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Contos-->A Ilha dos Vapores -- 12/01/2003 - 22:19 (Luísa Ribeiro Pontes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


No silêncio da noite selvática piam pirilampos mórbidos e as moribundas corujas da madrugada anunciam, em canto surdo, que esta noite renascerão dos pântanos as gazelas perdidas, perante a impavidez dos sapos que se filtram, irremediavelmente, pelas atávicas luas despidas. Sibilantes rosnam as serpentes, seduzindo faunos inocentes, enroscadas, elas, em flores de hastes decepadas. Da floresta encantada vem o fumo branco das putrefactas inalações das orgânicas substâncias que, após o jugo do sol, são arrefecidas por dura geada. Ouve-se decantado na bruma, o misterioso gemido daquela que vagueia pelos matagais, buscando a seiva dos pinhais e raras essências filhas do relento. Orvalhadas as ervas, frio o firmamento, brilha no céu azul luzente a miragem de onírica paisagem sem gente. Cortante e gélida, refracta-se no luar a imagem possante de um pensamento súbito. Onde o acidulante veneno do perene repouso que busco, busco, nos troncos putrefactos, na terra barrenta, nos limbos do esquecimento, regaços que entrevejo e as tocas dos animais, feridas, feridas, presas no seu recolhimento?
Nas alvuras perfila-se o atávico sonho do reencontro. Corro, salto, quebro raízes, esmago a terra consistente e voo em helénica graça para a findura do horizonte. Chego, páro, perlado de suor o rosto que a noite orvalhou, aceso o olhar que espia. E, barca que já partiu, dela ainda vejo a vela ondeante no mar deserto, vogando lá para os lados do luzente. Parte ou chega? A dúvida plana impávida de indiferença. Clamo ou silencio a minha presença na ilha dos vapores perenes? Revelo-me, ou confino-me à minha obscura e modesta deambulação na demanda da flor da paz, doce veneno de solidão? Palpita na escuridão um coração de gente. Decido em alvoroço. Grito, de um búzio faço voz e lanço o meu chamamento. Estou só na serena ilha dos vapores sufúreos. O barco plana um momento nas águas imponentes e de lá acena alguém com um mosquete. Vejo que o mar se abre agora em direcção à ilha e sei que é para cá que ele desliza.
Quem vem à minha ilha, assim tão de repente? Ao longe, os olhos quebram-se no enigma e a barca a avançar. Ao perto, os olhos não divisam mais do que um rosto na sombra de um chapéu. Sei que é afável o seu trato e sendo suave o seu gesto, dulcificada será a sua voz..
Um sopro frágil e quente, um doce roçar de mão insistente e os meus olhos que se cruzam com dois pares de outros ansiosos, ridentes e lindos, pedrinhas inocentes que brilham na semi-obscuridade: “Mamã, queremos papinha!”
Ah! Rio-me, interdita a voz e o pensamento. É o dia que começa! Salto o fosso, ergo-me a custo. E continuo a rir circunscrita na magia do sonho, aberta à pureza do dia.
O barco que chegou há-de atracar, mas as doces amarras invisíveis que me arrastam para a vida fazem-me lembrar que não há outro mistério para além deste, nem melhor ilha de paz que esta...
O barco ficou certamente por lá, parado, talvez pronto a levar-me no próximo sonho, para fora da minha ilha dos vapores serenos. Será que vou?





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