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Contos-->A dor perigosa -- 13/01/2003 - 13:40 (Clodoaldo Turcato) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A dor perigosa

Eu mal acreditei quando me contaram:
_ O Netinho morto? E suicídio? Tiro de 38 bem no meio do peito.
Falava-se, à boca miúda, que o motivo fora traição.
_ Corno, sabe!
Eu, por sua vez, sabia que o casório com Valdira – esse é o nome de sua “ex” – não andava bem.Muita briga, ciumeira doida, instável... Mas daí chegar onde chegou!
_ Homem cego de amor não sabe o que faz... mesmo.
Naquele dia não foi trabalhar. As marcas do incisivo de Valdira machucavam sua mão.
_ Um murro bem dado. Merecido. Aquela safada de meia tigela!
Começou a beber no café, aliás, nem teve café, foi lapada medonha.
_ Só podia dá no que deu.
Sentado na cama em desalinho, não conseguia apagar a imagem chorona da esposa, negando qualquer interesse menos digno por outrem. Os gritos interrompidos pelas bofetadas arrebentavam seus tímpanos.
_ Em mulher não se bate, nem com uma flor. A mulher desse poeta não devia córnea-lo.
Mas não tinha nem certeza da traição e partiu logo agredindo.
Mesmo sendo como era, não tirava da cabeça aquele corpo. O rebolado daquela mulata é qualquer coisa. Na cama, Jesus!
_ O cheiro de fêmea se contorcendo vira a caraminhola da gente. Não há Cristão que resista, só se for frango, e olhe lá!
E pensar, só pensar, que outro homem tenha encostado um dedo naquela pele morena... Mesmo naquele choro todo, não teve dúvidas: bateu firme.
_ Coisa de macho! Homem que se preze não leva chifre.
E depois, do jeito que a Valdira é, quem diria que tivesse coragem de fugir; uma tonta cega de amor sincero, submissa a ponto de agüentar as “coisas de homem”, sem reclamar . Ta certo que bater nunca tinha batido, mas fugir!
_ Mulher gosta de apanhar. De vez em quando é até bom.
E agora ela jurava de pés juntos nunca mais olhar para sua cara. Odiava aquele monstro. Agüentou de tudo: mulheres, amigos, jogos, Gaviões da Fiel; até aquele negócio de ficar duas horas em cima para gozar e querer anal. Até ai tudo bem; coisas de casal, mas bater. Isso não.
_ Xi! A mulher embestou de vez. Parece que não volta mesmo.
Remediar como?
Chorar, ajoelhar, jurar mudança, começar do zero. Além de corno...manso? Não, não e não. Não com o grande Netinho. Mulher com ele era diferente. Mas não era qualquer mulher. E o que iriam dizer os conhecidos? “O Netinho afrouxou.” Só de pensar na galera mangando no botequim o arrepiava. Mas passar a noite só?
_ Os amigos não dormem contigo, filho.
Como ficava fria aquela cama. Fria e grande, grande demais, pô!
Ela foi pra casa da mãe, só podia.
_ Vai, te humilha. Liga; o que custa? Ninguém vai saber mesmo.
Voltar? Nem pensar. Ta pensando o quê? Bate depois arrepende? Me esquece, me esquece e me esquece...pi!pi!pi!
_ Tá arretada! Ela não deixa de tá certa. Tenta de novo, vai!
Pelo visto falava sério. Caramba! Que mancada. Já começava a se arrepender de sua “atitude de macho”. Precisava dela, mesmo naquela condição. A cada copo ficava mais convencido.
_ É, faz parte da estória do mundo se beber pra depois fazer fiasco.
Agora, de arma em punho se tornaria convincente. Ela não negaria à volta, sob a possibilidade de se tornar culpada por uma morte. Morte de amor; bem romântico, pra quem vê de fora.
“Por mim pode se atirar no óleo quente”.
_ Resposta pouca animadora para uma certeza de volta, hem!
Duas vezes. Dois telefonemas e duas respostas, gradativamente, negativas. Esse gole foi grande. Quase tropeçou nas garrafas. Ela desdenhou seu blefe, seu amor arrependido, seu suplicio. Uma terceira investida: desonrosa, crucial, necessária...
Ela valia a pena. Valia o risco.
_ Felicidade na cama vale até um olho fechado.
Será? Valdira valia tal exposição? Já não tinha dúvidas, diante das poucas certezas que ela demonstrava. Apelaria ao seu bom coração, tendencioso ao perdão, para faze-la voltar. Se humilharia, de arrasto se preciso fosse. Que se danem aqueles borrachas do bar. A cana aumentou sua coragem.
_ Com cachaça na cabeça tudo fica fácil e bonito.
Disse que estava com saudade. Nada!
Disse estar arrependido. Nada!
Ia mudar. Nunca mais encostaria a mão nela. Nada!
Proibições? Nem pensar. Nada!
Se não voltar, eu me mato. Ta ouvindo? Nada!
Vou atirar!
Por mim.
O zunido ensurdecedor do telefone decretou a sentença.
_ Pra mim foi acidente. O cabra tem que ser muito doido pra atirar onde atirou.
Mas atirou.
Agora vendo a polia descendo vagarosamente o caixão, me veio: Dor de amor é dor perigosa.
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