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Artigos-->Benedito rádio -- 26/09/2013 - 00:31 (Brazílio) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Nosso rádio Philips era preto, grandão, acomodado numa



até elegante moldura de madeira, e sua sintonia era



seu calcanhar de aquiles. Frágil e caprichosa. Papai



dizia que era a antena, que era externa, com uns fios



que se projetavam da janela de nossa varanda para o



telhado, o quintal afora.



E havia horas melhores para se sintonizar, no entanto:



pena que boa parte desse tempo ou era de sono



compulsório, ou daquele programa chato, repetitivo: A



Voz do Brasil. E não tinha escapatória: deu sete da



noite, babau. Uma hora inteira de avisos aos



navegantes, comunicados oficiais dos poderes



constituídos e outros temas de pouco alcance e menor



agrado. Tinha umas `rádia` estrangeiras que podiam ser



alternativa, em ondas curtas, mas os blá-blá-blás eram



coisa de Satanás, além de Anaz e Caifaz. Não



entendíamos bulhufas.



Eram quatro os botões do comando: o de ligar, o do



volume, o da sintonia e o das ondas. O de ligar, mais



à esquerda do ouvinte, fazia um ressonante `poum!`



tanto para ligar quanto para desligar. Mas era só o



barulho, não fedia nem cheirava. E cabia ao ouvinte



esperar uns poucos segundos para a coisa esquentar. O



botão mais acionado era o da sintonia, o terceiro.



Tanto nele a gente mexia, que volta e meia o



cordãozinho interno que acionava uma lingueta metálica



externa no topo do aparelho e que coincidia com as



determinações do `dial` (uma placa de vidro com os



nomes das estações radiodifusoras em umas seis ou oito



colunas) emperrava, saía dos seus trilhos internos e



se embolava todo. Era preciso então, abrir o rádio por



detrás e fazer as correções, manobrando-se



cautelosamente as mãos entre aquele emaranhado de



fios, caixinhas e válvulas. Tinha uma delas que se



destacava das demais: bojuda e compridona era a



mãe-de-todas as válvulas. Menino não podia tocar



naquelas coisas. No que obedecíamos, mas espiar e se



extasiar com aquele mar de combinações não colocava



problemas. Desde que guardada uma certa distância e



que palpites não perturbassem o corregedor da vez.



Uma vez, apareceu lá em casa o Benedito, moço, vai ver



que adolescente então, alto, magro e bem alinhado. Um



gentleman. Era filho de um compadre de papai, outro



Benedito, ferroviário e vicentino.



Ao Benedito filho, cabia fazer a limpeza no rádio e



corrigir a linha das estações. Ele chegou com uma



confiança imperturbável aos meus anseios de



proximidade para ver as vísceras do nosso Philips.



Acho que até fui instado - por papai - a tomar



distância, e deixar o moço trabalhar em paz. Se não me



engano ele era aprendiz atencioso e reputado naquele



setor. Tivera prática com um tal Vicente do Rádio, lá



da cidade, e agora, no povoado do nosso Brumado, fazia



valer as lições hauridas com o mestre Vicente.



E o Bené se concentrou como pode no seu trabalho - eu



mantido a distância para se evitar qualquer ato falho.



Era uma tarde, de um sol morno mas brilhante. Menos só



que meus olhos naquele fascinante aparato de se



desnudava nas mãos do novato.



O golpe fatal no entanto veio quando o Bené, sem se



dar conta do risco, virou o aparelho de lado e o



`dial`, de vidro, apenas encaixado no topo daquele



caixote, se projetou rumo ao vermelhão. Sem no olvido



cair, o barulho até hoje me ressoa aos ouvidos.



Centenas de lasquinhas e o prejuízo vitral.



Benedito, lívido, assumiu o erro, embaraçado, mas sem



contestação. Ficou de comprar um reposto logo que



fosse à capital. E o fez. Não achou um igual ao



original, mas ninguém estava ali para fazer



comparações, nome de rádio por nome de rádio, tim-tim



por tim-tim. O importante é que se encaixava bem e o



cordãozinho voltara a acionar a lingueta pra lá e prá



cá. Até que um novo capricho o desalojasse de seus



trilhos. Mas aí o Bené já estava escolado.


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