AO GOSTO SURREALISTA
Viver é difícil quando tudo está escondido,
Ou perdido nas fendas da Opressão.
Várias são as maneiras para fingir viver,
E o Tédio ri embriagado,
Na tolice e pusilanimidade humana.
Ao Deus-Onírico peço permissão,
Para escrever em versos e expulsar
Todo sentimento rancoroso,
Deste tempo negro que oprime
E transforma a vida num fardo.
Dos confins da mente, da alma insana
Vem a palavra inconseqüente e incoerente,
Insolência gramatical e iconoclastia verbal,
Não calar é significante em um momento
De palavras que no fundo nada dizem.
Vai cantando o homem de pé na lama,
Vão brincando os engravatados vendados,
Distribuindo moedas aos ianques especuladores.;
Meretrizes dançam para vender suas “xotas”,
É o tempo de glória, alegre e festivo (?).
Disseram que o homem bêbado no Café Poético
Era vulgar e incompetente, nada sabia de versos.
Ele levanta e responde: “Escrevo sob efeito vinoso,
Sou grato a Baco e às musas
Que inspiram meus versos ébrios e furiosos!
A moralista se masturba com culpa,
O pregador sodomiza sua empregada do interior.
Ah Hipocrisia! Seus olhos cintilam com pudor.
O leitor do Evangelho ontem copulou o travesti,
E a madre superior toca toda noite as noviças.
Moral ignara! Cristo foi homem!
‘Blasfemador’ grita o pastor pós-orgasmo,
Herege’ grita o bispo fodendo no altar,
‘Sacrílego’ grita a madre com cheiro vulvar das noviças.
Hipocrisia tu és a mãe do mundo judaico-cristão!”
E o homem bêbado é poeta e observador,
De um mundo em que não há Liberdade.
Os moralistas pregam o que não fazem,
E consideram o ébrio poeta um lunático,
Vulgar e ateu perdido rumo ao inferno.
O bardo embriagado não liga para o final,
Ele vê o tigre que salta sobre a bela nua no vale,
A navalha que corta o olho do cão andaluz,
Os relógios escorrendo como água,
E um grito de gozo neste Teatro da Crueldade.
Ele não quer dominar a Máquina do Mundo,
Apenas viver e amar com a Liberdade,
Idéia própria de um bêbado sonhador,
Que blasfema e quebra altares sem culpa,
Brinca sem medo com as palavras e dedica versos
ao Deus-Onírico.
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