haver retorno, haverá no entanto encontro. Ele está apenas indo antes de você, que inexoravelmente também irá. E fique contente, pois tenha a certeza de que ele está indo muito bem assessorado. Pois de uma coisa não se deve abrir mão: em qualquer viagem, a qualidade do serviço turístico deve ser cinco estrelas. Até porque, neste caso, se houver serviço ruim, a reclamação pode ser eterna!...
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