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Cronicas-->27. SEM PENA DO MÉDIUM -- 06/10/2002 - 11:29 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Era como aspirava um dia transmitir minhas comunicações do etéreo, já que, por meu intermédio, muitos sofredores transmitiram vibrações pesadas, deixando-me exausto a cada noite de trabalho mediúnico, no centro espírita.

Fique bem claro que não pretendia, de fato, chegar a esse ponto, porque significaria que estaria numa área da erraticidade destinada aos espíritos inferiores. No entanto, dizia aos colegas que me desforraria, assim que pudesse, e todos riam, pensando que se tratava de mera facécia.

- Eles não têm pena de mim. Não vou ter pena também.

Ajudava nas tarefas mais sacrificadas das sessões, recebendo os obsessores mais empedernidos, dando-lhes voz e gestos, trejeitos faciais, incapaz de fazer-me respeitado. Não fossem os diversos diretores de reunião interferirem, com a ajuda dos mentores da espiritualidade, e eu talvez me visse possuído.

Já do lado de cá, o pouco que havia de desejo de realizar a promessa insólita terminou na primeira vez que me levaram a presenciar uma reunião mediúnica daquele tipo. As criaturas eram tão horrendas, tão miseráveis, tão de dó, que, pela primeira vez, deixei escorrer lágrimas sinceras de compaixão.

Quando vivo, muitas vezes encarava tais entidades como via os facínoras e criminosos, cujos rostos se estampavam nas páginas dos jornais escandalosos, juntamente com a descrição de seu caráter e a narração de seus feitos macabros.

Não preciso dizer que algumas daquelas faces se reproduziam nos rostos dos sofredores à minha frente, quase sempre fluidamente atados para não causarem danos aos incautos e ingênuos. Não senti medo, jamais, acreditando-me resguardado pelos guias e protegido pelo meu passado de esforços contínuos para prestação de serviços tidos por mim como evangélicos.

Eis porque hoje não me aventuro a provocar nenhuma reação intempestiva do escrevente que me apanha o ditado. Com certeza, não estou passando-lhe toda a segurança a que se habituou com as mensagens de criaturas melhor aparelhadas que eu. Mas também não estou pressionando-lhe a mente para formular o quadro de meu estado espiritual.

Eis tudo, no que tange ao que pretendia escrever a respeito da mediunidade. Passo agora a outro ponto igualmente importante para mim: o fato de não ter conseguido convencer nenhum dos parentes mais chegados a iniciarem-se, ao menos, na doutrina espírita. A esposa levou os filhos para a Igreja Católica. Meus irmãos frequentavam templos protestantes, com exceção de um que se dedicava aos trabalhos e obrigações em um terreiro do Candomblé. Meus pais partiram para cá bem cedo, aqui chegando sem nenhuma preparação quanto à realidade que enfrentariam, tanto se afeiçoaram à idéia de que iriam festejar com os anjos sua entrada no paraíso.

Era o único a manter-me íntegro e fiel a Kardec, com as restrições já apontadas. Não era estudioso, pois gostava da parte prática. A leitura nunca foi o meu forte. Quando a turma se reunia para as discussões filosóficas, eu ia providenciar o café, ou arrumar os livros da biblioteca, ou preparar o material para a próxima exposição. Até ir tirar o pó dos móveis era desculpa para não permanecer ao pé dos estudiosos.

Durante a vida, acreditava-me com inteligência inferior, julgando que apenas quem não raciocinava muito é que tinha condições de receber comunicações que significassem o exato pensamento do espírito.

Houve até um dia que ousei sugerir isso aos colegas, mas precisei ouvir que determinados médiuns com extensa produção psicografada impressa, com muitas edições de largas tiragens, não poderiam ser tidos na conta de insignificantes quanto ao intelecto. Ao contrário, disseram-me que, quanto mais inteligente e culto, maior o domínio que exerceriam sobre os comentários dos espíritos, não permitindo que os menos habilitados pudessem oferecer contribuições de caráter inferior. E comprovaram-me com passagem que encontraram em Kardec naquele mesmo instante.

O que me impressionou mais no episódio foi o fato de que o amigo que encontrou a referência o fez automaticamente, abrindo o livro na página certa, como que impulsionado por mão invisível. Não me ocorreu que suas palavras é que poderiam estar sendo inspiradas, o que seria mais lógico de admitir, já que sempre existe a possibilidade de abrir-se um livro em determinado ponto, quando existe muita familiaridade com o conteúdo.

Perguntei ao frade da mensagem anterior se ele teria considerado o fato milagroso, quando vivo, e ele me respondeu:

- No exercício de meu sacerdócio, não veria no episódio nada que recomendasse a canonização do autor. Contudo, se ocorresse em momento crucial da comunidade, perante todos os paroquianos e mais o clero presente, com certeza iria enfatizar a ajuda extraordinária de Deus, que estaria, sem dúvida, para mim e para os outros, por trás de semelhante proeza. Mas não deixaria de notar que as palavras que acompanhariam o gesto estariam sendo sopradas pelo Alto.

Achei que não estava sozinho na minha interpretação esdrúxula e elementar, satisfazendo-me a análise de que, provavelmente, estaria certo na conclusão de que os menos inteligentes estariam mais aptos a captar comunicações mais grosseiras. Se tivesse exposto tal pensamento, acho que ninguém me contestaria. Mas a tal resultado só vim a chegar muito tempo depois, em outra condição existencial.

Quero deixar claro que foi esta presuntiva conclusão que me trouxe perante o leitor, porque tal esclarecimento pode chegar de forma oportuna a alguém que se satisfaça lendo textos menos importantes, como os nossos, tantas são as pessoas que se enfaram com os silogismos do codificador, o que tive bastante tempo para lamentar no que se referiu a mim mesmo.

Em suma, relendo todo o texto agora transcrito, acho que verdadeiramente aqui estive sem nenhuma pena do médium.

Orem por mim, por favor.

Mui modestamente,

Claudionor.

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