Quando senti chegar o tempo, vi o amor acenando pra minha saudade escurecida na janela do meu coração. Era tarde, o sol havia passado como numa eternidade, e o calor dos raios lúcidos da minha paixão chorou por ter escurecido tão cedo sem me dar o gosto dos beijos que não consigo recordar. Eu relutei em ir morrendo no caminho que traçou flores insistentes em negar a dar-me o teu perfume.
O jovem coração que se pôs a fitar entardeceres acreditando que um dia ressurgirias cavalgando na doçura de um sorriso, perdeu-se enlouquecido em devaneios de paixão sufocada por um adeus sem explicação.
As lágrimas que inundariam minha saudade secaram, só pude regar a insistência dos meus passos com os beijos que te guardei todos os dias.
Sobreviverei ainda que já brando o calor morno a mostrar-me o fim do caminho da vida. Ainda haverá poesia minha companhia tentando convencer-me de que não estás longe, de que o tempo não passou, que a canção é recente, que você ainda é menina e eu tua razão de viver, que ainda é presente, e que o sol reviverá amanhã e eu acordarei enroscado em você, e quando ao acordar souber que o calendário me desmentiu, ainda terei estas lembranças pra escrever e não verei o sol, não terei você e contarei mais um dia que sobrevivi sem forças pra chorar.
GIGIO POETA
LUIZ ANTONIO BARBOSA