Posso amarrar um conto na alça do intestino de outro conto. Entrelaçar cem cabeças de alho, e a coletividade torna-se uma coisa só, uma réstia. Posso fazer um coxonilho, unindo entre si muitos retalhos. E se o chamarem de baixeiro, nem quero saber se a comodidade vai favorecer cavalo ou cavaleiro. O importante é que se preste para alguma coisa.
— O coxonilho passou pelas mãos deligadas de um artesão. Mas para ser baixeiro, qualquer pano velho serve. Além do mais, deves escolher o público-alvo: cavalo ou cavaleiro. Ou queres ressuscitar Marcabru?
— Vendo colcha de retalhos, tecida com os sonhos do povo. Vendo o canto do galo, o ciscar da galinha...(dos outros.) Meu galo não inicia o canto. Apenas levanta o canto que vem de outro terreiro. Vendo pintinhos de galinha, cruzada com o galo do vizinho. E ponho cavalheiro colhendo lírio do vale com a pastora. ‘Viva o ovo! Viva a galinha! Se comer a galinha, não tem o ovo! Se comer o ovo, não tem a galinha! Então, coma farinha, meu povo!’
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Adalberto Lima - fragmento de Estrada sem fim...
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